Cidades

Projeto leva palhaços para alegrar crianças internadas no HRAN

Intenção é percorrer 15 hospitais públicos do DF e, depois, os particulares. Além das brincadeiras, são encenados contos do livro De grão em grão, de Adriano Siri

postado em 17/06/2015 06:02

Onze meses de idade. Um pé miúdo, as pernas arqueadas. A pequena Maria* é uma criança conhecida na pediatria do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Ela entra e sai da unidade de saúde com frequência. Ontem, os singelos gestos da menina emocionaram quem estava no quarto. ;Fico emocionada, porque ela liberou um sorriso, algo raro de acontecer;, conta, com os olhos cheios de lágrimas, a mãe social da menina. O motivo do riso foi a visita de dois palhaços, Eita e Reinecken, integrantes do projeto De grão em grão.

Maria* nasceu prematura e com má-formação no corpo. Não sabe o que é se alimentar, pois, desde que veio ao mundo, come por meio de uma sonda. Ela foi encaminhada para uma instituição de acolhimento. Desta vez, chegou à unidade de saúde na última sexta-feira. Ontem, a pequena surpreendeu a todos com um olhar alegre e curioso. Ao tentar imitar as caras e bocas de Eita e Reinecken, Maria aprendeu uma utilidade da língua.

;Por mais que a gente se prepare, a gente não deve deixar o emocional transparecer. É difícil;, comenta Eita. Para a intérprete da palhaça, Renata Cardoso, 39 anos, o contato com Estefany foi o momento mais marcante da manhã. Pela primeira vez, ela se vestiu com sapatos grandes e nariz vermelho. ;Era uma expectativa muito grande, uma ansiedade enorme. Agora, fica aquela sensação de dever cumprido, mesmo que tenha sido apenas o primeiro dia;, afirma. Ela e Gustavo Reinecken, 35 anos, espalharam cores, suspiros e risos pelo Hran. Os dois andaram pelas alas de internação, do Pronto de Socorro e da Pediatria.

No caminho, não deixaram escapar médicos, enfermeiros, nutricionistas ou funcionários. Gustavo já trabalhou no hospital, então, os funcionários o conhecem. Teve até a oportunidade para uma partida de tênis de mesa imaginária com um segurança. ;Nosso trabalho não é parodiar a figura do médico ou das doenças. Queremos trazer a ideia do palhaço de rua para o ambiente hospitalar. Temos consciência de que não estamos aqui para curar e, sim, para criar um clima mais agradável;, explica o rapaz, que faz esse tipo de trabalho voluntário há seis anos. Na manhã de ontem, também não faltou a clássica selfie. Primeiro, com a máquina de brinquedo dos atores. Depois, com a dos pacientes que paravam Eita e Reinecken para tirar uma foto.

Contar histórias
Gustavo foi convidado pela atriz Adriana dos Santos Nunes, 45 anos, idealizadora do projeto De grão em grão e integrante do grupo de humor Os Melhores do Mundo, para fazer a consultoria e a direção dos palhaços. Adriana, depois de 25 anos de teatro e televisão, decidiu levar o sorriso para um lugar diferente, onde não fosse cobrado nada por ele. ;Sempre fui muito ligada à literatura infantil, então, uni os trabalhos. Sabemos que, nos hospitais, as crianças estão muito fragilizadas. Assim, podemos mudar um pouco a realidade delas e quebrar a rotina. Afinal, o que fica de tudo na vida são a lembrança e a alegria;, afirma a atriz.

*Nome fictício

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