Cidades

Investigação mostra extorsão entre integrantes dos sem-teto

A Delegacia de Repressão ao Crime Organizado acusa os responsáveis pelo Movimento de Resistência Popular de ameaçar integrantes de movimentos sociais que recebem auxílio-aluguel

Nathália Cardim
postado em 02/12/2015 06:03

Durante as prisões da Operação Varandas, a polícia apreendeu com os suspeitos armas de fogo, facão e espada, além de um Corolla 2015 e R$ 26 mil em dinheiro


A Polícia Civil prendeu na manhã de ontem o líder do Movimento de Resistência Popular (MRP), Edson Francisco da Silva, suspeito de extorquir dinheiro de integrantes de movimentos sociais. A prisão de Edson é resultado da Operação Varandas, que começou por volta das 6h, comandada pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco). Outros seis integrantes da organização também foram detidos. Entre eles, está Ilka da Conceição Carvalho, mulher de Edson. As investigações apontam que eles se aproveitavam financeiramente de famílias beneficiadas por auxílio-aluguel no valor de R$ 600. Três pessoas seguem foragidas. O vice-líder do movimento, Francinaldo Silva, é um dos procurados.

Edson se destacou ao longo de 2015, quando integrantes do MRP invadiram cinco endereços no Distrito Federal. Entre eles, os hotéis St. Peter e Torre Palace, em setembro e outubro, respectivamente (leia Memória). Durante a ocupação do St. Peter, a polícia investigava o líder do movimento, que andava em carro luxuoso e tinha dois iPhones, um deles avaliado em R$ 3,5 mil. À época, em entrevista ao Correio, ele disse, ao justificar a propriedade dos telefones: ;A militância trabalha. Carro e telefone celular todo mundo pode ter. A minha mulher é advogada. Nós temos condições de pagar as prestações;. Após a desocupação do prédio, os donos do estabelecimento acusaram o grupo de ter levado 12 televisores e outros objetos.

Segundo o delegado-chefe da Deco, Luiz Henrique Sampaio, as investigações apontam que os acusados agiam da seguinte maneira: inicialmente, cada família que recebesse o auxílio-aluguel do governo era obrigada a repassar R$ 50 para eles. Há dois meses, os representantes do MRP passaram a cobrar R$ 300 de taxa. A região com o maior número de vítimas é Brazlândia, com 80 famílias extorquidas. ;Estima-se que, desde de julho, eles tenham recebido, aproximadamente, R$ 150 mil com o esquema;, revelou Sampaio.

Quem não cedia à cobrança recebia ameaças. Os suspeitos usavam armas para coagir as vítimas. Também diziam que as tirariam da lista dos beneficiados, pois tinham influência no governo. O titular da Deco explicou que Edson se cercou de guarda-costas para praticar as extorsões. Um deles é Edmílson Gonçalves do Nascimento, suspeito de ter praticado um assassinato na semana passada em Padre Bernardo (GO). O crime, no entanto, não teria ligação com a atuação do grupo.

Ainda segundo informações da PCDF, Edson chegou a integrar o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), mas, por causa de brigas internas, decidiu montar o MRP. ;As denúncias começaram a surgir a partir da recusa de algumas famílias em fazer as contribuições exigidas por ele, ainda no MTST;, contou o delegado.

Riqueza

Segundo a investigação, com o dinheiro supostamente conseguido com o esquema, o líder comprou um carro avaliado em R$ 85 mil. Morava com a mulher em um apartamento em edifício de classe média com área de lazer completa, próximo a um parque, em Taguatinga. Para o delegado Luiz Henrique, o patrimônio dos suspeitos não condiz com a realidade deles. ;O estilo de vida que Edson e Ilka levavam não correspondia ao do restante dos integrantes do movimento. O líder ocultava essa riqueza. Quando ia para os acampamentos, passava com o carro longe, porque tinha medo de chamar a atenção;, afirmou.

Durante a operação, quatro armas de fogo, uma espada, uma algema, grande quantidade de munição, um Corolla 2015 e R$ 26 mil, em dinheiro, foram apreendidos com os detidos. Os envolvidos responderão por organização criminosa armada e extorsão. Se condenados, podem pegar até 30 anos de prisão. ;Agora, a nossa intenção é de desarticular o grupo criminoso e o esquema de extorsão. Temos certeza de que outras vítimas vão procurar a delegacia para denunciar a prática da liderança. O nosso esforço está concentrado em ouvir as pessoas que partilhavam o benefício com o grupo para saber quais eram as circunstâncias para que as famílias fizessem isso;, completou o chefe da Deco.

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