Cidades

Atrações dos becos da W3 são pouco conhecidos entre os brasilienses

Nem só de lixo e insegurança vive a famosa avenida. Em algumas quadras, entre os blocos comerciais e os prédios das 700, há recantos escondidos

postado em 16/04/2015 07:42
Dono de uma loja de instrumentos musicais, Milton fez do beco uma rua de pedestres
Há um lugar-comum repetido desde o nascimento de Brasília: a capital não tem esquinas. Realmente, a cidade foi planejada para ser setorizada, plana e moderna, praticamente sem cruzamentos. A esquina, nas grandes metrópoles, também significa conversa de bar, essência artística, miscigenação cultural. Na falta de esquinas, sobra vida nos becos do Plano Piloto. Na W3 Norte, entre o bloco comercial e os prédios das quadras 700, famílias, artistas e lojistas ocupam o que seria um ponto abandonado. Transformam o lixo e a sujeira em uma rua só para pedestres, com vasos de plantas, grafites e outras pinturas.

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Ao pensar em beco, involuntariamente, cria-se uma ideia de lugar descuidado, no qual o lixo e os entulhos são abandonados e as pessoas têm medo de passar pela falta de iluminação. Alguns pontos da W3 Norte ainda sofrem esse estigma. No entanto, em outras quadras o visual é diferente. Na 706 Norte, uma loja de instrumentos musicais decidiu expandir o comércio e englobou o prédio de trás. Na reforma, feita há dois anos, os donos integraram o beco. Instalaram piso, pintaram as paredes com o grafite de um artista de São Paulo e colocaram plantas. ;Quem vem à loja se surpreende com o beco. Sem querer, acabam conhecendo. Se fosse mais bem aproveitado em outros pontos, seria melhor;, comenta o supervisor Milton Siqueira, 50 anos.

Um grupo de artistas se uniu para montar um centro cultural em uma agradável e ampla casa
Como bom brasiliense, integrante de uma banda de rock, se não fosse pelo trabalho, Milton jamais saberia que a W3 tinha um beco. ;Até que passa muita gente aqui. Mas só conhece quem mora;, complementa. Ali, entre um prédio e outro, é possível encontrar pequenas residências. Pintadas de cores diferentes, algumas abrigam famílias há anos. A estudante de medicina Ana Amélia Damasceno, 25 anos, desde que se entende por gente mora na 707 Norte, na casa de cor laranja, número 45. Todo o prédio é da família. O pai, Joares de Carvalho Parreira, 56, é dono da oficina que fica na parte de trás. A avó paterna mora no andar de cima. ;Quem nunca veio aqui fala que parece uma casa de bonecas. Meu mundo durante muitos anos foi isso aqui;, diz a mãe e advogada Denise Damasceno Parreira, 51.

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