Os shoppings, os centros comerciais, as feiras e as boutiques estão quase sempre cheios. Comprar faz parte da rotina diária de milhões de pessoas. Seja roupa, seja brinquedo para o filho, seja refeição. Embora comum, essa realidade é inviável para muita gente. No Distrito Federal (DF), de acordo com levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, 2,5 mil pessoas vivem em situação de rua. Para elas, ter roupa ou sapato novos, usar óculos escuros da moda e dar aos filhos um boneco que aparece na tela do cinema, só se forem doados. Como o que se ganha não dá para escolher, elas não têm a oportunidade de viver a experiência do consumo. Para acabar com isso, pelo menos uma vez, a situação é invertida pelo projeto The Street Store (loja de rua, em inglês). Homens, mulheres e crianças puderam escolher o que levariam para casa. E de graça.
Ganhar, para quem não pode comprar, é questão de sobrevivência. Todos são gratos por isso. No entanto, poder olhar vários modelos de vestido, pegar o vermelho, porque é a cor de que mais gosta, e pôr na sacola, com orgulho, não tem preço. Nessa hora, é impossível segurar o sorriso. ;É uma sensação maravilhosa. Poder sair daqui com algo que eu não precisei pedir;, explicou a doméstica Maria Jandira Conceição da Silva, 33 anos. Ela e a família moravam em uma invasão no Setor Habitacional Lúcio Costa, no Guará. A última vez que comprou algo para ela e os filhos foi há um ano. Era para uma festa. Depois dessa ocasião especial, seguem a vida com a ajuda das outras pessoas. ;Já estou pensando em algo diferente para a gente fazer, para usar as coisas novas;, disse.
Assim como Jandira, pelo menos outras 150 pessoas nas mesmas condições, ou piores do que a dela, foram, ontem, até o Museu da República. Um grupo de sete estudantes da Universidade de Brasília (UnB), com a ajuda de voluntários de outras instituições de ensino, montaram uma loja ao ar livre, com produtos doados. O projeto The Street Store foi criado por uma ONG da Cidade do Cabo, na África do Sul, no início do ano passado, e objetiva diminuir a desigualdade. ;Ficamos sabendo disso e começamos a comentar com os amigos. Corremos atrás de patrocínio, fizemos financiamento coletivo e ainda tivemos muitos colaboradores. É muito bom ver que tem gente disposta a fazer o bem;, explicou uma das organizadoras, Marcela Nóbrega, 24, estudante de marketing.
Com a ajuda de um e outro, os estudantes conseguiram unir esforços e oferecer muito mais do que prevê o projeto original. Além das compras, os moradores de rua tomaram café da manhã, almoçaram, cortaram o cabelo, as crianças tiveram pintura de rosto e atendimento médico. Alunos de medicina fizeram atendimentos simples, como aferir pressão e dar orientações básicas. ;Falamos sobre alimentação, sobre a rotina deles, pois muitos não têm o menor suporte, para nada. E isso nos preocupa;, comentou a voluntária Isabela Diniz, 21, estudante de medicina na Faciplac. Francisca Oliveira da Silva, 34, aproveitou para ver se estava tudo bem com um dos filhos, que está gripado. Ela está grávida de cinco meses do quinto filho, mas não descuida da saúde de ninguém. ;Procuro sempre estar atenta. Vou todo mês ao posto de saúde;, afirmou.
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