postado em 03/05/2015 08:06
Todas as cadeiras do pronto-socorro estão ocupadas. Do lado de fora, há quem aguarde desde a madrugada, em pé ou sentado no chão, com a esperança de ser chamado. Em uma das paredes da sala ; cheia de rachaduras e com a pintura descascando ;, um cartaz avisa: ;Apenas um clínico médico está atendendo hoje. Por isso, pacientes em estado gravíssimo serão priorizados;. Uma mulher desmaia na fila de espera, mas, fora o alvoroço dos familiares, nada acontece. Os funcionários da unidade já estão sobrecarregados. Para alguns, a situação pode parecer absurda, mas retrata o cotidiano de hospitais e postos públicos do Distrito Federal. A pane geral que tomou conta da saúde da região nos últimos anos parece se agravar a cada dia, mesmo com uma nova gestão. Com a atual crise econômica do governo local, as perspectivas de mudança no setor são ainda mais preocupantes: do orçamento de R$ 6,3 bilhões, 81% estão comprometidos com pagamento de recursos humanos, restando 17% para custeio de equipamentos, remédios e infraestrutura, e 2% para investimento.
[SAIBAMAIS]Durante a última semana, a reportagem visitou 21 unidades da rede pública de saúde, entre hospitais regionais, postos, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e farmácias de alto custo, espalhados por 15 regiões administrativas. Nas emergências superlotadas e nas portas dos consultórios, dezenas de pacientes foram entrevistados. Horas de espera, poucos médicos e edifícios em condições precárias são apenas algumas das dificuldades enfrentadas por quem depende do governo para cuidar do bem-estar. Os profissionais da área também lidam diariamente com inúmeros desafios. O Correio Braziliense conversou com funcionários, inclusive de cargos de confiança, que relataram como é trabalhar com escala incompleta e recursos escassos. Por medo de represálias, muitos optaram por não se identificar. Até quarta-feira, o jornal publica série de reportagens sobre o cenário da saúde no DF, os principais dilemas e o reflexo deles na vida dos brasilienses.
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Entre os problemas levantados, a falta de profissionais para completar as equipes de hospitais e postos é um dos que afetam mais dramaticamente a qualidade do atendimento. A Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) informa que, no último levantamento realizado, constatou-se um deficit de 5.139 profissionais na rede pública, entre médicos, enfermeiros, dentistas, especialistas, técnicos e auxiliares. De acordo com o órgão, a atual gestão trabalha obedecendo a Lei de Responsabilidade Fiscal para sanar o deficit e, por isso, os investimentos são limitados. Uma das medidas para minimizar o problema foi a contratação de 205 profissionais, realizada em abril. ;Há um edital em andamento para contratação de 30 pediatras, 44 enfermeiros e 131 técnicos de enfermagem, mas eles têm 30 dias para tomar posse e ainda podem pedir para passarem para o último lugar da fila. Então, isso pode atrasar o processo;, complementa o secretário da pasta, João Batista de Sousa.
Quem sofre mais com o problema é a população. As imagens que podem ser presenciadas nos prontos-socorros do DF são revoltantes. Enquanto a reportagem visitava o Hospital Regional do Gama (HRG), uma mulher passava mal em uma das cadeiras, inconsciente e sem parar de tremer, mas não recebeu nenhuma atenção. Os familiares da paciente ; a dona de casa Simone Muniz, 34 ; tentaram conversar com a equipe da unidade, mas receberam apenas negativas. ;Disseram para a gente que há médicos, mas, como há emergências piores, não podem fazer nada agora;, disse a cunhada da mulher, a autônoma Silvana Xavier, 32.
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