O pequeno Lucas Alexandre completou 6 anos no mês passado, mas é hoje que ele comemora o início de uma nova fase de vida. Depois de meses de espera, a criança ; que já tem grandes histórias para contar quando for adulta ;passará na manhã desta quinta-feira (12) pelo tão aguardado transplante de medula óssea. A leucemia linfoide aguda (LLA) foi descoberta quando Lucas tinha apenas dois anos, em setembro de 2012. Nos dois anos seguintes, passou por quimioterapia e, segundo a mãe, Fabíola Gomes, 37, o torcedor do fluminense, apaixonado pelo espaço sideral, apresentou boa resposta ao tratamento.
Em maio de 2015, durante o exame de acompanhamento mensal, foi descoberto o retorno da doença. ;O médico percebeu que um testículo estava maior do que o outro, solicitou exame e constatou que houve uma recaída combinada em duas partes do corpo, testículo e medula;, explica Fabíola. Ao contrário do que pode sugerir, o fato de a recaída ter sido notada em dois locais não significa que o câncer tenha se espalhado para essas áreas. O que houve, conforme esclarece a mãe, foi uma reação das gônadas à infiltração das células. ;Ele fez uma biopse testicular pra ver que tipo de célula estava, mas perceberam que era a mesma célula leucêmica que causou o aumento dos testículos;, define.
A partir de então, Lucas voltou a fazer quimioterapia ; desta vez, porém, com mais intensidade ; e iniciou a busca pela doação de medula óssea compatível. Os médicos inscreveram a criança no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea, o Rereme, e em setembro encontraram um caso possível. A família, mãe, pai e filho, viajou a São Paulo em 13 de outubro e, desde então, Lucas vem se preparando para o transplante, que será feito nesta quinta-feira no Hospital Sírio Libanês.
Depois de uma semana de exames, radioterapia e quimioterapia, o menino teve enjoos, náuseas, vomitou algumas vezes. Fabíola conta que tudo isso foi superado pela força de Lucas e a vontade de vencer de vez a leucemia. ;Ele está muito confiante de que agora vai ficar livre de hospital e de tantas picadas de agulha. Está feliz, sabe que vai poder ir ao shopping, comer em restaurantes, passear, receber visitas, ter uma vida normal;, compartilha Fabíola.
Na véspera de receber o transplante, Lucas aproveitou para descansar, brincar com os jogos eletrônicos no tablet, passatempo preferido, e colocar o pai, Ricardo Alexandre, 40, a rodar toda São Paulo em busca de uma batata específica que desejava comer.
Lira infantil
A experiência de Lucas com transplante já é conhecida por Vivian Cunha Iliopoulos, de apenas 2 anos. Ela passou pelo procedimento no último dia 28 de outubro. A leucemia foi diagnosticada quando Vivi tinha dez meses de idade. A mãe, Fabiana Cunha, e o pai, Antonis Iliopoulos, suspeitaram que a criança pudesse ser portadora de alguma doença, pois, nos primeiros meses de vida, apresentava imunidade baixa, ficando constantemente gripada. Assim como Lucas, a quimioterapia foi a primeira opção dos médicos e o tratamento foi todo feito em Brasília, no Hospital da Criança.
Em junho deste ano, Vivi brincava, quando caiu, sentiu dores e não quis mais andar. Logo em seguida, apresentou febre. Foi então que os médicos constataram a recaída da doença. No dia 11 do mesmo mês, graças à cidadania canadense do pai, a família viajou ao país para o segundo passo, encontrar um doador de medula óssea compatível. ;O transplante foi dia 28 de outubro, um novo aniversário da Vivi;, comenta a irmã de Fabiana, a psicóloga Mariana Moura, 33.
Segundo a tia de Vivi, a criança teve infecção, dores e febre nos dias seguintes ao transplante, mas tudo dentro do esperado pelos profissionais de saúde. Em uma manhã do dia 11 de novembro, contudo, a brasiliense despertou serelepe, com vontade de brincar de lego. Na interpretação dos médicos, era um indicativo de melhora. Naquele dia, ela começou a tocar tocar lira infantil, a mãe acompanhou no pandeiro e Mariana ficou do lado de cá, em Brasília, na expectativa de montar uma banda entre família. ;É uma criança muito tranquila, muito divertida. Tendo um brinquedo está bom, mas ela tem total consciência de tudo que está passando;, diz Mariana.
Para saber mais
Seja um doador
Qualquer pessoa entre 18 e 55 anos, que esteja com bom estado de saúde, pode doar medula óssea. Ela é retirada do interior dos ossos da bacia por meio de punção, procedimento de remoção por agulha, e se recompõe em 15 dias. Ao fazer o cadastro no hemocentro mais próximo, o doador preenche um formulário com informações pessoais, que ficam disponíveis no sistema até ele completar 60 anos. É coletada uma amostra de sangue para os testes, que vão determinar as características genéticas necessárias para a compatibilidade com o paciente. Se houver compatibilidade, o doador é chamado para exames complementares e, finalmente, realizar a doação. Para quem já se cadastrou, é importante manter os dados atualizados.