Cidades

Artista que trabalhou com Niemeyer dá oficinas em regiões carentes do DF

O arquiteto Marcos Decat França trabalhou com Niemeyer e Athos Bulcão. Aos 78 anos, tem esculturas e quadros expostos em vários lugares de Brasília, além de ministrar oficinas para pessoas carentes

postado em 30/10/2015 06:03

Marcos Decat França, em seu ateliê, na casa onde vive, no Jardim Botânico: mais de 350 quadros produzidos

Da ponta de um mesmo pincel, saem diferentes obras de arte. Do tipo que colore o papel em branco às responsáveis por ornamentar uma cidade. Mineiro de nascimento, carioca de criação e brasiliense de coração, o artista e arquiteto Marcos Decat França, 78 anos, tem sua trajetória de vida ligada à criação artística. Os traços de Decat estão espalhados por muitos lugares de Brasília. Os painéis das estações do metrô, na 108 Sul, por exemplo, foi ele quem desenhou. Na da 102 Sul, há uma escultura ornamental, assim como a que enfeita a entrada do Iate Clube de Brasília e da Administração Regional do Lago Sul.

É difícil contabilizar as obras em tanto tempo de trabalho, mas Marcos calcula que pelo menos 350 quadros foram produzidos. O brilho nos olhos vem da generosidade. De contar sobre os momentos em que conseguiu passar adiante os conhecimentos. Nos últimos meses, Marcos fez duas exposições. Uma na Galeria Van Gogh, em Sobradinho, e outra no DF Digital, em São Sebastião, pelo projeto Imagens. Como os projetos foram apoiados pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), a contrapartida eram as oficinas de arte para a população carente.

Foram um sucesso. Todos os dias, mais de 50 crianças participavam dos cursos. ;Marcos é meio que o lado B da história de Brasília. Poucos conhecem, mas ele esteve presente na construção da capital. Tem histórias e aprendizados. Quando conheci, quis apoiar;, conta a produtora cultura Virshina Cunha, 31. O talento de Decat extrapola as paredes da casa onde ele vive, no Jardim Botânico. Entre os cômodos, ele guarda a grande paixão por quadros e esculturas. Nas ruas de Brasília, o artista expõe outra faceta. A daquele que desenhou ao lado de Athos Bulcão, aprendeu técnicas com Glênio Bianchetti, esculturas com Alfredo Ceschiatti e estudou com Oscar Niemeyer.

O resultado está na Catedral de Brasília, no famoso Minhocão da Universidade de Brasília (UnB), em detalhes das estações do Metrô e em regiões administrativas do Distrito Federal. Dos grandes nomes com quem o artista dividiu as salas de aula, os aprendizados e parte da vida, muitos já não estão mais por aqui. Deixaram o legado que não deixa dúvida: a arte não morreu. E a história por traz dela menos ainda. ;A arte vive. Tem críticos que dizem que a arte acabou. Filósofos retrucam. Mas ela é assim: ora para, ora volta. Nunca morre;, afirma Marcos.

Biografia
Seus primeiros traços vieram cedo, aos 15 anos, em aulas de desenho de observação, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Muito por influência da mãe, Wanda Decat, uma dona de casa com hábitos singulares. Quando a idade foi chegando, a arte de desenhar se tornou companheira. Ela fazia isso na casa da família, na Cidade Maravilhosa, e Marcos observava, quieto. Até hoje ele ostenta na parede de casa a primeira obra da matriarca: uma tela com a igrejinha de Pirenópolis.

A arte barroca é especial para Marcos. Na sala de casa, o maior quadro é em homenagem ao barroco mineiro ; a principal manifestação artística do Brasil Colônia, tanto na arquitetura quanto na escultura e na pintura com temas sacros. Traz no alto a simpática igrejinha de Congonhas, município de Minas Gerais. Ao centro da obra, há um anjo pendurado na parede. É o Anjo da Amargura. Definição dada àquele que deu a Cristo uma taça de fel ainda na cruz. ;Um dos nossos maiores artistas foi Aleijadinho;, justificou. E a homenagem faz sentido. Congonhas tem um dos maiores conjuntos de riqueza barroca de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. ;Desde criança, admirava o desenho. E fazia isso como toda criança, mas desenvolvi essa arte;, explica Marcos.

Após o tempo no MAM, a dedicação foi transferida para Brasília. Marcos e a família mudaram-se para a nova capital acompanhar o pai, Manoel França Campos. Muito amigo de Juscelino Kubitschek, Manoel veio como deputado federal. Aqui, incentivou Marcos a começar o curso na UnB, no Instituto Central de Artes. Foi nesse período que se deu a convivência com nomes de peso, como Athos Bulcão e Bianchetti. Marcos trabalhou cerca de três anos na obra da Catedral, coordenada por Oscar Niemeyer. Ajudou a fazer e a montar os vitrais da igreja-monumento. ;Ali, tive a opção de continuar a arte, mas alguns amigos me fizeram pensar. Eles me disseram: Marcos, vai querer arte ou arquitetura? Se for arte, vai morrer de fome, pois não tem mercado para isso, muito menos em Brasília;. E assim me formei arquiteto, para me sustentar;, lembra.

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