Cidades

"Hotel do crack" abriga grupo de sem-teto no Setor Hoteleiro Norte

Após serem expulsos do luxuoso St. Peter e do abandonado Clube Primavera, integrantes do Movimento Resistência Popular invadem esqueleto de hospedaria em frente à Torre de TV, onde moram usuários de drogas. Polícia alega não poder fazer nada por falta de manifestação dos donos

postado em 24/10/2015 08:06

Sem conflitos com usuários de drogas, cerca de 120 integrantes do MRP ocupam a precária estrutura

Integrantes do Movimento Resistência Popular pelo Direito à Cidade (MRP) invadiram o segundo hotel no centro de Brasília, em menos de dois meses. Mas os cenários são bem diferentes. Na primeira vez, eles ocuparam o luxuoso e mobiliado St. Peter, no Setor Hoteleiro Sul. Agora, estão no esqueleto do antigo Torre Hotel, dividindo espaço com traficantes e usuários de drogas, no Setor Hoteleiro Norte. Desde ontem, 120 pessoas montaram acampamento na precária estrutura, em frente à Torre de TV, aliando-se a 30 dependentes químicos, que vez ou outra recebem a visita dos fornecedores de crack e de drogas injetáveis. Outrora uma hospedagem de luxo com vista privilegiada da capital, o edifício entrou em decadência em função da disputa entre herdeiros. Enquanto eles não se manifestarem judicialmente sobre a invasão, pedindo a reintegração de posse, a Polícia Militar não tem autonomia para desocupar o prédio.

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Em vez das portas de vidro espelhadas do St. Peter, onde os sem-teto ficaram oito dias, no Torre Hotel, os invasores se deparam com a falta de guarda-corpo, nas escadas; e de janelas, nos quartos. Não há água nem energia elétrica, tampouco mobiliário. As paredes estão pichadas e sem reboco. Falta revestimento no teto e no chão, sujo de vidro, restos de comida, seringas usadas para o consumo de drogas e de preservativos. Parte dos espelhos de cristal, enfeite de um restaurante no mezanino, resistiram à ação do tempo e do homem, como se lembrassem os tempos áureos vividos ali. Por coincidência, justamente em frente a ele, foi montado um quartel-general da liderança do MRP.

Até a noite de quinta-feira, o grupo estava abrigado no Conic, onde havia chegado após ter sido retirado do também abandonado Clube Primavera, em Taguatinga (veja Memória). A mais recente mudança começou por volta da meia-noite de quinta-feira. ;Saímos (do Primavera) sob alegação de termos cometido crimes. Eles nos jogaram na rua, ficamos sem casa, e, neste frio, tivemos que tomar uma atitude;, contou um dos coordenadores do grupo, Francinaldo Silva. O termômetro nas imediações da Rodoviária do Plano Piloto marcava 19;C, na chuvosa noite de quinta-feira, quando a decisão foi tomada. ;Um terço dos nossos associados é mulher e criança. Não podemos ficar em albergue, porque é sujo e somos maltratados;, alegou. De acordo com o líder do MRP, Edson Silva, a militância pretende chamar a atenção do governo para novas negociações. ;Se precisar colocar fogo em Brasília, faremos isso. Estamos cansados de propostas vazias e de sermos jogados de um lado para outro;, afirmou.

Monitoramento
Horas depois de a invasão começar, os usuários de drogas também chegaram ao hotel, onde costumam dormir, após uma noite perambulando pela área central em busca de entorpecentes. Às 5h, com o céu ainda escuro, chovia na capital, no momento do encontro entre os sem-teto e os usuários. ;Houve briga e gritaria. Acordei no susto, mas não vi direito, por causa do horário de verão. Ainda não havia amanhecido;, contou uma hóspede do hotel em frente.

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