Cidades

Quadrilhas usam explosivos de pedreira para detonar caixas eletrônicos

Investigação das polícias Civil e Militar aponta que as quadrilhas especializadas em detonação de caixas eletrônicos utilizam material empregado na extração de rochas. Empresas negam

Isa Stacciarini
postado em 22/08/2015 08:00

Fábrica de cimento na Fercal: empresa usa explosivo de emulsão, o mesmo usado por bandidos, segundo a polícia

A Polícia Civil do DF suspeita que pedreiras da capital e do Entorno sejam a origem dos explosivos usados por criminosos em ataques a caixas eletrônicos na região. Essas empresas recorrem à emulsão explosiva encartuchada, uma substância dispersa em água e utilizada legalmente sob fiscalização do Exército Brasileiro. Ontem, um caixa eletrônico foi detonado em Brasília. O material, segundo a Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRRF) e a Polícia Militar, é o mesmo que está nas mãos das quadrilhas especializadas em explosões de terminais. Representantes das pedreiras, no entanto, alegam que os bandidos preferem dinamite. A polícia contesta a versão.

O delegado responsável por esses casos, Fernando César Costa, considera que o acesso ao material explosivo pode ser justificado pela falta de fiscalização e vigilância nos locais de extração de rochas e pelo desvio, roubo ou furto. ;Pela natureza do produto, ele deveria ser guardado em locais ermos. Dentro das pedreiras, em razão de um controle pífio, o funcionário responsável pela detonação pode dizer que usou o explosivo, mas talvez o esteja desviando;, sugere Fernando César. ;Mas cabe ao Ministério do Exército controlar e fiscalizar a atividade das pedreiras, por meio do Departamento de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC);, explica (leia O que diz a lei).

Um dos policiais do Esquadrão de Bombas do Batalhão de Operações Especiais (Bope), cabo Anderson Diniz, reforça a falta de controle no interior das empresas. ;Pessoas de dentro podem ser os fornecedores. O nosso trabalho, quando acontece uma ocorrência de explosão, é fazer a segurança do local com varreduras. Mas, se o órgão que virou alvo for de responsabilidade da Polícia Federal, essa função fica a cargo deles;, esclarece.

A estimativa do Sindicato da Indústria Extrativa de Pedreiras dos Estados de Goiás, Tocantins e DF (Sindibrita) é de que existam 34 pedreiras nas três unidades federativas. O levantamento é do presidente da entidade, Flávio Rassi. Segundo ele, nas companhias especializadas, o explosivo usado têm consistência pastosa. ;Os que estão sendo utilizados para explosão de bancos são bananas de dinamite. As pedreiras não utilizam explosivos em grande escala. Mais de 95% das empresas usam o material em emulsão. Essa justificativa de que os produtos estão vindo de pedreiras é totalmente fantasiosa. Estão tentando colocar a conta da segurança pública em cima das empresas;, defende Flávio. O Sindicato das Indústrias de Calcário, Cal e Derivados no Estado de Goiás (Sininceg) e o Sindicato das Indústrias de Rochas Ornamentais do Estado de Goiás (Simagran) afirmaram utilizar material semelhante, abastecido por firmas terceirizadas.

Planejamento
Levantamento da Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal mostra que, de janeiro a 7 de agosto, foram registrados 34 arrombamentos de caixas eletrônicos do DF. No entanto, segundo a secretária adjunta, Isabel Figueiredo, apenas uma em cada três tentativas obteve sucesso. O dado contraria estimativa feita pelo Correio, que chegou a 37 ataques a terminais de autoatendimento até ontem. Do total de ocorrências, 22 foram explosões. Isabel confirma que a principal hipótese é de os explosivos serem oriundos de pedreiras. Mas, segundo ela, o crescimento na modalidade de ataque não é exclusividade do DF. ;As secretarias estaduais têm se manifestado no Ministério da Justiça em relação ao problema. Uma primeira demanda é fortalecer mecanismos de fiscalização na venda de artigos explosivos utilizados para os crimes. Outro ponto trabalhado é a articulação entre secretarias e bancos para implementação de medidas de segurança mais eficientes;, destaca.

Em relação aos locais escolhidos pelos criminosos, Isabel ressalta que, de forma geral, são ambientes de pouca circulação de pessoas. ;Esse tipo de crime exige planejamento e ação sem testemunhas. Portanto, lugares ermos, como clubes e terminais mais afastados, são os principais alvos, além de serem cometidos sempre no período noturno;, detalha.

A pesquisadora em segurança pública Marcelle Figueira acredita na suspeita de material explosivo saído das empresas de extração. ;Parece muito plausível que eles venham das pedreiras, pois elas têm fácil acesso a eles;, explica. Os bandidos, segundo ela, estão organizados e cometem crimes em mais de uma unidade da Federação. ;Por isso, é importante que as polícias trabalhem em conjunto. Não é responsabilidade apenas da Polícia Civil. A Polícia Federal deve agir quando assaltantes são identificados em mais de um estado;, acrescenta. Em nota, a Polícia Federal informou que apura apenas casos relacionados às empresas públicas.

Quadrilhas
A suspeita é de que exista mais de um grupo em atuação no Distrito Federal. Ontem, criminosos invadiram um banco e usaram explosivos para violar um dos caixas eletrônicos de uma loja da Quadra 15 da Cidade do Automóvel. O crime ocorreu por volta das 4h. Os bandidos fugiram sem levar nada. No mesmo dia, outros criminosos arrombaram um terminal em Santo Antônio do Descoberto (GO), a 50km de Brasília. Os funcionários da agência bancária foram avisados do caso às 4h, depois que o dispositivo de segurança foi acionado. Os suspeitos não conseguiram acesso ao dinheiro.

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