A dona de casa Francisca França, 51 anos, espera há mais de duas horas em frente à sala da ortopedia, no Hospital Regional do Gama (HRG). O corredor está semiescuro, devido às várias lâmpadas queimadas, mas ainda dá para enxergar claramente as paredes e o piso rachados, lembrando um prédio abandonado. A moradora do Jardim Ingá quebrou um dos dedos do pé há três semanas e recebeu os primeiros socorros na unidade de saúde. No entanto, precisou voltar porque o gesso que colocaram no machucado estava torto. ;Tive que comprar meu próprio esparadrapo, porque os médicos não têm. Falta até dipirona;, conta a paciente. Outras pessoas aguardam ao lado, em situação parecida. Nos diversos cartazes colados nas paredes, com avisos sobre vagas de consultas esgotadas, seções com poucos médicos e até banheiros interditados sem previsão de reparo, alguém pichou, com uma caneta, mensagens de revolta.
Indignação é, de fato, o sentimento que impera entre aqueles que dependem da rede pública de saúde, como mostra a segunda reportagem da séria que revela o sucateamento da saúde no DF. E com razão. Com apenas R$ 3,7 milhões para arcar com a manutenção predial de todas as unidades de saúde ; incluindo consertos de equipamentos, substituição de pavimentos e telhas, impermeabilização, entre outros ;, o governo tem poucos recursos para os cuidados necessários. De acordo com o secretário de Saúde do Distrito Federal, João Batista de Sousa, um plano de revitalização de todos os hospitais está sendo elaborado, mas ainda não pode ser levado adiante, em respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. ;Como não há previsão orçamentária, as obras poderão ser realizadas apenas a partir de 2016;, acrescenta. Entre as unidades com pior estrutura, ele mencionou o HRG e os hospitais regionais de Ceilândia e Guará. Mas os problemas se estendem a todas as cidades. Equipamentos quebrados e carência de remédios são outras dificuldades enfrentadas diariamente por pacientes e profissionais de saúde.
Em locais como o Hospital Regional de Planaltina (HRP), o cenário é preocupante. A empregada doméstica Elizete Lopes Dias, 46, foi ao local com a filha Maria Luiza, 10, que estava com diversas dores. Com a falta de cadeiras, precisou ficar esperando em pé. ;Os médicos são bons, mas a estrutura precisa melhorar;, reclama. Segundo funcionários, a superlotação obrigou a equipe a adaptar algumas salas para receber mais pacientes. ;Um espaço que estava destinado para uma sala de prescrição, por exemplo, foi transformado em enfermaria, só que não tem ventilação nem janelas;, conta o técnico em enfermagem da unidade Valmir Caroba, 36. A SES-DF nega a situação, mas informa que mudanças estruturais precisarão ser feitas no prédio por questões logísticas.
Desde o extremo da unidade federativa até o Plano Piloto, os problemas se multiplicam. No Hospital de Base do DF (HBDF), dois dos oito elevadores da internação e dois dos quatro do pronto-socorro estão quebrados, obrigando doentes e profissionais de saúde a usarem as escadas. Segundo a SES-DF, os aparelhos estão em processo de modernização e devem voltar a funcionar em breve.
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