;Mecânica não é lugar de mulher. Por que você não abre uma loja de roupas, sapatos ou lingerie?;. A frase resume o que a empresária Agda Oliver, de 33 anos, escutou, durante seis meses, de várias pessoas próximas a ela - noivo, amigos e parentes. No entanto, seguiu com a ideia de empreender e fundou a Meu Mecânico, em Ceilândia. A mecânica fez tanto sucesso que virou referência na área de empreendedorismo feminino e chamou a atenção até do Comitê Olímpico. Agda foi convidada a receber a tocha olímpica dos jogos de 2016, em julho do ano que vem. ;Eles me ligaram perguntando se eu aceitava. E tem como não aceitar uma coisa dessas?;, comemora. A tocha chegará ao Brasil em maio, e passará por 250 cidades de todos os estados do Brasil.
Com uma fachada lilás, a mecânica tem um atendimento especial às mulheres, que, na maioria das vezes, chega ao local sem conhecer conceitos básicos de um motor. ;Elas já têm um bloqueio quando o assunto é carro. Mas é mais simples do que parece mesmo;, brinca Agda.
A história começou quando a empresária comprou o primeiro carro, em 2008, e precisou levá-lo para uma manutenção periódica. Ela conta que, após ser atendida pelo mecânico, pensou que o carro dela estivesse cheio de problemas. ;Ele fez parecer que meu carro explodiria a qualquer momento. Sequer me explicou quais procedimentos seriam realizados e o porquê de fazê-los;, recorda-se. Ele apenas listou as peças - que a princípio eram desconhecidas por ela - e pediu a autorização para trocá-las: ;Eu permiti, afinal, confiei no que ele havia dito;.
Contudo, para surpresa de Agda, a conta saiu mais cara do que imaginava. Bancária à época, ela chegou ao trabalho e mostrou aos colegas de profissão a nota do mecânica com a listagem dos produtos e da mão de obra realizada. ;Riram da minha cara, porque o mecânico percebeu que eu não entendia do assunto e cobrou peças que nem tinham no meu carro;, lembra. Esse foi o último empurrãozinho para encorajá-la a abrir a Meu Mecânico.
Começou a ler e a estudar sobre o assunto - freio, embreagem, calibragem, troca de óleos e motor - e investiu em cursos de empreendedorismo. Mostrou-se preparada para a nova etapa, e, assim, ganhou apoio de pessoas queridas. ;Muitos diziam que eu não teria credibilidade por ser mulher, mas depois que viram meu engajamento com o assunto, passaram a respeitar;, diz.
Atualmente, trabalham com ela quatro mulheres e três homens. São elas que atendem, fazem o diagnóstico, passam o orçamento e entregam o carro. ;O primeiro contato de qualquer cliente é só com mulheres. Os homens só participam da parte mecânica;, explica. Para ajudar a clientela a conhecer melhor assuntos relacionados ao carro, Agda mantém um blog com dicas de como gastar menos com o veículo, o uso correto da embreagem, porquê calibrar os pneus, quais sapatos devem ser usados para dirigir e detalhes sobre o IPVA. ;Lá eu coloco posts relacionados às dúvidas das clientes. É um cuidado que tenho, porque eu senti falta disso quando precisei;, justifica.