Era uma segunda-feira de manhã, no Setor O em Ceilândia, quando João*, 13 anos, saiu de casa para comprar balinha. O menino não precisava andar mais de 300 metros para chegar à padaria, próxima da casa onde morava com a mãe. O percurso, feito com frequência, normalmente tomava 15 minutos da rotina diária do garoto. Naquele 24 de setembro de 2012, ele demorou 72 horas para voltar aos braços da família. No meio do caminho, o estudante cruzou com um pedófilo que o desviou do caminho e o trancou em um sobrado. Amigos imprimiram 2 mil cartazes e 30 mil folhetos com imagens do garoto para distribuir nas redondezas. Mas ele só foi encontrado pela polícia quando uma vizinha do acusado reconheceu o menino após ver a foto do sequestrado estampada na página do Facebook Ceilândia Muita Treta.
A experiência transformou os meninos. Eles entenderam que poderiam se mobilizar para levar melhorias à região. ;Somos uma voz importante dentro da comunidade e entendemos a responsabilidade que vem com isso;, analisa Lopes. A afirmação pode soar exagerada, mas não é. Em vez de reclamarem para a administração local, os moradores avisam ao Ceilândia Muita Treta sobre os locais que necessitam do asfaltamento de buracos, onde o recolhimento de lixo não passa e até quando alguém é assassinado. ;A população perdeu a confiança no governo e nas autoridades, estamos abandonados há muitos anos. Falta de tudo aqui e só quando juntamos as nossas vozes alguma melhoria acontece;, acredita Israel.
Essa situação é recorrente em Planaltina, por exemplo. A página Planaltina da Depressão, que também usa humor para reclamar dos problemas sociais, conquistou 19.300 seguidores. A página oficial da Administração Regional do local tem apenas 5.563. ;Temos o nosso canal, mas não ignoramos os anseios da população. Obviamente, consultamos as páginas comunitárias, como referencial. Temos obrigação de verificar a veracidade;, explicou o setor de comunicação, em nota.
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; Ceilândia Muita Treta (32 mil seguidores)
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; Planaltina da Depressão
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*Nome fictício
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