Jornal Correio Braziliense

Cidades

Jovem que devolveu carteira com R$ 1,6 mil é homenageado em escola

Diretora elogiou a atitude do aluno e entregou a ele uma medalha de honra ao mérito

Um singelo gesto de honestidade virou de ponta-cabeça a rotina do estudante Lucas Yuri Marques, 16 anos. Há pouco mais de uma semana, em 10 de agosto, o rapaz ia para a aula, no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 312, em Samambaia Sul, quando encontrou uma carteira jogada entre dois sacos de lixo. Ao abri-la, ficou em choque: havia R$ 1,6 mil dentro. Os colegas que estavam com ele o incentivaram a ficar com o dinheiro, mas Lucas não teve dúvidas sobre o que deveria fazer. Mesmo com poucas pistas, encontrou o dono do objeto e devolveu a quantia encontrada. Além de lhe render a gratidão do proprietário, o bom caráter do garoto ecoou na escola onde estuda. Ontem, foi homenageado pela diretora do colégio, que concedeu ao estudante uma medalha de honra ao mérito.



;Eu estava com dois amigos e minha irmã indo para a escola quando vi a carteira. Ao encontrar o dinheiro, meus amigos ficaram empolgados e falaram em dividir o valor, mas eu sabia que estaria errado;, afirma Lucas. Durante a aula, o rapaz ficou inquieto, pensando em como localizar o dono do objeto. Dentro, havia apenas a nota fiscal de uma oficina de carros, com um nome. ;Decidi pedir ajuda a uma professora, porque não sabia o que fazer;, relata o garoto. A coordenadora do colégio, Rivânia de Araújo, 50 anos, ficou emocionada com a integridade do rapaz. ;Fiquei feliz que ele confiou em mim para auxiliá-lo. De imediato, fui à oficina e pedi o contato do suposto proprietário do dinheiro. Quando o encontrei, no dia seguinte, fiz algumas perguntas para me certificar de que era ele mesmo e decidi apresentá-lo a Lucas;, conta a professora.

O dono da carteira é o pedreiro aposentado Benício Eleutério Sobrinho, 66 anos, morador de Samambaia. Ele saía para levar a mulher ao Hospital Universitário de Brasília (HUB), às 6h, quando, sem querer, jogou o objeto fora. ;Senti falta horas depois e me desesperei. Achei que teria deixado no carro, mas não estava lá. Quando voltei para casa, o caminhão de lixo já tinha levado tudo embora;, relata. O dinheiro ; correspondente a todo o benefício que recebe ; seria destinado a pagar contas da casa, abastecer o carro e comprar remédios. ;Fiquei aliviado quando me devolveram a carteira. Enquanto tantos políticos roubam por aí, Lucas foi um exemplo. Ele teve a atitude de um adulto, e não de uma criança;, elogia.

Orgulho

Em meio ao barulho do intervalo do CEF 312, a diretora da unidade, Elizabeth Ferreira, 42 anos, chama os alunos pelo microfone instalado no pátio. ;O caso de Lucas saiu em vários jornais, mas também é importante trabalhar a parte pedagógica no colégio e mostrar o gesto que ele teve para os outros estudantes;, explica. Ao som de aplausos e gritos dos colegas de sala, Lucas é premiado com uma medalha brilhante de honra ao mérito, pendurada numa fita azul. A mãe do garoto e a coordenadora Rivânia recebem a mesma condecoração. A diretora passa o microfone ao rapaz, convidando-o a dar um discurso, mas ele fica tímido. ;Se pudesse voltar atrás, faria do mesmo jeito?;, pergunta Elizabeth. ;Claro;, responde Lucas.

Ao ver o filho calmo e humilde contando sua história, os olhos da ex-profissional de marketing Cíntia Marques da Silva ficam marejados. No dia em que Lucas encontrou a carteira com os R$ 1,6 mil, ela tinha sido demitida. O padrasto do menino também está desempregado. Além de Lucas, o casal cuida de três filhos. ;Eu moro no Mangueiral e ele, em Samambaia, com a avó paterna. Fui encontrá-lo na terça-feira, para contar sobre o trabalho, e ele me disse do dinheiro. Contou que os amigos o xingaram, chamaram ele de burro por querer devolver o valor, mas ele não ligou;, relata a mãe. Depois de voltar para casa, ela mandou uma mensagem pelo WhatsApp ao rapaz, para confortá-lo: ;Tenho muito orgulho de você... É por essas boas atitudes que eu sei que fiz um bom trabalho... Obrigada, filho;.

Além de estudar de manhã, Lucas trabalha como auxiliar administrativo à tarde, pelo programa de Aprendiz Legal. No tempo livre, ele se dedica aos jogos de videogame favoritos. ;Ainda não sei qual carreira quero seguir, mas já pensei em ser militar e até jornalista;, conta. Os familiares não dispensam elogios à honestidade do garoto. ;Fiquei muito orgulhosa dele. Ele estava muito preocupado em encontrar o dono da carteira e só ficou aliviado quando conseguiu;, diz a avó de Lucas, a dona de casa Josefa dos Santos Bezerra, 55 anos. Uma das irmãs do jovem, a estudante Maria Regina Marques, 14, brinca: ;Geralmente, irmãos mais velhos são chatos, mas ele sempre teve um coração bom.;