Cidades

"Políticos precisam muito de Deus", diz padre Moacir Anastácio

Analfabeto até a adolescência, ele lançou livro que será vendido em todo o país

Breno Fortes
postado em 03/10/2015 08:05

Analfabeto até a adolescência, ele lançou livro que será vendido em todo o país


Ele é um homem tímido que leva multidões às missas que celebra. Padre Moacir Anastácio, 53 anos, atrai 2 milhões de pessoas ao Taguapark, todos os anos, para a celebração de Pentecostes. As missas de cura, que lidera toda semana, lotam o salão da Paróquia São Pedro, em Taguatinga Sul. Lá, 12 mil fiéis se apertam em busca de acolhimento. A história do jovem cearense analfabeto que se tornou religioso está registrada no livro A força que vem da cruz, lançado ontem em todo o país. A obra conta as dificuldades que Anastácio enfrentou e como chegou ao posto que ocupa. Em razão da influência que tem sobre os fiéis, por vezes é assediado por homens públicos, como políticos. Leia abaixo a entrevista para o Correio.

Como surgiu a ideia do livro?

Eu escrevi A força que vem da cruz duas vezes dentro do seminário, onde fiquei doze anos. Lá, comecei a minha jornada. Então, cada dificuldade, cada situação complicada, de sair do seminário, de ser literalmente expulso do convento, eu fui escrevendo. E aí, quando este livro já estava pronto, ele sumiu da minha mesa. Ele sumiu e eu tive que recomeçar do zero. E então eu terminei a primeira edição deste livro no dia da minha ordenação, em 30 de novembro de 1996. A mensagem do livro é a superação de alguém que saiu do abismo para as alturas.

E como foi o primeiro encontro com Deus?
Foi em 12 de junho de 1983. Eu trabalhava em um hotel, aqui em Taguatinga, que se chamava Colorado. Eu trabalhei cinco anos, foi meu primeiro e único emprego com carteira assinada. Mas eu tinha chegado do Nordeste e, quando eu cheguei do Nordeste, sem família, 100% ignorante de tudo, eu me perdi mesmo. Então, depois de cinco anos, no Dia dos Namorados, eu saí do hotel para ir ao cinema. E, de repente, eu mudei a direção. Até hoje eu não entendo o que aconteceu e como eu mudei a direção. Eu estava a pé, na Avenida Comercial, e, de repente, eu me vi subindo as escadas do Santuário do Perpétuo Socorro. Uma força imensa me colocou de joelhos. Era a primeira vez que eu ficava de joelhos diante de uma imagem, diante de um crucifixo. Eu não tinha nada de religião, nunca tinha feito catequese, nunca tinha feito nada. Naquela época, eu vivia no mundo da noite, das boates, com um vazio imenso, uma solidão imensa. Acho que, na época, isso era depressão e eu não sabia. Eu olhei para a cruz e disse: ;Homem da cruz, se você existe, me ajuda;. Essa frase ficou marcada. Dali, eu senti que muitas coisas ruins estavam saindo de mim.

E o senhor namorava naquela época?

Porque era Dia dos Namorados...
Eu tinha terminado naquela época. Tinha muitas namoradas, mas nesse dia eu estava sem ninguém.

No livro, há relato de que, com 12 anos, o senhor se pegou rezando no altar da sua mãe. Foi um momento importante?
Eu tive algumas experiências fortes com Deus. Aos cinco anos de idade, brincando com o lixo em casa, eu achei uma folha bíblica, jogada e suja. Nessa folha estavam desenhados três homens crucificados. Eu escutei uma voz dentro de mim dizendo que aquele do meio era Jesus Cristo, filho de Deus, que havia morrido por mim. E aí eu tive uma crise de choro. Fiquei horas e horas naquele lixo, com a folha na mão, chorando com pena daquele homem que era tão bom. Esse foi meu primeiro grande encontro com Deus. Aos 12, 13 anos, eu fui para Canindé, no interior do Ceará, para a festa de São Francisco de Assis. E aí, meu pai me colocou em uma fila para me confessar. Eu não sabia o que era confessar, nunca tinha feito catequese. Ele disse ;conversa com aquele homem sentado ali;. A fila era imensa e todo mundo dizia ;chegou a minha vez;. Eu pensei que era só dizer ;chegou minha vez;. Aí o frade percebeu que eu não sabia nada, mas foi me enchendo de perguntas. Então, a confissão, que deveria demorar três minutos, demorou 40.

O senhor teve essas experiências fortes, mas passou um tempo afastado da religião...

Sim, eu tive que sair da minha região, da minha família. Aos 16 anos, eu vim para Brasília. Vim fugido da seca, da miséria, não dava mais para ficar lá. Saí de lá com um sapato, uma calça e duas camisas. Foram quatro dias para chegar aqui. A viagem mais longa que eu vivi. E, quando cheguei em Brasília, no mês de junho, fazia muito frio. Cheguei na Rodoviária, me deparei com Brasília. Ali, não tinha ninguém me esperando. Foi muito difícil. Fiquei três meses desempregado. Passei por momentos muito difíceis. E na cidade grande, sem pai, sem mãe, que fazem uma falta danada, eu me perdi. Eu lembro que naquela época eu descobri cerveja. Depois, fui descobrir as outras bebidas. E tudo era novidade. A primeira namorada, as primeiras boates. O que eu ganhava só dava para isso. Aí eu me perdi, mas Deus me achou.

Imaginava que tanta gente o seguiria?
Não imaginava. Deus me falou em locução interior que isso ia acontecer.

Muitos políticos o procuram. Como é essa relação?
Trato os políticos como têm que ser tratados: com educação. Mas os políticos precisam muito de Deus. Eles vêm muito aqui, mas vêm de todos os estados do Brasil. De Brasília, sempre vêm. Vem deputado distrital, federal, governador, vem tudo. Procuro ter amizade, amizade de autoridade. Procuro respeitá-los, mas não pode dar muita brecha.

O senhor já teve algum problema com tentativas de ingerência, com pedidos?

Não. O que eles querem na campanha é que eu os apresente, diga que eles são bons.

Se o senhor apresentar, pode eleger alguém...
Não sei. Na festa de Pentecostes, que dá 2 milhões de pessoas, eu apresento, agradeço a presença, mas não permito falar em microfone. Só apresento e agradeço, porque tem que agradecer mesmo a presença deles. São importantes, a política é um dom de Deus. Eu acredito que todo poder vem de Deus. Agora, eles não sabem, muitas vezes, é usar esse poder. A política é uma graça. Veja a nossa situação que estamos vivendo hoje. Se não estiver bom, se não tiver liderança, a gente não sai nunca dessa situação.

Incomoda-o essa tentativa de aproximação dos políticos?

Vejo como uma oportunidade de evangelizá-los. Eles são muito tentados, então precisam muito de oração. E muitas vezes eles não sabem de nada. Não têm espiritualidade nenhuma. É necessário a gente ajudar também.

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