Cidades

Exposição gratuita mostra a importância do parto normal e humanizado

A intenção é diminuir o número de cesarianas desnecessárias e garantir o empoderamento feminino no momento de dar à luz

postado em 22/10/2015 06:10
O visitante passa por vários ambientes, entre eles o que simula o útero materno: o sofá faz papel de placenta e a temperatura é adequada
Imaginar a sensação de estar dentro do útero materno é possível na exposição Sentidos do nascer, aberta gratuitamente ao público, em Ceilândia. O intuito do projeto, em parceria com o Ministério da Saúde, é reduzir o número de cesáreas. O Plano Piloto será a próxima região a receber a mostra, de 30 de outubro a 25 de novembro, no estacionamento ao lado do Conjunto Nacional. Ao chegar à exposição, o público entra em uma salinha escura onde é simulada uma gestação. Um monitor captura a imagem da pessoa e projeta uma ;barriguinha; com um bebê. Mediadores apresentam o conceito do plano de parto ; lista de itens relacionados ao momento de parir, sobre os quais a mãe deve pensar e refletir. Isto inclui escolher onde quer ter o bebê, quem estará presente, quais são os procedimentos médicos aceitos e quais prefere-se evitar.

Em seguida, o público chega a uma loja de conveniência da maternidade cirúrgica. Uma vendedora oferece produtos em potes de plástico fictícios e com linguagem irônica, que são ofertados para a gestante como serviços. Uma equipe fotográfica para o dia do nascimento e leites artificiais, por exemplo, podem ser adquiridos. Por meio dessa venda fictícia, é feita uma crítica: nem tudo que é comercializado é necessário. ;O papel da lojinha é para que as pessoas possam pensar: será que é realmente necessário marcar a data do nascimento do meu filho, para ser mais cômodo para o médico, para mim ou para eu poder ficar bonita? Preciso fechar com uma equipe de foto e filmagem? Muitas vezes, é permitida a equipe de foto, mas não deixam entrar o acompanhante, que poderia ser a pessoa a registrar esse momento. Também falamos da amamentação, que é superimportante. Uma prática no sistema de saúde brasileiro é prescrever para mães que estão com seus recém-nascidos complemento alimentar, ou seja, leites artificiais;, conta a enfermeira e coordenadora de Mediação do local, Tamara Rubia Lino de Lima, 26 anos.

Após essa etapa, o visitante é conduzido à sala das controvérsias. Lá, telas com vários profissionais, como obstetras e doulas, aparecem com dicas. O último a falar é um pediatra que relata o benefício do parto normal para o bebê: ele amadurece dentro do útero e ganha peso, entre outras vantagens. Por fim, o espectador vive a experiência única do renascimento: um útero com sofá/placenta, cordão umbilical e o canal vaginal. Ao fundo, a voz de um bebê passa a mensagem: ;Mãe, eu preciso desse tempo. É importante para mim. A gente sabe quando é o momento. Vamos começar esse trabalho de parto juntos. Você pode me esperar? Não precisa ter pressa;. Enquanto isso, o visitante caminha pelo canal vaginal e, finalmente, nasce. A primeira imagem que o público vê quando sai do canal vaginal é a figura da mãe, para ressaltar o conceito de que o melhor para o recém-nascido é ficar no colo de quem o gerou; e não necessariamente em uma encubadora aquecida.

A exposição também oferece conversas com doulas, psicólogos e fisioterapeutas. Dicas desses profissionais ajudaram a família da Valéria Duarte Ribeiro. Aos 39 anos, ela tem cinco filhos, todos nascidos por parto normal. Ela levou a filha Helen Caroline Duarte, 19 anos, grávida de 30 semanas, para aprender um pouco mais. ;É muito importante essa orientação, porque a gente abre o olho para os nossos direitos. Até hoje, tinham coisas que eu não sabia, sendo mãe de cinco filhos, como, por exemplo, que tinha o direito de entrar com a minha filha para assistir ao parto dela. Também pensava que a mulher tinha o filho por cesárea porque queria. Aprendi aqui que tem cesáreas que são necessárias para poupar a vida da mãe e a da criança;, relatou ela. Helen quer seu parto normal. ;Estou bem informada sobre o tema, tenho lido bastante sobre o parto normal, vim aqui para vivenciar a experiência;, disse.


Parto humanizado
Hoje, no Brasil, 57% dos bebês nascem por cesarianas. A Organização Mundial da Saúde (OMS), porém, recomenda que apenas 15% dos partos sejam feitos por esse método, que só é indicado quando o parto normal não é possível. Em 28 de agosto deste ano, o Governo do DF sancionou o Estatuto do Parto Humanizado, para assegurar assistência às gestantes em todas as unidades de saúde do DF, públicas ou privadas. Entre os direitos das grávidas, está o de a gestante optar pela presença de uma doula ; a palavra vem do grego ;mulher que serve;. Elas dão suporte físico e emocional antes, durante e após o parto. A presença da doula não tira o direito a um acompanhante. A lei esclarece que a assistência deve ser feita por médico obstetra, enfermeiro obstetra e técnico de enfermagem, com apoio de doula, quando solicitado.

A principal diferença entre o parto natural humanizado e o parto normal é a maneira como o processo é conduzido. No parto humanizado, o atendimento é centrado na mulher, que é tratada com respeito e de forma carinhosa. Ela pode desfrutar da companhia da família, caminhar e tomar banho para aliviar as dores. As intervenções de medicamento, a aceleração do parto e o corte vaginal ocorrem somente quando é necessário.

A doula Elaine Meireles, 29 anos, é uma das voluntárias da exposição. Ela explica que muitas mulheres optam pela cesariana por falta de informação. ;Aqui, o objetivo é desmistificar o parto normal e tentar trazer para a discussão os direitos que as gestantes têm;, explicou. Para ela, o parto humanizado é indicado porque a mulher é protagonista e diminui riscos de sofrer violência obstétrica. ;Queremos instruir, informar e tentar combater esses medos e violências;, explicou. O casal Natanael Novaes, 23 anos, e Elisângela Aparecida, 24, buscou conhecimento. Ela, com apenas um mês de gestação e grávida do primeiro filho, optará pelo parto normal. ;Pensava mais em cesárea. Agora, também escolho o parto normal pela recuperação mais rápida e pela saúde do bebê;, contou.

A Coordenadora da Saúde das Mulheres, do Ministério da Saúde, Esther Vilela, informa que o órgão público assume a necessidade de mudanças no perfil dos partos no Brasil. ;No sistema privado, é mais comum a cesárea de hora marcada. No público, é mais comum um modelo de atenção ao parto normal, que não é adequado por gerar violência e medo desnecessário. O parto humanizado é respeitoso, realizado em um ambiente adequado para que a mulher se sinta fortalecida, para ela fazer o que ela sabe fazer: parir. Temos a Rede Cegonha (estratégia do ministério para implementar uma rede de cuidados e assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez), para diminuir a mortalidade materna e neonatal e transformar o parto e o nascimento em produção de vida e saúde para as mulheres e suas famílias.; De acordo com Esther, a exposição reforça as estratégias do Ministério da Saúde.

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