Quando ainda era uma menina triste, calada e medrosa, a mãe da professora Gina Vieira Ponte de Albuquerque, 43 anos, alertou: ;A educação vai transformar a sua vida. Não apenas no sentido econômico e social, mas na construção da sua identidade;. Naquela época, a matriarca não imaginava que a filha seria uma profissional premiada (veja quadro) e reconhecida nacionalmente. Mas conhecia o caráter de Gina e sabia que a família tinha oferecido o mais importante: uma educação fundamentada em valores. Hoje, a professora do Centro de Ensino Fundamental 12 de Ceilândia receberá a notícia de que é uma das finalistas do Prêmio Ibero-americano de Educação em Direitos Humanos. Ela concorrerá a US$ 20 mil. A Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) no Brasil vai cobrir os custos para Gina participar do seminário e representar o Brasil na disputa. Haverá representantes dos 22 países-membros e ela é a única brasileira na competição.
Para Gina, realização e compromisso definem os sentimentos que chegam com os prêmios que já recebeu (veja quadro). ;Tenho muito cuidado para não me deslumbrar. Isso tudo só aumenta a minha responsabilidade. As palavras convencem, mas o exemplo arrasta. Procuro ser uma professora atenta aos alunos, que lhes oferece uma escuta sensível.; Os títulos vieram após o trabalho com o projeto Mulheres Inspiradoras. A proposta começa com a leitura de livros de escritoras, como a paquistanesa Malala. Em seguida, os alunos do nono ano do ensino fundamental estudam a biografia de 10 mulheres que fizeram importantes contribuições à humanidade na defesa dos direitos humanos, como Anny Frank e Maria da Penha, por exemplo. Por fim, os estudantes devem escrever e contar histórias de mulheres da comunidade de Ceilândia.
O objetivo de Gina era ressignificar a percepção que os jovens têm da mulher e fazê-los compreender a importância de atuar na defesa do gênero. Processo semelhante ao que ela passou ao longo dos anos. A professora nasceu em Brasília e foi a primeira dos seis filhos de Djanira Castro e Moisés Manoel da Ponte a nascer em Ceilândia. ;Não foi uma infância fácil. Enfrentei o racismo e a descriminação. Mas meus pais nunca permitiram que fosse vítima. Eles me ensinaram a persistência.;
A professora se emociona ao mostrar fotos da primeira comemoração de Natal, regada a Coca-Cola e pudim de leite. Montado em uma bicicleta, Moisés trabalhava como vendedor ambulante de bolachões, e Djanira era empregada doméstica antes de os filhos nascerem e depois que a mais velha completou 14 anos. ;Mas durante muito tempo ela escolheu ficar em casa para nos acompanhar, nos supervisionar e nos ajudar nos estudos;, relembra. Para complementar a renda e ajudar na alimentação, a matriarca plantava e colhia, no jardim de casa, jiló, quiabo, couve, entre outros.
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