O desaquecimento da atividade produtiva no Distrito Federal repercute na criação de empregos. Com taxa de desocupação em 14,6%, os desempregados somam 265 mil. Se a falta de oportunidade profissional é evidente, ela torna-se mais preocupante para trabalhadores que moram distantes da área central de Brasília. A diferença no índice de desemprego entre moradores do Plano Piloto para os de cidades como Paranoá, Ceilândia e Samambaia é de mais de 10 pontos percentuais. E a situação fica mais alarmante quando se percebe que a quantidade de desempregados em locais menos centrais cresce a uma velocidade maior do que a de quem vive no centro.
Informações da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apontam que a taxa de desocupação de profissionais do chamado Grupo 1, que vivem no Plano Piloto e nos lagos Sul e Norte, é de 7,2% ; metade da média geral (14,6%). Nas cidades do chamado Grupo 3 (Paranoá, Ceilândia, Samambaia, Santa Maria, Recanto das Emas, São Sebastião e Brazlândia), o índice sobe para 17,7% e vem em uma crescente desde junho, quando estava em 16,9%. O mesmo não ocorre com o Grupo 1, no qual a taxa caiu (veja Diferenças).
A diferença da taxa de desocupação entre áreas pobres e abastadas sempre existiu. O que preocupa os especialistas é a velocidade com que essa discrepância aumenta. Na opinião de Lourdes Rosalem, professora do MBA de Gestão Estratégica de Pessoas do Ibmec, existe um desnível social e cultural acentuado entre as regiões administrativas do DF. ;A qualificação ainda pesa muito. Em tempos de crise, a capacitação faz muita diferença;, afirma.
Na análise de Lúcio Rennó, presidente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), o desemprego maior entre os jovens e os negros ajuda a dar peso à diferença. ;Os números das pesquisas realizadas pela Codeplan mostram que esses grupos têm mais dificuldades de inserção no mercado de trabalho e estão muito presentes em regiões mais afastadas do Plano;, explica. ;Tem um grupo na faixa etária acima de 25 anos com escolaridade baixa com mais restrição de oferta de trabalho. No caso do jovem, o que pesa é mais a questão da experiência. Tenho receio de que ele, por conta da dificuldade de encontrar o primeiro emprego, desista de se capacitar. Ao contrário, o caminho está aí;, complementa.
Tatiana de Vasconcelos Ferreira, 37 anos, vive com a família no Paranoá e está à procura de trabalho há nove meses. Ela conta que a falta de qualificação é o principal entrave para a conquista de uma oportunidade. ;Eu fiz várias entrevistas, quem faz a entrevista gosta de mim, mas, quando eles veem que não eu não tenho ensino médio completo, sou dispensada;, comenta. Na luta por uma vaga, Tatiana se matriculou na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e pretende melhorar a escolaridade. ;Às vezes, até coloco no currículo que tenho ensino médio completo para ser, pelo menos, chamada para as entrevistas;, admite.
André Reis dos Santos, 21, está desempregado há um mês, quando foi dispensado de uma rede internacional de supermercados por causa da crise. Ele conta que trabalha desde os 16 anos e se empregou em vários locais, como padarias, mercados e lojas. Porém, a experiência em vendas ainda não se mostrou suficiente para ele conseguir uma vaga. Na sexta-feira, ele fez uma entrevista, mas não foi admitido. ;Queriam que eu tivesse conhecimento em chips, e eu não tinha;, lamenta. Na busca por uma melhor posição no mercado de trabalho, ele cursa o segundo semestre de fisioterapia. ;Não vou desistir, vou continuar me qualificando para conseguir um emprego melhor;, afirma.
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