Cidades

Neto de Vilma, sequestradora de Pedrinho, é preso com documentos falsos

O jovem estava com duas identidades falsas e cartões de crédito em nome de outras pessoas. Em depoimento confessou estar em Goiânia para aplicar golpes. Condenada também por falsificação, Vilma será chamada para depor

Renato Alves
postado em 22/05/2015 09:10

Policiais militares prenderam um neto de Vilma Martins Costa, 59 anos, que ficou conhecida nacionalmente pelo sequestro de dois bebês, no carro dela com identidades falsas e vários cartões de crédito em nomes de outras pessoas. O desempregado Carlos Henrique Martins de Carvalho Sobrinho, 25, confessou, em depoimento numa delegacia da Polícia Civil goiana, que estava em Goiânia para aplicar golpes.

PMs o abordaram na noite desta quinta-feira (21/5) com duas identidades falsas, no Setor Jardim América, na capital de Goiás. Carlos estava em um Renault Duster pertencente à Vilma. Com ele e dentro do veículo, foram encontrados dois documentos originários de Ribeirão Preto (SP).

Primeiro, Carlos Henrique disse aos militares que morava em Araguaína (TO) e estava em Goiânia para visitar a mãe. Mas, após os PMs encontrarem duas identidades falsas com o rapaz, ele acabou confessando estava na capital goiana para aplicar golpes.

Os militares levaram Carlos Henrique ao 7; Distrito Policial de Goiânia. Após vasculharem o veículo, segundo o delegado Manoel Borges, agentes encontraram os cartões de crédito em nomes de outras pessoas. Policiais civis vão investigar se esses cartões também eram falsos ou roubados.

Após o depoimento e o registro da ocorrência, Carlos Henrique foi levado para uma cela da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH). Indiciado por uso de documento falso e falsa identidade, ele pode pegar de 3 a 9 anos de cadeia caso seja condenado. A princípio, Vilma Martins não tem relação com o crime, segundo os investigadores. No entanto, ela será chamada para depor.

Vilma foi condenada por raptar dois recém-nascidos e por falsificação e uso de documentos. Um dos bebês é Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho, levado da maternidade do Hospital Santa Lúcia em 1986. O outro é Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva, roubada de uma maternidade de Goiânia, em 1979. Após a Polícia Civil de Brasília encontrar Pedro morando com Vilma, em Goiânia, a Polícia de Goiás descobriu que Roberta Jamilly Martins Borges, que ela também criava como filha legítima, era Aparecida Fernanda.
O jovem estava com duas identidades falsas e cartões de crédito em nome de outras pessoas. Em depoimento confessou estar em Goiânia para aplicar golpes. Condenada também por falsificação, Vilma será chamada para depor
Vilma ganhou a liberdade condicional em agosto de 2008, após cumprir 5 dos 19 anos das penas inicialmente imposta pela Justiça. Sem ter confessado em alguma delegacia ou em juízo os crimes atribuídos a ela, Vilma mora no bairro Itanhangá, em Goiânia.

Vilma ganhou a liberdade condicional em 19 de agosto de 2008, após conseguir reduzir a pena e ganhar o benefício do regime semi-aberto. Desde então, não pode deixar Goiânia sem autorização judicial e tem de comunicar a Justiça a mudança de endereço. Também é obrigada a chegar em casa antes das 21h, mas não precisa comprovar trabalho. As normas valem até 16 de fevereiro de 2019, quando expira a pena imposta à ela. Ela e Roberta se recusam a dar entrevista.

Reincidente

Em maio de 2013, Vilma foi detida no setor Jardim Planalto, em Goiânia, suspeita de receptação de materiais odontológicos furtados de uma clínica na capital do estado. Segundo a polícia, ela estava no próprio carro, um Fiesta preto, acompanhada da esteticista Sônia Eliene Silva, que também foi presa.

As duas negaram o crime. Vilma alegou que Sônia Eliene é esteticista dela, para quem estava apenas dando uma carona. Já a esteticista garantiu que não sabia que os equipamentos eram furtados e alegou que estava fazendo um favor para um amigo. Disse que ele a pediu que vendesse os materiais.

Vilma acabou solta, mas voltou a ser presa em agosto. Segundo a Polícia Militar, ela foi flagrada com um veículo com registro de roubo ao estacionar em local proibido na Avenida T-9.

Os policiais checaram a situação do veículo, o mesmo Fiesta, e constataram que o carro tinha registro de roubo, além de mais de R$ 5 mil em multas e não pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).


POR ONDE ANDAM

Pai e advogado

Pedrinho, o protagonista do caso mais famoso de um menino roubado em maternidade no Brasil, hoje é um homem feito, o doutor Pedro. Advogado, casado, morador da Asa Norte, pai de um brasiliense de 2 anos, funcionário de um renomado escritório de advocacia, Pedro Júnior Rosalino Braule Pinto, 29 anos, leva a vida de um típico cidadão de classe média da capital do país. Pratica corrida de rua, joga futebol com os amigos no meio da semana, sonha com a estabilidade do serviço público e se vira para dar conta das obrigações de pai de família e de trabalhador.

Avesso à entrevistas, Pedrinho busca o anonimato. Mas, ainda, é reconhecido por boa parte dos brasiliense.

O filho dele veio ao mundo com 3,2kg, 48cm e muito cabelo, em novembro de 2012. João Pedro, que ganhou o nome em homenagem aos avós maternos, nasceu no Hospital Santa Helena, na Asa Norte, em um parto cesariano, fruto da relação de Pedro Júnior com a administradora de empresas Nábyla Gabriela Queiroz Galvão, 27 anos. Eles se casaram em novembro de 2010. Nascida e criada em Santa Maria da Vitória (BA), Nábyla mudou para Brasília, distante quase 600km, aos 12 anos, para estudar. Fã de axé-music, conheceu Pedro aos 15, em uma festa sertaneja, o ritmo preferido dele, criado em Goiânia.

Em liberdade

Pedro mantém vínculos com Goiânia. Costuma viajar de carro pelos 200km do trajeto da BR-060 que liga Brasília à capital goiana para rever os amigos e a família de criação. Visita inclusive Vilma, a mulher condenada por raptá-lo e registrá-lo como se filho legítimo dela fosse. Também considerada culpada pelo sequestro e o registro falso de uma recém-nascida em Goiânia, crime ocorrido em 1979, ela ganhou a liberdade condicional em agosto de 2008, após cumprir 5 dos 19 anos das penas inicialmente imposta pela Justiça.

Sem ter confessado em alguma delegacia ou em juízo os crimes atribuídos a ela e com 59 anos, Vilma mora no bairro Itanhangá, em Goiânia, com Roberta Jamilly Martins Borges, a menina levada de uma maternidade da capital goiana há 33 anos. Ela também casou e teve um filho. Mas, diferentemente do irmão de criação, não retomou o nome original, Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva, nem o convívio com a família biológica. Sequer visita a mãe verdadeira, Francisca Maria Ribeiro, hoje com 75 anos.

Vilma ganhou a liberdade condicional em 19 de agosto de 2008, após conseguir reduzir a pena e ganhar o benefício do regime semi-aberto. Desde então, não pode deixar Goiânia sem autorização judicial e tem de comunicar a Justiça a mudança de endereço. Também é obrigada a chegar em casa antes das 21h, mas não precisa comprovar trabalho. As normas valem até 16 de fevereiro de 2019, quando expira a pena imposta à ela. Ela e Roberta se recusam a dar entrevista.

Avós corujas

Morando na mesma casa, no Lago Norte, os verdadeiros pais de Pedrinho, Maria Auxiliadora Braule Pinto, a Lia, 61 anos, e Jayro, 62, curtem a tranquilidade da aposentadoria e os quatro netos: João Pedro e três meninas. Elas são da filha Cláudia, 32 anos. Pedro, Nábyla e João Pedro constumam visitar Lia e Jayro todos os fins de semana, especialmente aos domingos, no tradicional almoço de família.

Como há 12 anos, Lia se dedica ao artesanato e à família. Já Jayro , após sofrer um enfarto em 2011 ; em meio a uma partida de futebol entre amigos, em um clube do Lago Sul ;, descobriu o gosto pela escrita. Publicou o primeiro livro, Direito Tributário para Concursos, lançado pela editora Gran Cursos, em 2012. Escreveu outra obra, também voltado a concurseiros, para quem deu aulas por 20 anos. Desde o susto em campo e a cirurgia a que teve de ser submetido, o fiscal aposentado da Receita Federal deixou a paixão pelo futebol de lado.

LINHA DO TEMPO

O sequestro de Pedrinho é o caso mais famoso no Brasil de um bebê levado de maternidade. Tanto que a história virou tema da novela Senhora do Destino, sucesso de Aguinaldo Silva exibido entre 2004 e 2005.

1986
21 de janeiro

Passando-se por enfermeira, uma mulher entra no quarto onde Maria Auxiliadora Braule Pinto se recupera do parto do filho Pedro. A desconhecida diz que vai levar o bebê para exames e some com ele. O crime ocorre nas dependências do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.

2002
20 de agosto

Por meio de e-mail, um anônimo conta a história sobre um garoto nascido em Brasília e adotado por uma família goiana. A Polícia Civil candanga recebe provas apontadas pela pessoa de que se trata de Pedrinho, como fotografias e descrições do garoto. Agentes vão para Goiânia, onde ele mora.

7 de novembro

O Correio torna pública a investigação sobre o adolescente morador de Goiânia. Falta o DNA. O menino só doa material genético para o teste após uma troca de telefonemas com Jayro e a promessa da Polícia Civil que nada acontecerá com a mulher que o criou como filho legítimo, Vilma Martins Costa.

8 de novembro

Sai o resultado do DNA: o menino registrado como Osvaldo Martins Borges é na verdade Pedro Rosalino Braule Pinto. O desfecho do caso vira notícia em todo o país e no exterior. Mas não significa o reencontro imediato do menino com os pais biológicos.


2003
12 de fevereiro

A polícia goiana confirma, também por meio de DNA, que outro bebê levado de uma maternidade em Goiânia, 24 anos antes, havia sido criado por Vilma como filho verdadeiro dela. A menina que a ex-empresária registrou como Roberta Jamilly, era Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva, roubada em 1979.

28 de abril

O Tribunal de Justiça de Goiás decreta a prisão preventiva de Vilma no processo que investiga o sequestro de Pedrinho. A decisão parte do juiz Adegmar José Ferreira, da 10; Vara Criminal. Agentes vão à casa da acusada munidos do mandado de prisão, mas não a encontram. Ela é dada como foragida.

12 de maio

No início da manhã, Vilma Martins é surpreendida com fortes batidas na porta da casa onde buscou abrigo. Três policiais forçam a porta e entram no imóvel localizado em Aparecida de Goiânia. Eles encontram a empresária de 47 anos sob um enorme sofá e lhe dão voz de prisão.

24 de agosto

Oito anos e oito meses, em regime semi-aberto. O juiz Adegmar José Ferreira assina a sentença de Vilma, já presa. A pena diz respeito à subtração de incapaz e registro falso de Pedrinho. Logo depois, ela é condenada pelo rapto e registro de Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva. Somadas, as condenações de Vilma em primeira instância renderam 19 anos e nove meses de cadeia.

2004
28 de maio

Desembargadores goianos reduzem em três anos e seis meses a pena imposta à ex-empresária no caso do sequestro de Pedrinho. Eles acatam uma das alegações da defesa, a de que o crime de parto suposto já prescreveu, pois ocorreu há mais de oito anos.

30 de maio
Vilma tem pena reduzida em seis meses no processo em que foi condenada por registro falso de Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva. Já conseguiu reduzir quatro anos da pena com os recursos.

2005
27 dezembro


Vilma começa a cumprir pena em regime semi-aberto. Só terá que dormir na Casa do Albergado, em Goiânia. Agora, divide um pequeno quarto com cinco jovens detentas.

2006
A sequestradora de bebês passa a maior parte do ano fora da Casa do Albergado. Graças aos 12 atestados médicos apresentados à Justiça, ela ficou cerca de 200 dias na confortável chácara da família ou em uma clínica.

2007
9 de janeiro

Vilma é transferida de um hospital para a CPP. O juiz ordena a remoção após analisar relatório da Casa do Albergado, para onde a detenta não retornou após a saída de Natal. Enfermeiros e agentes constataram que ela jogava fora os remédios prescritos e se alimentava de forma prejudicial à saúde.

2008
Junho


Após cinco anos na cadeia, Vilma ganha o direito de cumprir pena em regime aberto. Ela começa a desfrutar do benefício na última semana do mês e até o fim do ano.

19 de agosto


Vilma ganha a liberdade condicional. Não poderá deixar Goiânia sem autorização judicial, terá de comunicar à Justiça a mudança de endereço, será obrigada a chegar em casa antes das 21h, mas não terá que comprovar trabalho. As normas valem até 16 de fevereiro de 2019, quando expira a pena.

2011
19 de novembro

Pedrinho se casa com a baiana Nábyla Gabriela Queiroz Galvão, em Brasília. A cerimônia reúne seus familiares brasilienses e goianos do noivo. Três meses depois, ele descobre que vai ser pai. O bebê nasce em dezembro.

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