Cidades

Pouca informação é uma das causas para baixo número de doadores de medula

Na Câmara Legislativa, parlamentares tentam emplacar projetos de lei sobre o tema

postado em 07/04/2015 06:08

A campanha para achar um doador para Catarina, que está há 1 anos e 8 meses na fila do transplante, continua

Colaborou Flávia Maia

As chances de encontrar um doador de medula óssea compatível são bastante raras: em média, uma em cada 100 mil. A espera é longa e deixa famílias inteiras reféns do sofrimento das filas. De janeiro a março deste ano, a Fundação Hemocentro de Brasília cadastrou 1.074 pessoas no Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome). Ainda é pouco. A falta de informação, o medo do procedimento para a retirada das células e a ausência de políticas públicas afastam possíveis doadores.

O transplante de medula óssea é indicado para pacientes com leucemia, linfomas, anemias graves, imunodeficiências e outras 70 doenças relacionadas aos sistemas sanguíneo e imunológico. Quando um paciente necessita de transplante e não tem um doador na família, é feita uma consulta ao Redome. Se for encontrado um doador compatível, ele então será convidado a fazer exames complementares para realizar a doação.

O Hemocentro tem em sua lista mais de 28 mil nomes de candidatos à doação. Só no ano passado, foram, em média, 3,9 mil novos cadastros. Mas os números estão abaixo da necessidade. Ana Clara Pádua Novaes, 1 ano, tem leucemia e ainda não encontrou doador. A mãe da garota, Marciana de Pádua Frutuoso, 32, usa as redes sociais para mobilizar amigos na tentativa de encontrar o sonhado doador compatível. ;A falta de informação é uma barreira muito grande a ser ultrapassada. Muita gente não sabe como se cadastrar nem como é feita a doação;, lamenta a dona de casa.

Na internet, a campanha em busca de um doador para a menina Catarina Melo Maciel, 6 anos, continua. Em três dias, a família recebeu centenas de mensagens solidárias. Há 1 ano e 8 meses na fila de espera, a expectativa agora é encontrar o doador compatível. Catarina tem um tipo agressivo de leucemia (LLAT).

A hematologista e hemoterapeuta da Fundação Hemocentro de Brasília (FHB) Flávia Piazera concorda que a falta de informação é uma barreira para a prospecção de doadores. Segundo ela, ainda existem muitos mitos em relação à doação. Ela explica que o procedimento é simples e que o doador recebe alta no mesmo dia. ;Muitas pessoas acham que a retirada é feita na medula espinhal, mas não é. As punções são feitas próximas ao osso da bacia;, explica. Atualmente são dois tipos de procedimento para a doação. O mais tradicional é a retirada de células pela bacia (veja arte). Há também o método chamado aférese, no qual a medula é retirada por via endovenosa. Após análise de paciente e doador, os médicos determinam qual o melhor procedimento a ser adotado.

Flávia alerta que os candidatos devem manter sempre o cadastro atualizado, uma vez que o registro fica armazenado por muitos anos. ;Uma dificuldade, enfrentada até pelas famílias, é que, com o tempo, as pessoas mudam o telefone, o endereço e, quando a gente precisa, não consegue localizar, algumas pessoas até desistem.;

Projetos de lei
As fracas políticas públicas colaboram para a baixa procura de doadores. Na Câmara Legislativa, parlamentares querem emplacar projetos de lei que popularizem a doação. A presidente da Casa, deputada Celina Leão (PDT), deseja que a tipagem sanguínea HLA (abreviação em inglês para Antígenos Leucocitários Humanos) de recém-nascidos seja feita logo após o parto. A medida visa ampliar o banco de dados do Hemocentro. Já a deputada Luzia de Paula (PEN) quer colocar o assunto nas salas de aula da rede pública de ensino.

Para Celina, é preciso divulgar o tema para diminuir a fila de espera. ;Temos que garantir a possibilidade de tratamento. O banco (de dados) pode ajudar as famílias no sentido de crescer as possibilidades de se encontrar o doador compatível;, diz a parlamentar. Os projetos serão apreciados em 15 dias.


Outro método de cura

Pela aférese, as células são retiradas por via endovenosa. Antes de realizar esse procedimento, o doador precisa tomar um medicamento por cinco dias para estimular a multiplicação da medula óssea. As células migram para as veias e são filtradas. O processo de filtração dura em média quatro horas, até que se obtenha o número adequado. O medicamento aplicado antes da doação pode causar dores no corpo e fadiga.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação