Isa Stacciarini
postado em 27/10/2015 07:32
O caso do bebê de 1 ano que teve os dois pés queimados com água no momento em que era transferido da unidade de terapia intensiva (UTI) para um quarto do Hospital Brasília, no Lago Sul, é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal. Ele estava internado havia 14 dias em decorrência de otite e pneumonia. Caso sejam responsabilizados, os profissionais que fizeram o transporte da criança podem responder por lesão corporal culposa. A mãe, Fernanda Aguiar, 33 anos, registrou ocorrência na 10; Delegacia de Polícia (Lago Sul) na sexta-feira, um dia depois do ferimento de segundo grau. O delegado adjunto da unidade, Gustavo Farias Gomes, esclareceu que a apuração está em fase inicial, pois ainda não teve acesso aos laudos médicos.
O episódio aconteceu por volta das 23h da última quinta-feira. O bebê Miguel Aguiar Mendes tomou a última dose do antibiótico às 22h e, em seguida, foi liberado para o quarto. Uma garrafa térmica com água quente, utilizada para esterilizar a mamadeira da criança e outros objetos pessoais, foi deixada dentro do berço no qual o menino era transportado. No trajeto, ela virou e derramou o líquido nos pés da criança. ;No box da UTI, não tem armário para guardar as coisas. A mala dele, a caixa de fraldas e as sacolas de brinquedo estavam no chão. Na hora de transferi-lo para o quarto, colocaram tudo no berço;, contou Fernanda.
A avó materna acompanhava Miguel. Desesperada, ligou para a mãe da criança, que retornou ao hospital. ;As minhas pernas falharam quando vi o meu filho. Ficou todo mundo abalado, sem saber o que falar. Eu vi o meu bebê desfalecido no colo da minha mãe, todo suado, meio dormindo, meio acordado. O cirurgião só falava: ;Calma, mãezinha, poderia ter sido pior, vai dar tudo certo;, disse. Segundo a publicitária, o atendimento não se mostrou adequado nem nos primeiros dias. Ela ressaltou que pediu uma radiografia para o filho logo na entrada na unidade de saúde, mas o exame só foi feito quatro dias depois ; ele constatou a pneumonia. Além disso, Fernanda alegou que o filho tem alergia a proteína de leite e, mesmo informada, a equipe oferecia mingau de Mucilon.
[SAIBAMAIS]Na sexta-feira, Miguel passou pelo primeiro curativo. Um cirurgião plástico explicou aos pais que as queimaduras não afetariam os movimentos. ;Tudo depende da cicatrização, mas ele esclareceu que o corpo da criança regenera muito rápido. Tudo foi muito estressante. Na sexta-feira à noite, eu tirei o Miguel de lá. O sentimento é de revolta. O que aconteceu foi um transtorno. Até a logística da casa mudou;, revelou Fernanda.
Ontem, os pais levaram a criança para uma consulta. ;Eu sou mãe e quis buscar uma segunda opinião. A única coisa que o Hospital Brasília está fazendo é custear os curativos. Estou indignada e horrorizada. O meu filho chora de dor e pânico. Nenhuma mãe aguenta ver isso;, lamentou. Em nota, o hospital informou que instaurou ;um comitê interno para apuração dos fatos;. Garantiu que presta todo o atendimento ao bebê e disse que a criança é acompanhada ambulatorialmente pela equipe de cirurgia plástica.
Palavra de especialista
Cuidados especiais
;As queimaduras são divididas em primeiro, segundo e terceiro grau. No primeiro caso, a queimadura fica restrita à epiderme e só causa vermelhidão. No segundo grau, os ferimentos atingem a derme, a segunda camada da pele, e não geram apenas vermelhidão, mas também bolhas. Na de terceiro grau, pode ocorrer a destruição da epiderme, da derme, além de atingir glândulas, pelo, hipoderme, gorduras, podendo chegar até o osso. Em uma queimadura de segundo grau, o importante é romper a bolha, sem retirar o ;teto; dela, para drenar o líquido, ou seja, não se retira a pele da bolha que ajuda na revitalização. Durante o tratamento, são utilizados cremes anti-inflamatórios, antialérgicos, inclusive antibióticos, dependendo da extensão da queimadura. Nesse estágio, é importante que não haja infecção. No caso do bebê, está restrito a uma região pequena. É importante ter cuidados como compressas e uso de cremes cicatrizantes, mas não acredito que haverá sequela. Isso existiria no caso da queimadura de terceiro grau, que poderia ocorrer aderências. Com o devido cuidado, a situação deve evoluir bem e sem maiores problemas. No futuro, ele não deve ficar nem com cicatrizes.;
Ricardo Fenelon, dermatologista