postado em 07/09/2015 07:30
Alcançar resultados melhores no ensino médio é um dos maiores desafios da educação brasileira hoje, e o cenário não é diferente no Distrito Federal. A divulgação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014 por Escolas traz vários dados que ajudam a entender, para além do ranqueamento por notas, os fatores que pesam no fracasso dessa etapa do ensino. Na série de reportagens que começa hoje, o Correio mostrará o papel de gestores, professores, família e alunos para que o ensino médio cumpra a função de preparar os jovens ao caminho que eles escolherem seguir na vida adulta.
No DF, a discrepância entre o desempenho da rede pública e o da rede privada é uma das menores do país, de 14%, segundo levantamento do Instituto Ayrton Senna (veja quadro). No entanto, apesar de contar com bons índices em comparação a outras unidades da Federação ; 58% das escolas obtiveram notas maiores que a média nacional no Enem 2014 ;, o DF nem sequer conseguiu alcançar a meta do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para 2013, que era de 4,1. O resultado foi 4. Para este ano, o objetivo é chegar a 4,5 e, em 2021, a 5,4.
Outro fator que pesa no desempenho das escolas no Enem é o Indicador de Nível Socioeconômico (Inse), que leva em consideração o nível de escolaridade dos pais e a posse de bens e contratação de serviços pela família dos estudantes. Quanto mais baixo o índice, pior é o desempenho do estudante, independentemente da rede em que ele está matriculado. ;O fator socioeconômico, sendo muito importante, acaba nivelando (os estudantes) em termo de aprendizagem;, avalia Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna. Em Brasília, a maioria das escolas foi classificada nas faixas média a muito alta. Mesmo assim, é possível perceber a influência do fator socioeconômico. A média das escolas com Inse muito alto é de 588 pontos no Enem, enquanto as de Inse médio ficaram com nota 489.
O Centro de Ensino Médio Setor Oeste está entre as escolas públicas com indicador socioeconômico alto e foi uma das mais bem colocadas no Enem 2014 no DF, com média de quase 540 pontos. A diretora, Ana Maria Gusmão, e a vice, Danielle Galvarros, acreditam que um dos fatores que levam ao bom desempenho é o fato de o projeto político pedagógico ser flexível e sempre discutido com a comunidade, os professores e os alunos. ;Quando começamos com o projeto, em 2008, o foco dos alunos era passar na UnB. Hoje em dia, eles buscam também outras federais, os cursos tecnológicos e as particulares, que têm corrido atrás e aberto um leque de possibilidades, que, há alguns anos, eles não tinham;, detalha Ana Maria.
Ela lembra ainda que o fato de estar no Plano Piloto diferencia a escola de outras que ficam mais afastadas do centro. Também destaca a dedicação do corpo docente. ;A maioria dos profissionais que temos aqui já está há muitos anos na Secretaria de Educação. Vários deles passaram pelo ensino particular e trazem outras experiências educacionais;, afirma. O maior desafio da gestão, na opinião dela, é convencer os estudantes da importância da tarefa desempenhada na escola e dar as melhores condições para os professores atuarem. ;O trabalho do gestor fica camuflado no processo todo;, avalia.
Criatividade
Os cortes de gastos que o Governo do Distrito Federal vem anunciando desde o início do ano não pouparam a educação. A volta às aulas da rede pública atrasou três semanas este ano, duas delas devido a reparos que a Secretaria de Educação do DF (SEDF) precisou fazer nas escolas para receber os alunos. ;É inegável que os problemas estruturais constituem fatores limitantes, mas não são motivo para que não avancemos;, avalia o secretário de Educação do DF, Júlio Gregório. ;Nós temos que usar a criatividade. O bom gestor é forjado não no momento de bonança, mas nos de dificuldades, como os que nós estamos vivendo;, completa Gregório.
A secretaria lançou, a última sexta-feira, o programa Por dentro dos exames do ensino médio, justamente com o objetivo de preparar estudantes da rede pública para provas como o Enem e o Programa de Avaliação Seriada, da Universidade de Brasília (PAS/UnB). Esse é um exemplo, segundo o secretário, de projeto feito praticamente sem custo nenhum. Como parte da iniciativa, professores de língua portuguesa da SEDF participarão de oficinas de redação sobre o Enem e, ainda este mês, estudantes do 3; ano do ensino médio regular farão um simulado com o objetivo de se preparar para os exames oficiais.
Para Álvaro Moreira Domingues Júnior, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares do Distrito Federal (Sinepe-DF), a autonomia é o principal fator que diferencia a gestão da escola pública da escola privada. ;Acredito que, quanto mais descentralizada é a educação e quanto mais autonomia se conceder às instituições educacionais, mais êxito teremos na aprendizagem. A escola privada consegue esses resultados porque tem autonomia, é uma gestão voltada para metas e resultados;, afirma.
Um dos dados que chama a atenção em relação às escolas privadas é o Indicador de Permanência na Escola (IPE), que mostra o percentual de participantes que cursaram as três séries do ensino médio na mesma instituição. Todas as escolas do DF com índice inferior a 20% são particulares ; 12, num total de 183 ranqueadas no Enem por Escolas 2014. ;O que ocorre, na maioria das vezes, é que os alunos buscam, nos últimos anos do ensino médio, escolas com histórico de bom desempenho no Enem;, justifica Álvaro. Ele destaca que o índice é importante para que se tenha uma medida real de quanto a escola influenciou no desempenho do aluno. Ele acredita que outra possível solução para essa distorção seria a implantação do Enem de maneira seriada, nos moldes do PAS, da UnB. ;Você poderia ver exatamente qual escola consegue agregar ao aluno mais formação cognitiva ao longo de três anos;, conclui.
No DF, a discrepância entre o desempenho da rede pública e o da rede privada é uma das menores do país, de 14%, segundo levantamento do Instituto Ayrton Senna (veja quadro). No entanto, apesar de contar com bons índices em comparação a outras unidades da Federação ; 58% das escolas obtiveram notas maiores que a média nacional no Enem 2014 ;, o DF nem sequer conseguiu alcançar a meta do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para 2013, que era de 4,1. O resultado foi 4. Para este ano, o objetivo é chegar a 4,5 e, em 2021, a 5,4.
Outro fator que pesa no desempenho das escolas no Enem é o Indicador de Nível Socioeconômico (Inse), que leva em consideração o nível de escolaridade dos pais e a posse de bens e contratação de serviços pela família dos estudantes. Quanto mais baixo o índice, pior é o desempenho do estudante, independentemente da rede em que ele está matriculado. ;O fator socioeconômico, sendo muito importante, acaba nivelando (os estudantes) em termo de aprendizagem;, avalia Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna. Em Brasília, a maioria das escolas foi classificada nas faixas média a muito alta. Mesmo assim, é possível perceber a influência do fator socioeconômico. A média das escolas com Inse muito alto é de 588 pontos no Enem, enquanto as de Inse médio ficaram com nota 489.
O Centro de Ensino Médio Setor Oeste está entre as escolas públicas com indicador socioeconômico alto e foi uma das mais bem colocadas no Enem 2014 no DF, com média de quase 540 pontos. A diretora, Ana Maria Gusmão, e a vice, Danielle Galvarros, acreditam que um dos fatores que levam ao bom desempenho é o fato de o projeto político pedagógico ser flexível e sempre discutido com a comunidade, os professores e os alunos. ;Quando começamos com o projeto, em 2008, o foco dos alunos era passar na UnB. Hoje em dia, eles buscam também outras federais, os cursos tecnológicos e as particulares, que têm corrido atrás e aberto um leque de possibilidades, que, há alguns anos, eles não tinham;, detalha Ana Maria.
Ela lembra ainda que o fato de estar no Plano Piloto diferencia a escola de outras que ficam mais afastadas do centro. Também destaca a dedicação do corpo docente. ;A maioria dos profissionais que temos aqui já está há muitos anos na Secretaria de Educação. Vários deles passaram pelo ensino particular e trazem outras experiências educacionais;, afirma. O maior desafio da gestão, na opinião dela, é convencer os estudantes da importância da tarefa desempenhada na escola e dar as melhores condições para os professores atuarem. ;O trabalho do gestor fica camuflado no processo todo;, avalia.
Criatividade
Os cortes de gastos que o Governo do Distrito Federal vem anunciando desde o início do ano não pouparam a educação. A volta às aulas da rede pública atrasou três semanas este ano, duas delas devido a reparos que a Secretaria de Educação do DF (SEDF) precisou fazer nas escolas para receber os alunos. ;É inegável que os problemas estruturais constituem fatores limitantes, mas não são motivo para que não avancemos;, avalia o secretário de Educação do DF, Júlio Gregório. ;Nós temos que usar a criatividade. O bom gestor é forjado não no momento de bonança, mas nos de dificuldades, como os que nós estamos vivendo;, completa Gregório.
A secretaria lançou, a última sexta-feira, o programa Por dentro dos exames do ensino médio, justamente com o objetivo de preparar estudantes da rede pública para provas como o Enem e o Programa de Avaliação Seriada, da Universidade de Brasília (PAS/UnB). Esse é um exemplo, segundo o secretário, de projeto feito praticamente sem custo nenhum. Como parte da iniciativa, professores de língua portuguesa da SEDF participarão de oficinas de redação sobre o Enem e, ainda este mês, estudantes do 3; ano do ensino médio regular farão um simulado com o objetivo de se preparar para os exames oficiais.
Para Álvaro Moreira Domingues Júnior, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares do Distrito Federal (Sinepe-DF), a autonomia é o principal fator que diferencia a gestão da escola pública da escola privada. ;Acredito que, quanto mais descentralizada é a educação e quanto mais autonomia se conceder às instituições educacionais, mais êxito teremos na aprendizagem. A escola privada consegue esses resultados porque tem autonomia, é uma gestão voltada para metas e resultados;, afirma.
Um dos dados que chama a atenção em relação às escolas privadas é o Indicador de Permanência na Escola (IPE), que mostra o percentual de participantes que cursaram as três séries do ensino médio na mesma instituição. Todas as escolas do DF com índice inferior a 20% são particulares ; 12, num total de 183 ranqueadas no Enem por Escolas 2014. ;O que ocorre, na maioria das vezes, é que os alunos buscam, nos últimos anos do ensino médio, escolas com histórico de bom desempenho no Enem;, justifica Álvaro. Ele destaca que o índice é importante para que se tenha uma medida real de quanto a escola influenciou no desempenho do aluno. Ele acredita que outra possível solução para essa distorção seria a implantação do Enem de maneira seriada, nos moldes do PAS, da UnB. ;Você poderia ver exatamente qual escola consegue agregar ao aluno mais formação cognitiva ao longo de três anos;, conclui.