Cidades

Programa ensina música clássica a crianças e jovens da Estrutural

Hoje, pelo menos 130 jovens aprendem a tocar um instrumento na comunidade

postado em 26/06/2015 06:03 / atualizado em 19/10/2020 12:15

Lilia e Lucas tiveram contato com a música clássica ainda crianças: hoje, além de estudarem  arduamente violino, repassam o conhecimento para outros jovens 

 

Tudo começou em 2001, quando uma jovem decidiu levar música clássica para crianças carentes da Estrutural. Motivada pela vontade de acabar com a elitização desse gênero musical, Rejane Pacheco, 37 anos, deu início à instituição que usa a cultura clássica como instrumento de inclusão social. A ideia de tornar possível uma educação musical de qualidade como forma de acabar com a ociosidade surgiu como alternativa para uma série de problemas sociais. “O ócio pode causar complicações muito graves, como a violência. Queríamos colaborar com a inclusão das pessoas que vivem em comunidades vulneráveis.”

Assim surgia o Instituto Reciclando Sons, nome que remete à reciclagem de lixo — atividade que deu origem à cidade Estrutural. Maestrina, Rejane ressalta que a música clássica ainda é tida como uma aptidão especial. “Ela é, na verdade, uma escola de uma linguagem universal”, acredita a idealizadora do projeto.

O sonho de se tornar um músico profissional é o que inspira os árduos e contínuos ensaios do estudante Lucas Joshuah. Com apenas 16 anos, o jovem morador da Estrutural se diz um apaixonado por música clássica. A paixão surgiu quando, ainda menino, o jovem assistiu a uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Brasília pela televisão. “Comecei no Reciclando Sons com 9 anos e, além de bateria e baixo, toco violino. Não me vejo como solista, mas sim como professor de música, como um profissional de verdade”, descreve, com um sorriso no rosto.

Para Lucas, a sociedade costuma desprezar as pessoas que vêm de localidades marginalizadas e, assim, não acreditam que tais lugares possam produzir manifestações culturais de qualidade. “Nunca pensei que pudessem ensinar música clássica aqui. A verdade é que quase ninguém nos vê, mas eu posso dizer que as pessoas da Estrutural têm muito talento”, opina.

Com a ajuda de empresas privadas e de voluntários, Rejane vive exclusivamente por conta do instituto. Perguntada sobre o que é mais gratificante dentro dessa iniciativa, a musicista não hesita. “Ver que o processo está acontecendo é o motivo da minha felicidade. É muito bom acompanhar os alunos e vê-los superando dificuldades, libertando-se das drogas e da violência.”

Após 14 anos de trabalho, mais de 2 mil crianças e jovens já foram beneficiados. Entre eles, está a cantora e instrumentista Lilia Kezia Lion, 24, que começou no instituto com apenas 12 anos de idade. Vinda de uma família simples, a jovem assistente social conta que ouviu uma música clássica pela primeira vez quando chegou à organização. Segundo ela, das primeiras aulas em diante sua vida mudou para melhor. “Ganhei autoestima e comecei a acreditar no meu futuro. Venho de uma família de catadores e hoje posso ajudar minha família por meio do poder transformador da música”, detalha Lilia.

Trabalho premiado
Reconhecido nacionalmente, o projeto ganhou, em 2013, o prêmio Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil, quando concorreu com mais de mil entidades de todo o país. A história da instituição começou com aulas de coral, que atendiam a 22 crianças de baixa renda. Com o passar do tempo, os alunos formados se tornaram replicadores das técnicas de ensino musical. Dessa forma, a organização atende, hoje, a 130 alunos na Estrutural e mais 60 no polo de expansão em Águas Lindas.

O programa educacional adotado se divide em três principais etapas: iniciação musical, formação educacional e profissionalizante (veja quadro). A última etapa, implementada há cinco anos, tem como objetivo central a formação de instrutores, bem como a preparação dos jovens músicos para a prova da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB). E os frutos já começam a ser colhidos. Três jovens do programa foram aprovados na OMB e cerca de 20 trabalham com música.

 

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