Jornal Correio Braziliense

Cidades

Projetos de empreendedorismo ajudam os estudantes a conhecer o mercado

Ações têm impacto também no desempenho em sala de aula, com alunos mais dedicados e comprometidos

O conteúdo formal não é o único aprendizado que crianças, adolescentes, jovens e adultos levam dos anos de estudo. A formação pessoal e a profissional também são partes importantes desse processo e refletem no desempenho que os alunos terão ao concluírem a educação básica. Diversas escolas do Distrito Federal têm apostado em projetos com o objetivo de preparar os estudantes para o mercado de trabalho ou para abrir o próprio negócio e ensinam lições como trabalho em equipe, responsabilidade e solidariedade.

Durante 15 semanas, um grupo de alunos do Centro Educacional 1 do Cruzeiro terá contato com todas as etapas de formação de uma empresa: marketing, recursos humanos, finanças e produção. O projeto teve início em abril e todo o planejamento da Multibotons já está pronto. O presidente da empresa, Alexsander Amaral, 17 anos, aluno do 2; ano, explica que, a cada jornada, o grupo consegue fazer de 50 a 60 bótons, que passam por rigoroso controle de qualidade antes de serem embalados e comercializados. ;Acho que esse aprendizado vai ser muito significativo para o mercado de trabalho. Aprendemos a prestar contas, fazer relatórios e a ter responsabilidade;, detalha.

Agora, eles estão na fase de produção e venda dos ecobotons, produtos feitos com latas de alumínio recicladas e customizadas que pode ter três utilidades: ímã de geladeira, chaveiro e identificador de bolsa ou mochila. Cada unidade é vendida a R$ 4 e os estudantes também comercializam ações da empresa. No fim do projeto, cada acionista recebe de volta o valor investido e os lucros. Parte da arrecadação é doada a instituições de caridade. ;Fiquei apaixonado pelo projeto, nunca tive uma oportunidade como essa;, relata o vice-presidente da Multibotons, Gabriel Soares, 17 anos, também aluno do 2; ano.

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O trabalho desenvolvido no colégio do Cruzeiro faz parte do projeto Miniempresa, da organização não governamental Junior Achievement. Em agosto, as empresas de todos os colégios contemplados ; oito no total, entre públicos e privados ; vão apresentar os produtos em uma feira no Conjunto Nacional. Para passar o conhecimento aos alunos, a organização conta com a participação de voluntários, os advisers, que podem ser empresários ou funcionários de empresas. ;Essa metodologia é muito mais próxima de mostrar o caminho de montar uma empresa do que um curso formal de administração e finanças. Essa vivência prática é muito rica;, avalia o empresário Eder Freddi, um dos advisers dos estudantes do Cruzeiro.

Os resultados podem ser vistos até mesmo no desempenho dos alunos em sala de aula e no engajamento em outras atividades da escola. ;O projeto estimula valores como responsabilidade, colaboração, trabalho em equipe e tomada de iniciativa. Eu acredito que isso vai refletir no rendimento deles aqui na escola, porque começam a perceber o sentido de buscar o conhecimento para entrar no mercado de trabalho;, avalia a orientadora educacional Andréa Gonçalves. Para o vice-diretor, Getúlio Cruz, a atividade, assim como outras ações extraclasse que são oferecidas, faz o aluno gostar de estar na escola, inclusive no turno contrário ao da aula. ;É uma forma de o aluno gostar de vir para a escola. Alguns lamentam não poderem vir nos fins de semana. Em anos de trabalho, poucas vezes ouvi isso;, diz.

Iniciativa própria
No Centro Educacional São Francisco, de São Sebastião, é a Produtora Encena que reúne os estudantes em uma iniciativa empreendedora. Criado no fim do ano passado com o objetivo de organizar o 1; Festival de Cinema da escola, o empreendimento tem até logomarca. Este ano, ficaram responsáveis também por promover a Feira de Conhecimento e a Semana de Inclusão. Com o aprendizado obtido na escola, alguns dos estudantes foram selecionados até mesmo para atuar em eventos externos, como o aniversário da Imprensa Nacional. A remuneração foi destinada à comissão de formatura e vai ajudar a pagar a festa dos formandos do 3; ano.

Nem mesmo nas férias o grupo para as atividades. Desde a última segunda-feira eles estão indo diariamente à escola, onde participam de palestras com convidados sobre diversos tipos de eventos, esportivos ou de lazer. A maratona termina no próximo domingo, com direito a acampamento no colégio a partir de sexta-feira. ;O aluno que vem para o projeto não vem pela nota, vem pelo conhecimento e pela formação pessoal e profissional;, afirma a diretora, Ghislaine Porto. Entre as habilidades que eles desenvolvem durante o processo, ela destaca o trabalho em equipe, a capacidade de empreender e de tomar iniciativa.

A primeira edição do projeto ocorreu em 2008 e culminou na organização de uma colônia de férias para crianças da comunidade, dois anos mais tarde, organizada pelos próprios alunos do colégio. O objetivo para os próximos semestres é conseguir novas parcerias para fortalecer, principalmente, a formação empreendedora.

Para o aluno do 3; ano Rodrigo Dourado, 19 anos, a identificação com o projeto veio graças à união de duas paixões do jovem: cinema e festas. Ele participou da organização do festival no ano passado e desde então atua na produtora. A participação no projeto o inspirou e levantou perspectivas para o futuro. ;Estou até pensando em conseguir um estágio e abrir um negócio próprio depois de terminar o ensino médio. Eu vi, vivi e me apaixonei pelo projeto da escola, quero dar continuidade a isso.;