A comunidade da Universidade de Brasília (UnB) vive um dilema. De um lado, a comoção para que o comerciante mais antigo do Câmpus Darcy Ribeiro permaneça no local. De outro, a reitoria entende que o projeto original do arquiteto Oscar Niemeyer precisa ser resgatado e preservado. As concessões do espaço público aos permissionários ao longo dos anos aconteceram sem que houvesse distinção. Em todo o Instituto Central de Ciências (ICC) Norte e Sul, mais conhecido como Minhocão, há entre 20 e 30 comerciantes instalados. O número foi repassado pelo reitor da UnB, Ivan Camargo, que garante não haver, até agora, nenhum cronograma para a retirada dos autônomos do espaço. O professor ressaltou, ainda, que não existe uma negociação com os vendedores.
Em outro período o Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a considerar que o Minhocão não era o local apropriado para atividade comercial. A Vigilância Sanitária também emitiu parecer para que não fosse mais permitida a comercialização de alimentos em razão da proliferação de pombos e ratos no espaço. Os quiosques ao longo do Minhocão têm múltiplas funções e atendem as necessidades dos alunos inclusive para as aulas. Ao longo do Minhocão, existe o serviço das cópias e xérox, da venda de artigos e presentes, alimentos e lanches, além das livrarias. A mais famosa é a de Francisco Joaquim de Carvalho, 56 anos, o Chiquinho. Depois de 40 anos no ICC Norte, a UnB tem insistido para que ele desocupe a área e seja transferido para um dos Módulos de Apoio e Serviços Comunitários (Mascs).
Chiquinho se instalou definitivamente no espaço em 1989, quando Brasília e todo o país vivia a euforia da primeira eleição direta para presidente após duas décadas de ditadura com repressão estudantil. De lá para cá passaram-se 26 anos. Nos 14 anos anteriores,Chiquinho também estava na UnB, mas em uma banca improvisada onde comercializava os livros. Na última terça-feira ele encarou uma das visitas que mais o surpreendeu. Era o próprio reitor que, desta vez, encontrava o livreiro para indagá-lo sobre a saída dele do local.
Retirada é prioridade
O urbanista Sérgio Costa avalia como improvável a mudança física de qualquer ponto dentro do ICC, já que o local é tombado e não pode ser modificado. ;Os comerciantes podem ser retirados e realocados. Mas mudar qualquer espaço físico é proibido, e derrubadas, por exemplo, não podem acontecer;, explicou. Em entrevista ao Correio, o reitor da UnB Ivan Camargo informou que a retirada dos comércios do ICC Norte e Sul é uma prioridade da administração da instituição. Mas ponderou que não há consenso entre profissionais e alunos universidade sobre o assunto. "Na universidade, tudo se faz com muita conversa e negociação. Continuaremos tentando negociar, mas ainda não tivemos sucesso. Não há como definir um cronograma se não temos negociação", pontuou. "Eu seria o primeiro a assinar o abaixo-assinado pedindo para o Chiquinho ficar, porque ele é meu amigo, mas, a meu ver, a entrada do local mais importante de Brasília, a principal universidade do Brasil, deveria ser preservada e não se transformar em uma feira, cheia de puxadinhos e invasões, como acontece na nossa cidade.;
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