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Chico Vigilante critica gestão de Rollemberg: 'Governo ainda não começou'

O deputado distrital é voz forte de oposição ao líder do Executivo local, mas faz uma ressalva: "Tenho ajudado mais do que a própria base aliada dele".

Desde menino, ele adotou uma das máximas de São Francisco de Assis: ;Consolar e ser consolado;. Na política, onde milita há 35 anos, prefere ser reconhecido como amigo das horas difíceis, ainda que lhe custe votos e duras críticas. Fez isso com Cristovam Buarque, José Dirceu e Agnelo Queiroz. ;Apanhei muito por isso, mas não me arrependo. Faria de novo.; Francisco Domingos dos Santos chegou a Brasília, de ônibus, vindo de Vitorino Freire, no Maranhão. Orgulha-se de nunca ter ;arredado o pé da Ceilândia; e de ser um dos fundadores do PT, ao lado de Lula. Minimiza o momento crítico pelo qual a legenda passa. Pragmático, acha que o partido não deve levar a ferro e fogo a ideia de concorrer como cabeça de chapa tanto para o GDF quanto para a Presidência. ;O PT precisa ter humildade;. Deputado distrital de oposição, Chico faz duras críticas à gestão de Rollemberg, que para ele ;não começou;. Mas diz não ser da ala ;do quanto pior melhor; e arremata: ;Quero que o governo dele dê certo. Senão, será um retrocesso para Brasília;.



Apanha muito nas redes sociais?
Eu respondo. Batem bastante e eu também dou as minhas.

De onde o senhor tira essa determinação?
Veja bem: um camarada que nasceu numa família extremamente pobre, nunca tinha visto água tratada e até os 23 anos usava lamparina para iluminação... Minha mãe, muitas vezes, tinha que dividir um ovo para quatro meninos. Dois ovos para oito irmãos, comendo mingau de arroz. Tinha trabalhado na construção civil em Roraima, em Tucuruí. Muitas vezes, a gente via aqueles pães doces na vitrine e não tinha dinheiro para comprar, com a boca cheia d;água. Isso foi me transformando no que eu sou. Não tive facilidade. E aí optei por sempre falar a verdade. Não tenho medo de nada.

Por que veio para Brasília?
Primeiro fui para Roraima, depois Tucuruí (PA)... Lá aconteceu uma coisa que, para mim, foi um milagre. Tive uma febre tão terrível que a pele saía. Eu fiz uma promessa que se sobrevivesse iria a um festejo que tem lá no Maranhão e daria uma volta de joelho ao redor da igreja. Era a festa de São Raimundo Nonato. No mesmo dia, o pai do médico que estava me tratando ficou doente. Veio outro médico, do Rio de Janeiro, para nos tratar, funcionários da Camargo Corrêa. Quando o médico chegou e perguntou ;O que você tem?;, eu respondi: ;É malária;. Ele disse que não era e alterou minha medicação. Eu estava havia oito dias sem comer. Escapei. Quando voltei para casa, minha mãe achou que eu era um fantasma. Ela já tinha encomendado a minha alma. Ela me abraçou chorando. Depois, paguei a minha promessa. Também dei muito trabalho para nascer. Minha mãe esperou oito dias.

Sua mãe ficou orgulhosa de seu ingresso na política?
Ela tinha muito medo. Dizia: ;Meu filho, você não pode mexer com esse povo grande;. Minha avó e bisavó eram anticomunistas, sem saber o que era comunismo. Tinha a questão da religiosidade do interior de Pernambuco. Elas foram para o Maranhão a pé, fugindo da seca. Andaram três meses. Naquela época, eu não sabia o que era Cuba ou Fidel Castro. Mas elas, qualquer coisa que achavam malfeito, diziam: ;Isso é coisa do Fidel Castro;.

A sua mulher é daqui?
Não. É maranhense. Outro detalhe da nossa vida. Eu a conheci e em 15 dias nos casamos. Casamos sem namorar e estamos há 33 anos casados. Além de o amor que sinto por ela ser eterno, tem uma coisa que motivou muito. O pai dela era cearense, morando no Maranhão, e muito racista. Depois, virou amigo e se mostrou uma pessoa extraordinária. Mas, na época, como sou negro, ele disse para a filha: ;Você não vai casar com este negro safado;. Eu disse: ;Agora eu vou para mostrar para ele que não sou negro safado;. E deu muito certo. Sem ela para cuidar de casa e dos filhos, eu não teria conseguido fazer a luta que fizemos.