Cidades

Crescem invasões no DF e especialista aponta pobreza como principal causa

No Plano Piloto, as lonas se multiplicam no meio do Eixão. Em Águas Claras, os moradores de rua puxam energia dos postes

Nathália Cardim
postado em 29/07/2015 06:03

EIXÃO NORTE / Pelo menos 25 barracos ocupam um dos canteiros do local, a poucos quilômetros do centro do poder. Moradores próximos do local cobram do governo políticas para cuidar da população de rua

Problema antigo no DF, as invasões continuam fortemente presentes na realidade brasiliense. Desde o início do ano, a Agência de Fiscalização do DF (Agefis) derrubou aproximadamente 5 mil barracos feitos de lona e de alvenaria na cidade. As cidades que mais tiveram derrubadas foram Ceilândia (Sol Nascente, próximo a Santo Antônio do Descoberto), Águas Quentes, Altiplano Leste (Minichácaras), São Sebastião (Morro da Cruz) e Setor de Indústrias e Abastecimento (setor de inflamáveis). E a cada dia tornam-se mais comuns também no Plano Piloto, ao lado da famosa e tombada arquitetura de Brasília. Só na Asa Norte, o Correio contou 25 construções.

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Próximo à entrada da Universidade de Brasília (UnB), um grupo se prepara para construir mais uma barraca. Pelo menos cinco já estão erguidas. A rotina é a mesma de uma casa comum. Logo cedo, mulheres dão banho em crianças e homens separam material para acender uma fogueira a fim de preparar o almoço da família. No fim do Setor de Clubes Norte, próximo à orla do Lago Paranoá, três grupos se organizam no gramado. Dividem utensílios e afazeres. Uma das construções precárias, inclusive, foi erguida estrategicamente em cima de um pedaço de concreto para proteger do chão molhado pela chuva. Roupas e louças são lavadas no próprio lago. As invasões de área pública fazem parte da história da cidade e são fortalecidas pela falta de fiscalização adequada.

Desde os 2 anos de idade em Brasília, a artesã Maria (nome fictício), 31, afirmou que estar na rua não é opção. Ela conta que tentou participar de programas habitacionais, no entanto, nunca foi chamada. A mulher e o marido vivem no canteiro central do Eixão, na altura da 208 Norte. Dormem no chão, secam as roupas na grama e vão ao banheiro de forma improvisada. Mesmo assim, não reclamam. ;Não é mil maravilhas, mas também não é tão ruim. É quase uma praia;, comparou.

A invasão é recente, há pouco mais de duas semanas. Ao todo, cinco barracos foram erguidos entre as árvores. A advogada Luisa Valle, 42, mora na 416 Norte e passa diariamente pelo local. Segundo ela, é importante combater o problema com políticas inclusivas, e não apenas a recriminação contra a população de rua. ;Eles já sofrem por não terem direitos. O governo regulariza invasões milionárias, mas as que necessitam, de fato, não são observadas. Isso precisa ser enfrentado de forma diferente, só assim a realidade vai mudar;, comenta.

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