Cidades

Cícero se despede de amigos e clientes após 38 anos de trabalho no Beirute

Mesmo cansado, Cícero garantiu, faria tudo de novo

Luiz Calcagno
postado em 27/06/2015 22:25
Mesmo cansado, Cícero garantiu, faria tudo de novo

"O último dia de trabalho é um dia de vitória e de esforço. É uma realização marcada pelo afeto, pelo carinho, por muitos abraços e respeito." Assim, Cícero Rodrigues Santos, 65 anos, descreveu a saideira, seu último dia no Beirute, na 109 Sul, neste sábado (27/6). O garçom mais famoso de Brasília deixa um dos bares mais tradicionais por conta de problemas de saúde, com fortes dores na coluna. Um show da banda brasiliense Liga Tripa animou a tarde e, no começo da noite, clientes ainda gritavam o nome do funcionário, mas não para chamá-lo, e sim para homenageá-lo. O clima de despedida permeava mesas e corredores do estabelecimento.

Mesmo cansado, Cícero garantiu, faria tudo de novo. "Foi um dia badalado, de muito trabalho, mas foi tudo de bom. Fui chamado em todas as mesas", disse. De paletó branco e chapéu, o garçom era constantemente chamado para uma fotografia ao lado do banner de despedida, na entrada do bar. Ele explicou que sempre considerou todos os clientes como amigos e que se pudesse, trabalharia no Beira pelo resto da vida. "Fica um gosto de quero mais. Gostaria de ficar aqui até o fim, para morrer feliz ao lado de todos os que me acompanharam. Isso aqui me traz muita alegria", admitiu.

Nas mesas, pessoas de variadas idades se despediam do funcionário. Cícero trabalhou no Beirute por 38 anos e atendeu, nesse tempo, pelo menos três gerações de brasilienses, que se encantaram com a cordialidade do paraibano, que, aos 27 anos, passou quatro dias em um ônibus para chegar na capital federal e ocupar uma vaga para trabalhar na limpeza do Beirute. Com o tempo, virou balconista e, em 1976, garçom. Ele também atuou em diversos filmes sobre Brasília, dois deles sobre Renato Russo.

Diferentes visões

O ator Murilo Grossi, 51 anos, morou ao lado do Beirute e se lembra de frequentar o bar com os pais aos 10 anos de idade. Já era atendido por Cícero. "Eu o conheço desde os 10 anos de idade. Vira este bar beber uma cerveja no último dia de trabalho dele é ter a satisfação de saber que o Cícero fez um ótimo trabalho, com várias gerações de garçons e clientes. O boteco é um local em que as pessoas convivem, conversam. É um lugar democrático. E é isso que o Cícero representa. Ele é a cordialidade em pessoa, é o próprio Beirute", declarou.

Pedro Blumer, 23 anos, também foi se despedir de Cícero. "O Beira não é um lugar que eu comecei a frequentar. É um lugar que minha família me trouxe, quando eu tinha 10 anos. Vinha com meus pais e minhas tias. Hoje, Cícero foi na nossa mesa, e meus parentes me apresentaram a ele novamente. Talvez não se lembre de mim, mas atendeu minha família a vida inteira. É uma pessoa que representa Brasília", afirmou.

Gerente do Beirute da Asa Sul há 10 anos, Leandro Lima, 36, garante que a saída de Cícero não trará tristeza. "Sabemos que ele nunca vai nos abandonar. Ele vai continuar nos visitando e não vamos perder contato", explicou. "O Cícero sempre foi um grande profissional. Não é à toa que ele está aí há 38 anos", completou.

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