Mudanças nas normas para a realização de partos na rede pública de saúde do Distrito Federal têm surpreendido as grávidas da capital. A portaria n; 47 da Secretaria de Estado e Saúde definiu que as gestantes só poderão dar à luz em hospitais regionais onde tiveram o acompanhamento do pré-natal. A decisão é de 2014, no entanto, a Casa de Parto de São Sebastião continuava fazendo partos de mulheres de outras regionais. Desde a última semana, as grávidas que vão até a unidade são informadas de que devem procurar um hospital na região em que foram acompanhadas durante a gravidez.
Essa é a realidade da professora Vanessa Rosendo, 33 anos. Grávida de oito meses, Vanessa tinha planos de, assim como na primeira gestação, ter a filha Glória também na Casa de Parto de São Sebastião, já que o local é referência em partos humanizados no DF, com o mínimo de intervenção possível da equipe médica. Com a informação de mudanças nas normas, a professora ainda não sabe onde dará à luz, pois um dos grandes diferenciais da unidade é que o marido pode acompanhar o nascimento do bebê. ;Os hospitais geralmente dizem que as grávidas têm direito a uma acompanhante, mas na hora do parto eles não deixam ninguém acompanhar;, diz.
Diferente dos hospitais, a unidade de São Sebastião autoriza a entrada da doula - profissional responsável por dar suporte emocional à gestante antes, durante e depois do parto. Para Vanessa, o trabalho da doula é imprescindível durante a gravidez e, principalmente, no trabalho de parto. ;A presença da dela é fundamental para que a nossa vontade seja respeitada. Além de passar todas as informações, ela transmite tranquilidade e sabe o que bebê e mãe precisam;, comenta. A professora afirma também não ter condições para arcar com os custos de um parto humanizado em um hospital particular.
A doula Vanja Mendes concorda com a gestante e acredita que as pessoas vão ficar desiludidas porque não podem pagar um parto domiciliar em Brasília. ;Essa ainda é a realidade da classe média e alta", explica a doula. "O que me preocupa é que as mulheres passem a ficar mais tempo sozinhas em casa durante o trabalho de parto e, com isso, aumente o número de partos domiciliares desassistidos", completou.
Apesar de a Casa de Parto de São Sebastião estar a 22 quilômetros do centro de Brasília, cerca de 40% das mulheres que procuram o atendimento são de outras cidades. Criada em 2009, a unidade possui apenas três salas de parto, o que limita o atendimento. Em média, 35 mulheres dão à luz no local todos os meses, de acordo com SES-DF.
Ainda segundo a SES-DF, ao menos 1.857 bebês nasceram na Casa de Parto entre entre 2009 e 2014. No primeiro ano, foram 221 partos, enquanto que no último o número cresceu 92%, chegando a 425. Com o aumento da demanda, o Hospital Regional do Paranoá - para onde as grávidas são encaminhadas caso tenham complicações durante o parto em São Sebastião - estava se queixando de superlotação. Questionada pelo Correio, a Secretaria de Saúde diz que o número não é expressivo. "É baixo se comparado com os demais hospitais da rede. Em Ceilândia, por exemplo, nascem, em média, 30 bebês por dia", informa em nota. A secretaria argumenta que a limitação é em cumprimento da norma estabelecida em 2014.
Casas de Parto
Atualmente a rede pública de saúde do Brasil tem 18 casas de parto - local onde são feitos apenas partos naturais e humanizados, estabelecido pelo portaria n; 985/99 do Ministério da Saúde. Elas devem ficar nas dependências internas ou externas dos hospitais, no segundo caso, a uma distância de, no máximo, 200 metros. Nelas trabalham apenas enfermeiros obstetras e técnicos de enfermagem, que oferecem acompanhamento e assistência em tempo integral. O objetivo é incentivar o parto normal humanizado, reduzir a taxa de mortalidade materna e as ocorrências de cesarianas desnecessárias na rede pública.
A auxiliar administrativa Ellana Cardoso, 30 anos, que teve uma experiência traumática no parto da primeira filha, conta que estava decidida a ter a segunda em um parto humanizado, em São Sebastião. Iniciou o pré-natal em hospitais particulares e, segundo ela, sempre que manifestava vontade de fazer o parto humanizado, os médicos diziam que faziam parto normal. "Mas eles só fariam se eu pagasse por fora, entre R$ 4 mil e R$ 6 mil, e que se eu não quisesse, poderia ir atrás de outro médico;, lembra. A auxiliar administrativa ainda se consultou com outros dois médicos particulares e teve a mesma resposta.
Na busca pelo parto humanizado, quando estava com oito semanas de gravidez, uma amiga comentou sobre a Casa de Parto de São Sebastião. Após algumas visitas com o marido, Ellana deu início ao pré-natal no posto de saúde do Guará II, onde vive, e, em fevereiro deste ano, acompanhada da mãe, deu à luz na unidade.