Paredes pichadas, cercas quebradas, lixo espalhado, situação de improviso e insalubridade para motoristas de ônibus e passageiros. Esse é o cenário resultante das obras de revitalização dos terminais rodoviários do Distrito Federal, mesmo com investimento de R$ 19 milhões. Para piorar, muitas das reformas estão paralisadas e bem longe da conclusão, prevista, inicialmente, para outubro deste ano. Enquanto isso, motoristas e cobradores reclamam da falta de estrutura de trabalho e passageiros sequer se aventuram a pegar o coletivo nos locais inacabados.
Dos 30 terminais do DF, oito passam por reforma e, em todos, houve atraso na estimativa de entrega do GDF. A explicação se pauta em alguns fatores, como ;ajustes orçamentários e revisão do quantitativo de projetos em função da data de licitação e do início da obra;, segundo informações passadas pelo Executivo. As obras foram iniciadas na gestão anterior, em outubro de 2014. O Correio visitou os terminais que motoristas e cobradores apontaram como mais críticos, seja devido à demora na reforma, seja por causa das más condições de trabalho nos espaços improvisados a eles.
Um desses casos ocorre no terminal do Guará II. Enquanto a empresa opera os ajustes, motoristas e cobradores param ao lado, em um descampado de terra. A cada viagem, esperam por cerca de 20 minutos. Os funcionários reservas chegam a passar até seis horas seguidas. Apesar da grande quantidade de trabalhadores que dependem do espaço, são várias as reclamações relativas às condições improvisadas: esgoto a céu aberto, falta de limpeza nos banheiros, ausência de sabão, papel toalha e vazamentos constantes.
O motorista Valdiney Ribeiro, 35 anos, define a situação: ;Quando não é poeira, é lama;. A terra que incomoda Valdiney provocou uma doença respiratória. ;Quando eu estava lá em cima, no terreno pavimentado, não tinha problema de saúde. Agora, todo mundo tosse o tempo todo;, reclama. O Correio encontrou funcionários trabalhando no local. Segundo um deles, que preferiu não se identificar, a companhia tem mais 150 dias para terminar os consertos. A previsão informada pela Secretaria de Mobilidade (Semob) é para o primeiro semestre de 2016.
No terminal do Guará I, não havia ninguém da empresa no local e, conforme relato de motoristas e cobradores, a obra está abandonada há mais de dois meses. Nesse caso, a terra não é o maior problema, afinal, os ônibus se acomodam no asfalto do lado de fora. A principal dificuldade é a inexistência de banheiros. ;Os homens ainda se viram. As mulheres, no entanto, têm que pedir para usar o banheiro dos estabelecimentos vizinhos;, critica o motorista Ezequias Francisco dos Santos, 52.
Além da ausência de funcionários da empresa e de espaços para as necessidades básicas, havia paredes pichadas, lixo no chão ; incluindo uma cadeira ;, cercas quebradas, permitindo a passagem de qualquer pessoa, além de material de construção abandonado. No dia seguinte à visita, homens instalavam o piso.
O presidente da associação comunitária dos moradores e amigos do Guará, José Magalhães, reclama que a interdição nos terminais provocou aumento no fluxo de carros na cidade. ;Há mais congestionamento nas vias, é perceptível.; Magalhães também critica o fato de que os terminais são ainda mais necessários nos períodos de chuva, uma vez que os pontos se tornam incapazes de abrigar a todos. ;As pessoas têm que se deslocar a uma maior distância para pegar o ônibus, e isso piora quando chove, porque muitas paradas não têm cobertura.;
Semelhante situação ocorre no terminal do Cruzeiro. Motoristas, cobradores e comerciantes contam que a empresa responsável pela reforma somente esteve no local para retirar parte do piso e do telhado e para cercar o ambiente. Desde então, nunca mais apareceu. Até um andaime estava largado no meio do terreno. As queixas de trabalhadores também se assemelham. ;Quando chove, não tem condição. A água entra, não temos onde nos esconder. Além disso, com o cercamento do local, sobrou apenas uma faixa para o ônibus circular. Os passageiro ficam correndo de um lado para o outro, não sabem de onde saem as linhas;, relata o cobrador Igor Mota, 24.
A Secretaria de Mobilidade esclareceu que a reforma no terminal do Cruzeiro começou em janeiro de 2015 e está prevista para terminar no primeiro semestre 2016. Enquanto isso, comerciantes como Leonardo Nascimento, 25, que trabalhava em uma lanchonete no local, continuarão sofrendo com a redução no número de clientes. ;Está difícil, as vendas caíram muito;, lamenta.
Outra reivindicação antiga de quem trabalha no transporte público do DF diz respeito à construção de um terminal no fim da Asa Norte. No espaço, onde motoristas e cobradores de três viações estacionam, sequer há obras. A previsão do governo é que a construção se inicie em 2016 com o BRT Norte, que está em fase final de elaboração do projeto executivo, e deve ser licitado ainda no primeiro semestre. Mas, enquanto não sai do papel, os funcionários ficam na poeira ou na lama. São dois banheiros químicos por cada empresa.
Uma delas improvisou um contêiner de aproximadamente 8m; para abrigar os servidores. Na visão dos rodoviários, no entanto, não é suficiente. ;A gente fica estocado dentro dessa guarita de ferro, sofrendo com o calor e o mosquito. É preciso pensar duas vezes antes de usar o banheiro, que raramente está limpo;, queixa-se o cobrador Kleber Moreira Barbosa, 43, que passa uma hora e meia por dia no local.
A matéria completa está disponível para assinantes. Para assinar, clique