Cidades

Gervásio Baptista, o homem que clicou políticos, misses e mísseis

Considerado um dos mais importantes fotojornalistas brasileiros, Gervásio Baptista mora recluso em um abrigo para idosos. Apesar da idade avançada e de lapsos na memória, ele adora conversar, principalmente quando o assunto é a profissão

Renato Alves
postado em 22/11/2015 08:10


O homem magro, de estatura baixa, careca, abre o sorriso e estica os braços compridos ao avistar o amigo à espera dele, em uma sala do abrigo para idosos. A caminho dos 100 anos, o fotógrafo Gervásio Baptista, que nunca quis revelar a idade exata, apressa os passos para receber o também fotógrafo Hermínio Oliveira, 70. A troca de carinhos é seguida por brincadeiras e lembranças dos tempos de Revista Manchete e Radiobrás, onde trabalharam juntos. ;O Gervásio é esse ser amável e bem-humorado;, ressalta Oliveira.

Os funcionários e nove idosos do abrigo assistem atentamente ao reencontro. Quase todos já ouviram alguma história de Gervásio nos dois meses em que ele está naquela casa da Colônia Vicente Pires, adaptada para receber homens e mulheres com limitações impostas pela idade e por doenças do corpo e da mente. Alguns desconfiam das peripécias do baiano. Por isso, fazem questão de testemunhar a entrevista que virá.

Gervásio Baptista é o autor de algumas das mais famosas imagens de presidentes brasileiros. Entre elas, a de Juscelino Kubitschek acenando com a cartola na inauguração de Brasília, capa da extinta Manchete. A imagem com os anexos do Congresso Nacional ao fundo correu o mundo. Ele clicou de Getúlio Vargas a Luiz Inácio Lula da Silva, eventos nacionais e mundiais, sete copas do mundo e 16 concursos miss universo, nos tempos áureos do evento. Testemunhou guerras e revoluções.

Precocidade
Os políticos não têm consenso sobre o início da carreira de Gervásio. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso costumava dizer que foi nos tempos de dom Pedro I. Quando FHC fez tal comentário na presença do ex-ministro Pratini de Moraes, Gervásio elogiou a ;memória prodigiosa; do então presidente da República. O ex-senador Antônio Carlos Magalhães afirmava que o profissional fotografou a Santa Ceia. ;E o senhor era o meu repórter;, rebatia Gervásio, sempre que estava presente. Além de baianos, ambos eram contemporâneos, como o fotógrafo lembrava a ACM.

A verdade é que, quando criança, Gervásio brincava com caixas de fósforo como se fossem câmeras fotográficas. Abria e rabiscava o que via dentro. Ao completar 9 anos, o pai sugeriu a ele, no tempo das férias, trabalhar no laboratório de um amigo, em Salvador, onde moravam. ;Meu pai dizia que um homem sem profissão é incompleto, que não pode ter uma família;, lembra. Gervásio seguiu a indicação. No Foto Jonas, o menino, então filho único, aprendeu, em um mês, todo o processo químico da revelação e da cópia em papel.

As portas do fotojornalismo se abriram quando apareceu no estúdio o político Rui Santos. Ele pediu uma foto 3x4. Como todos os ;retratistas; estavam ausentes, Gervásio se ofereceu para atendê-lo. Muito pequeno para fazer o registro do cliente, ele subiu em uma cadeira para alcançar o visor da câmera. ;Tirei a foto e corri para o laboratório. Ele (Santos) olhou para mim e disse que eu era um danado. Perguntou-me se queria trabalhar no jornal Estado da Bahia;, conta Gervásio. No dia seguinte, aos 12 anos, Gervásio estreou como fotógrafo-assistente no periódico soteropolitano. Dono da publicação e dos Diários Associados, Assis Chateaubriand logo enxergou o talento no menino. A convite do patrão, em 1950, ele se mudou para o Rio de Janeiro, a fim de trabalhar em O Cruzeiro. As fotos mexeram com a maior concorrente da revista dos Associados, a Manchete, a ponto de Adolpho Bloch, proprietário da publicação carioca, o contratar para o primeiro número, em 1952.

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