Ricardo Daehn
postado em 24/10/2015 20:58
Um protesto silencioso e bastante reduzido, na frente da unidade da Casa Thomas Jefferson, na 606 Norte, tentou chamar a atenção das mais de 100 pessoas que participavam de uma das palestras do biofísico alemão Andreas Kalcker em Brasília. Representante legítima da bandeira da maior disseminação de dados sobre o autismo, autista, a estudante de artes plásticas Amanda Paschoal esteve com o namorado, Vitor Nascimento, em frente ao portão, por onde teria passado o estrangeiro, depois de um encontro no qual teria estimulado o uso do dióxido de cloro (CDS) no que ele chama de "protocolo" associado a tratamentos relacionados a autismo, malária, câncer, aids e infecções variadas.
[SAIBAMAIS]Na saída da dinâmica que envolveu mais de 100 interessados, o Correio tentou conversar com Kalcker que, curiosamente, teria deixado o local imediatamente após a palestra. É sabido porém ele encoraja, na passagem pela América Latina, temas ligados a terapia oxidativa. Para além da internet, no qual difunde preceitos, Kalcker endossa a ideia de que o clorito de sódio, junto com ácido fraco, se combinam no desembocar do gás de dióxido de cloro. Costumeiramente confundido com o clorato sódico, o resultado livraria o organismo de muitos vermes, bactérias, parasitas e células doentes.
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O chamado MMS (mineral mestre) deu base aos estudos do alemão, que afirma ter minimizado artrite reumatoide com uso da substância. Morador da Espanha, Andreas Kalcker chamou a atenção de pessoas como Jaqueline Bossan, química que se deslocou de Ribeirão Preto, interessada em comprovar a viabilidade econômica de apostar nos estudos de Kalcker para obter lucro. "Antes de envolver uma empresa de distribuição, quis ver a qualidade dos produtos a serem importados, se for o caso", comentou. Atentos aos movimentos do pesquisador, os estudantes Amanda e Vitor tentaram mobilizar mais pessoas pelo protesto que foi esvaziado pelo choque de horário com o Enem. "Sem registro na Anvisa, o MMS não pode nem ser chamado de medicamente, nem usado como tal. Queremos que as pessoas parem e reflitam. Não temos nada contra debate, contanto que seja argumentativo", observou Vitor Nascimento.
Nas faixas criadas, os estudantes apostavam nos seguintes dizeres: "Anvisa, cadê você?", "Estude química e biologia" e "Autismo não é tragédia" (essa, em formato de coração). "As maiores vítimas destes protocolos são as crianças não falantes. Elas não podem expressar aquilo pelo qual passam, com a ingestão. Vamos pesquisar nas leis o que mais podemos fazer, com a finalidade de mobilizar mais pessoas. Há um excesso de preocupação em tornar as pessoas neurotípicas ("com cérebro normal"), a todo custo", comentou a estudante. Sem ter acesso ao evento, a exemplo da reportagem, o casal afirmou não poder desembolsar R$ 600, cada, para tomar parte do vento. Resignados, ambos se contentaram em entregar às pessoas um material de esclarecimento, formulado a partir de muitos documentos.
O uso inseguro do MMS (ou Suplemento Mineral Milagroso) é descrito pela concentração mais de 3,5 vezes superior à quantidade tolerada pelo organismo. Além disso, o dióxido de cloro é reforçado, em termos, de uso, como alvejante industrial. Sem comprovação de cura efetiva, pelo material presentado à imprensa, há indícios de que a substância possa acarretar em falência renal, além de refletir no escurecimento dos dentes, em erupção cutânea severa e em feridas particularmente em regiões mucosas. Vitor Nascimento ainda reforçou a venda clandestina, feita pela internet, e sublinhou dados apresentados pela campanha mundial Anti-MMS. Destruição de células vermelhas do sangue e sintomas de tontura e desorientação também foram destacados pelos estudantes.