Cidades

Ilustradores do Jardim Botânico ajudam no estudo de preservação do cerrado

postado em 11/04/2015 08:10

Thereza Carvalho ensina que a ilustração científica não dá muita liberdade, mas que é possível reconhecer o traço do artista

Pincéis seguem à risca as linhas que a natureza criou. A aquarela dá cor e textura às folhas, às flores e aos frutos, a ponto de parecerem saltar do papel. Mais do que deleite visual, a ilustração científica é uma técnica que permite o registro de espécies e animais como suporte à pesquisa. Para o cerrado, a representação gráfica atua também como inventário de fauna e flora, ameaçadas pela expansão urbana e pelas áreas de cultivo do agronegócio. Diante do risco da perda da biodiversidade do ecossistema, o trabalho feito no Jardim Botânico de Brasília (JBB) desafia o tempo para registrar o máximo de exemplares possível antes que desapareçam.

Transpor para a prancha os detalhes vegetais é empreitada árdua e demorada. Um recorte pode demorar até 3 meses para ser finalizado, pois são aplicadas diversas camadas de aquarela até que se tenha a aparência semelhante à planta. A tinta é bastante fluida e, para que o desenho tenha a forma adequada, usa-se o pigmento mais espesso, pouco diluído em água. O manuseio da técnica, por si só, já é um exercício difícil. Quando aliado à técnica científica, torna-se mais minucioso. ;O primeiro passo é aprender a desenhar mesmo. E, então, desenvolver o senso de observação. É importante entender um pouco de botânica também;, explica a ilustradora do JBB Thereza Carvalho, 50 anos. ;A ilustração científica é um desenho muito técnico, em que não é permitido tomar muita liberdade;, completa a servidora. Isso porque, apesar da tentação em dar a interpretação pessoal, ângulos, posições e tonalidades devem obedecer, o mais fielmente, ao original. ;Mas dá para perceber o traço, a assinatura de quem ilustra. O peso artístico é muito importante, mas não se pode deixar que aquela seja a expressão pessoal. A técnica tem que ser respeitada;, analisa Thereza.

Por isso, a ilustração caminha entre dois campos: a arte e a ciência, conforme explica o professor e ilustrador Álvaro Nunes. Ele desenvolve o trabalho também no Jardim Botânico. ;É arte e, ao mesmo tempo, ciência. A descrição pictórica é feita toda respeitando a estrutura morfológica da planta, conforme a taxonomia;, descreve. Assim como a arte, tem que instigar o observador. ;A ilustração é um veículo para despertar a comunidade. É muito importante que essas iniciativas ; e as exposições ; mostrem a importância das espécies que habitam o cerrado;, defende. Para Nunes, quanto mais se retratar o bioma, maiores as chances de ele ser preservado. ;Os registros são panfletagem extremamente elegante;, comenta.

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