Cidades

Com greve, número de procedimentos feitos em hospitais públicos cai 16,7%

Falta de profissionais na rede pública compromete as operações eletivas e atrapalha o tratamento de pacientes com necessidades específicas. Dos 13 hospitais regionais, sete apresentam queda no total de procedimentos desse tipo

Otávio Augusto
postado em 16/10/2015 06:10

Cauã Victor da Silva Lira, 4 anos, nunca foi para a escola ou tomou banho de piscina. Para continuar vivo e realizar esses sonhos, precisa de uma cirurgia na mandíbula para tratar a síndrome de Pierre Robin, que prejudica o desenvolvimento do queixo. O nome do menino está há quase um ano na fila de espera de cirurgias eletivas, aquelas que exigem a marcação. O número desse procedimento caiu 16,7% no primeiro semestre, em comparação com o mesmo período de 2014. O Hospital de Base do DF é a unidade que mais realiza essas operações na capital federal. Até julho, 4.175 pessoas chegaram ao centro cirúrgico ; 12% menos em relação ao ano passado.

A Secretaria de Saúde não tem dados sobre a fila no DF para intervenções com agendamento, apesar de o Ministério da Saúde recomendar que os gestores locais mantenham o controle desse número. Especialistas ouvidos pelo Correio elencaram três fatores principais para o problema: desorganização do sistema, infraestrutura sucateada e falta de recursos humanos. A maior diminuição foi no Hospital Regional de Brazlândia, que realizou, em 2014, 302 cirurgias, um percentual 40,1% menor que em 2013, segundo o Relatório dos Serviços Médico-hospitalares da Secretaria de Saúde (leia Em queda). No Hospital Regional de Planaltina, a suspensão do pagamento de horas extras deixou pelos menos 300 pessoas à espera. De 13 unidades regionais, sete apresentam queda.

O maior desafio, segundo avaliação do presidente do Conselho de Saúde do DF, Helvécio Ferreira, é a defasagem dos equipamentos. ;São instalações antigas, com aparelhos sucateados, que começaram a ficar prejudicados com a extinção da fundação hospitalar (em 2002). A secretaria (de Saúde) está refém da tecnologia de terceiros, e isso não pode acontecer;, avalia.

Até outubro, a pasta chefiada por Fábio Gondim recebeu do governo federal R$ 403 milhões para o custeio exclusivo desses procedimentos. Além desse recurso, a Portaria n; 1.034, publicada em julho, estabeleceu um recurso adicional de até R$ 4,6 milhões, que deve ser pago à medida que as operações sejam realizadas. Até agora, o Executivo local levou mais R$ 2,5 milhões, segundo o Ministério da Saúde. ;Não há planejamento de administração. Os gestores nem sequer conhecem a demanda reprimida. Somam-se a este problema os custos derivados dos procedimentos que o sistema público paga aos hospitais particulares para realizá-los;, explica Fernando Castanheira, consultor em saúde pública.

A redução de horas extras, para Gutemberg Fialho, presidente do Sindicato dos Médicos (SindMédico-DF), foi o maior golpe sofrido pelo setor. ;Sem médico, anestesista e outros profissionais não tem como operar. A escassez de recursos humanos é um desafio que o governo deve enfrentar. As baixas não estão sendo repostas;, reclama.

Ponto crítico
Enquanto isso, Cauã aguarda o implante de um extrator mandibular bilateral para normalizar a posição do queixo. Em fevereiro, submeteu-se a uma traqueostomia como tratamento paliativo. A família recorreu à Justiça para garantir assistência. ;A última informação que tive foi há quase dois meses, quando liguei no hospital e disseram que estavam fazendo uma pesquisa de preço;, queixa-se Priscila da Silva Melo, 29, que parou de trabalhar como recepcionista para cuidar do filho. Atualmente, o menino de 4 anos tem apenas 14kg ; o normal para a idade dele são pelo menos 20kg. A família mora em Samambaia Norte, a 42km do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde iniciou o tratamento. ;Não tenho condições de comprar esse aparelho (extrator) sem vendermos tudo o que temos.;

A Secretaria de Saúde informou, em nota, que as cirurgias eletivas de oncologia e de ortopedia seguem a agenda de cada hospital ; as demais especialidades estão suspensas devido à greve dos servidores. Segundo a pasta, a falta de profissionais é um ponto crítico. ;O número de anestesiologistas precisa de reforço. Convocamos, neste ano, 50 aprovados em concurso; no entanto, apenas 23 tomaram posse;, diz o texto. A pasta garante que não há escassez de materiais básicos que comprometam a realização de cirurgias.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação