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Polícia apura se foice foi usada para matar prefeito e primeira-dama

Além das marcas nos pescoços, a perícia concluiu que a mulher também tinha um afundamento no crânio, que pode ter sido causado provocado pelo golpe de algum objeto. Os investigadores não encontraram marcas de tiros apontadas por policiais militares que chegaram primeiro à cena do crime

Renato Alves
postado em 05/08/2015 14:24
Peritos da Polícia Civil de Goiás vão examinar uma foice encontrada no imóvel onde o prefeito de Matrinchã (GO), Daniel Antônio de Souza (PTB), 50 anos, e a mulher dele, Elizeth Bruno de Barros, 40, foram encontrados mortos na manhã de terça-feira (4/8). Eles estavam na área rural do município, na chácara onde moravam. A ferramenta será levada para a perícia, em Goiânia, ainda nesta quarta-feira (5/8), segundo o delegado Kleber Toledo, titular da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), que assumiu o caso.
Foice pode ter sido usada no crime
A foice estava cravada em uma árvore da chácara. "Vamos encaminhá-la ao Instituto de Criminalística (IC) para saber se esse objeto pode ter sido usado no crime. Só um exame técnico poderá dizer se existem vestígios de sangue na ferramenta", explicou o delegado. Além da foice, a polícia recolheu papéis e documentos na chácara e no gabinete do prefeito. Esse material também será encaminhado para análise.

O chefe da Deic afirmou não descartar nenhuma hipótese para o crime. Entre outras linhas, ele investiga a possibilidade de crime político e uma relação com às dívidas não pagas pela Prefeitura de Matrinchã e as contraídas pelo político. E, apesar de nenhum objeto ter sido roubado do local, o investigadores ainda não descartaram o latrocínio (roubo com morte).

Tiros descartados

Diferentemente do que afirmavam os policiais militares que atenderam a ocorrência e as testemunhas, os corpos do prefeito e da primeira-dama tinham cortes nos pescoços. Os corpos foram encontrados ensaguentados, na manhã de terça-feira, na chácara onde moravam, a cerca de 7 quilômetros do centro da cidade de 4 mil habitantes, que fica na região noroeste de Goiás, a cerca de 430 km de Brasília e a 260 km de Goiânia. Os corpos estão sendo velados nessa quarta-feira (5), desde as 8h na Igreja Matriz de Matrinchã. O enterro está previsto para 16h, no cemitério da cidade.

Ambos foram atingidos por arma branca e perfurante, de acordo com Kleber Leandro Toledo Rodrigues. Além das marcas nos pescoços, a perícia concluiu que a mulher do prefeito também tinha um afundamento no crânio, que pode ter sido causado provocado pelo golpe de algum objeto.

A princípio, os investigadores não encontraram marcas de tiros apontadas por policiais militares que chegaram primeiro à cena do crime. Porém, só o laudo do Instituto Médico Legal (IML) poderá concluir se eles foram ou não baleados. Os corpos foram encaminhados para o instituto, em Goiânia, na tarde de terça-feira.

O delegado Kleber Leandro descartou a possibilidade de o prefeito ter matado a mulher e suicidado em seguida. Informações ainda não confirmadas indicam que o casal foi degolado. Daniel e Elizete foram mortos na varanda da casa, onde há uma mesa grande. Duas poças de sangue ficaram no piso e rastros vermelhos mostram que os dois corpos foram arrastados para o interior da residência. Eles estavam em quartos distintos, de acordo com o secretário da Administração de Matrinchã, Cleyb Bueno de Moraes que encontrou as vítimas. O secretário e outros integrantes da administração aguardavam o casal para a abertura da Conferência Municipal de Assistência Social, mas diante do atraso, houve o alerta de que algo estava errado.

O primeiro a chegar no local do crime, que fica numa agrovila de assentados que nasceu a partir da desapropriação da Fazenda Chaparral, foi o motorista da prefeitura, Reginaldo Jorge. A pedido do assessor de Elizete Bruno, Felipe Morais, diretor do Centro de Referência de Assistência Social (Crass), ele foi até a agrovila para buscar uma máquina fotográfica e saber o motivo do atraso. Ao ver o carro da família aberto e o barulho da cadela no interior da residência, ele avisou Cleyb Bueno que foi ao local com o assessor jurídico da prefeitura.

Policiais militares chegaram à chácara por volta de 8h50 e isolou o local. Os pontos na varanda onde ficaram as poças de sangue indicam que o casal sentou à mesa com alguém para conversar.

O último compromisso do prefeito Daniel Antônio de Souza foi uma reunião na segunda-feira à noite na casa do secretário municipal de Administração, Cleyb Bueno. Estava acompanhado de sua mulher, Elizete, e de outro secretário, Hélio Soyer, de Finanças. Eles discutiram a realização da Festa do Peão no município. Depois pediram um sanduíche em um trailer e comeram antes de irem embora.

Processos na Justiça

Daniel Antônio de Souza respondia a vários processos na Justiça de Goiás. Dois deles referentes à Operação Tarja Preta, desencadeada pelo Ministério Público estadual em outubro de 2013. Ele foi acusado de improbidade administrativa e de associação criminosa. São dois processos diferentes e o segundo corre em segredo de Justiça. Nenhum deles foi concluído e o prefeito não havia sido sentenciado ainda.

[SAIBAMAIS]A operação Tarja Preta desmontou uma organização criminosa que atuava na venda fraudada e superfaturada de medicamentos e equipamentos hospitalares e odontológicos para prefeituras. Matrinchã é apontada como uma das 19 cidades envolvidas. Entre os presos, Daniel Antônio e outros 11 prefeitos. O superfaturamento chegou a 400% em relação aos preços de mercado em alguns casos. As propinas pagas aos agentes públicos também eram embutidas nas notas fiscais emitidas com dispensa de licitação.

Em abril, o promotor de Justiça Lucas Arantes Braga, do Ministério Público de Goiás, propôs ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra o prefeito de Matrinchã, em razão de atrasos constantes na entrega de balancetes à Câmara Municipal e pela falta da documentação que os instruíssem.

De acordo com a promotoria, a omissão do prefeito aconteceu, por diversas vezes, em 2013 e 2014, o que motivou a expedição de duas recomendações do MP determinando que prefeito remetesse ao Legislativo municipal os balancetes mensais, por meio de cópia reprográfica de toda a documentação relativa à execução orçamentária, independentemente da natureza e do valor das despesas, na periodicidade da remessa das informações contábeis ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), ou seja, até 45 dias contados do encerramento do mês.

No fim de 2014, a partir da informação de que as orientações do MP estavam sendo cumpridas, o promotor chegou a arquivar os autos do inquérito civil aberto sobre a questão. Em janeiro último, entretanto, foi apurado que os balancetes referentes aos meses de outubro e novembro de 2014 não foram enviados, o que motivou o desarquivamento do inquérito e a respectiva propositura de ação para responsabilizar o gestor pela improbidade.

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