Após a retirada dos integrantes do Movimento de Resistência Popular pelo Direito à Cidade (MRP) do St Peter Hotel, no último domingo, o cenário visto dentro do hotel é de bagunça e depredação. Um pó branco, vindo dos extintores de incêndio, está por toda a parte, indício de tentativa para esconder as digitais. No último andar, o 15;, no qual ficam as suítes mais luxuosas, há portas arrombadas e objetos revirados. A situação é semelhante no restaurante, onde louças estão quebradas e diversas garrafas de bebida, esvaziadas. No almoxarifado e nos escritórios, documentos e aparelhos também estão jogados. Segundo um funcionário do estabelecimento que preferiu não se identificar, o local, mesmo fechado para reforma, estava preservado antes da ocupação. No hall, parte do teto de gesso cedeu, deixando um enorme buraco no forro.
Segundo líderes do MRP, no entanto, os danos não foram causados durante a ocupação do grupo. ;Quando chegamos, o lugar estava abandonado. Tivemos até de tirar alguns moradores de rua que se encontravam no subsolo. Parte do telhado caiu, sem nem fazermos nada. Se a Defesa Civil inspecionasse, mostraria que a estrutura estava comprometida antes de chegarmos;, alegou Francinaldo Silva, um dos coordenadores do movimento.
Além da destruição, os proprietários reclamam de furtos durante a semana de invasão. Representantes dos donos do prédio reclamam que pelo menos 12 televisores, diversas louças, roupas de cama, garrafas de bebida e câmeras de vídeo usadas em uma emissora de rádio com sede no hotel foram levados. Os sem-teto, entretanto, negam qualquer crime no período em que estiveram no St Peter. ;Desocupamos o hotel com a escolta da polícia e deixamos claro que podiam vistoriar tanto o prédio quanto os nossos pertences durante a saída;, defendeu-se Francinaldo. Ele argumentou que os furtos e os estragos podem ter sido forjados para culpar o grupo. ;De ontem (domingo) para hoje (segunda-feira), não pisamos lá. Os únicos que tiveram acesso foram os donos do hotel. Eles podem muito bem ter causado tudo isso;, sugeriu.
Para o advogado Sérgio Roncador, representante dos proprietários, é difícil estimar o valor total do prejuízo, mas ele acredita que chegue à casa dos milhões de reais. ;Se contarmos os investimentos na reforma que foram perdidos, os danos causados, os objetos furtados, além dos gastos com novas obras e limpeza, acredito que a quantia alcance os R$ 7 milhões;.
Por enquanto, a guerra de versões deve seguir no campo das acusações, uma vez que a perícia conduzida pela Polícia Civil teve início na manhã de segunda-feira, mas sem previsão de término. Apenas após a investigação, os responsáveis pelo St Peter tomaram alguma medida. ;Com a perícia, teremos um levantamento real das perdas ocasionadas e poderemos entrar com ações civis e penais cabíveis;, explicou Sérgio. ;Com tudo isso, a reabertura do hotel, marcada para outubro, só deverá acontecer em 2016;.
Novo alojamento
Por meio de um acordo com o governo, os manifestantes do MRP estão alojados, temporariamente, no Clube Primavera, em Taguatinga. O espaço pertencente ao governo está desativado, segundo a Secretaria de Ordem Pública e Social (Seops).
Francinaldo Silva disse que as conversas com o governo serão mantidas e, em breve, as documentações exigidas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab) serão enviadas. Enquanto isso, o órgão encaminhará equipes da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) e da Companhia Energética de Brasília (CEB) para restabelecer água e luz. Para Silva, a realocação foi ;uma pequena vitória do grupo;. ;Estamos lutando faz tempo. Agora, o diálogo com o governo está bom. Estamos mais tranquilos aqui, sem medo de a polícia nos tirar a qualquer momento. Mas ainda buscaremos o objetivo final, que é a moradia definitiva;, afirmou.
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