Há dois meses e meio, as vidas de três jovens do Distrito Federal se cruzaram de maneira brutal em uma parada de ônibus da Ceilândia. Um deles, alcoolizado, perdeu o controle do veículo e atropelou os outros dois: Sthephany Caroline Pereira Gamas, 27 anos, e Caio Felipe Couto da Silva, 21, morreram. Sthephany e Caio estão entre os 71 jovens entre 18 e 29 anos mortos em acidentes de trânsito no Distrito Federal de janeiro a outubro deste ano. Essa faixa etária representa 24,3% de todas as vítimas no período, quando 292 perderam a vida.
Apesar da falta de estudos científicos sobre os motivos das fatalidades nas vias envolvendo os jovens, especialistas apontam, como possíveis causas da tragédia, o que chamam de ;coquetel fatal;: o excesso de velocidade, a ingestão de álcool antes de pegar a direção e o uso do celular ao volante. No episódio que tirou a vida de Sthephany e Caio, o condutor Edelson Moura de Paiva ; que no dia do acidente completava 30 anos ; acabou preso em flagrante porque estava alcoolizado. O teste do bafômetro apontou a concentração de 0,73 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. A tolerância da lei brasileira é zero (leia Memória).
Na opinião do sociólogo Eduardo Biavati, vários fatores se somam para aumentar a exposição dos adultos jovens ao risco de acidentes, mortes e lesões no trânsito. ;Quando vemos em todos os gráficos a faixa etária de 20 a 29 anos destacada, isso demonstra que eles não conseguem cuidar de si mesmos. São adultos e demonstram incompetência para se proteger e para cuidar dos colegas, dos parceiros de viagens e das festas. É uma coisa muito individualista;, ressalta.
Quando fala da incapacidade dos jovens de cuidarem de si, Biavati se refere ao fato de essa parcela da população chegar à vida adulta com maus hábitos cultivados desde a adolescência. Dos 20 aos 29 anos, essa parcela da população vive um momento de independência que coincide com a conclusão de um longo período de formação profissional, com o primeiro emprego, com a autonomia de consumo e de renda.
;Essa fase da vida vem companhada da consolidação de hábitos. É quando se acentua o consumo de álcool. Quem veio do ensino médio grudado no celular, passou pela universidade grudado no celular, entra no carro e vai parar de usar? Não. Isso não muda! Dirige distraído olhando e teclando mensagens. É um somatório de riscos que talvez ajude a compreender porque o número de jovens envolvidos em fatalidades no trânsito como vítima ou agentes é tão grande;, pondera o sociólogo.
No DF, os flagrantes de alcoomia ao volante são os mais altos da história. Segundo Silvain Fonseca, diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do Detran-DF, entre janeiro e outubro deste ano, 12.222 foram autuados por embriaguez ao volante. Desses, 1.750 condutores foram presos pelo crime de dirigir alcoolizado e vão responder a processo criminal. Não há estatísticas que permitam dizer quantos condutores alcoolizados eram jovens. ;Com certeza isso reflete um número maior de abordagem por parte dos órgãos de trânsito;, garante Fonseca.
Educação
Diretor-geral do Detran-DF, Jayme Amorim acrescenta que o sentimento de ;imortalidade; alimenta nos jovens comportamentos de risco. ;O caminho é a educação dos condutores desde a infância. Por isso temos uma parceria com a Secretaria de Educação de levar dicas de segurança para crianças, adolescentes e jovens. Se eles crescerem com essas noções, serão motoristas melhores;, acredita.
O alto índice de mortes no trânsito e as medidas de segurança que evitam as fatalidades foram os temas centrais de um evento ontem na Universidade de Brasília (UnB), organizado pela Michelin. Além das palestras e da experiência de simular a direção em uma máquina com óculos 3D, 100 estudantes participam nos próximos dias de uma competição diferente para saber quem é o melhor motorista da UnB.
Responsável pelo projeto, Aleida Ghaleb explica que um dispositivo chamado telemetria é instalado no carro dos candidatos. Esse equipamento ; do tamanho de uma caixa de fósforo ;, avalia se o condutor dirige na velocidade da via, se freia ou acelera de forma correta e se faz as curvas com segurança. Cada erro é computado no sistema com o endereço exato, hora e local onde aconteceu. ;Eles serão avaliados por 20 dias. Nesse período, precisam rodar no mínimo 500km e, no máximo, 3 mil km. O próprio sistema computa erros e acertos de forma proporcional à quilometragem rodada;, explica.
No período de avaliação, os candidatos (conheça quatro três deles ao lado) podem acompanhar diariamente os erros cometidos e as dicas do procedimento de segurança em cada caso. Este ano, alunos de quatro universidades participam do projeto. Além da UnB, a Estácio de Sá de Ribeirão Preto e do Rio de Janeiro e a Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. O vencedor de cada universidade ganhará uma viagem à França. O melhor da UnB será conhecido em 8 de dezembro.
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