Cidades

Após sofrer acidente de ônibus, ginasta vira artista

Desde então, Beatrice Martins descobriu outros talentos. Ela agora revive a própria história num espetáculo que mistura teatro, dança e circo, mas não abandonou os treinos e exercícios

postado em 19/12/2015 08:10

Beatrice Martins com a diretora Raquel Karro: nova alternativa

Aos 34 anos, a então ginasta Beatrice Martins viu uma reviravolta acontecer. Um acidente de ônibus a fez mudar o jeito de ver as coisas e a obrigou a começar tudo de novo. Diante de uma fratura exposta em um dos pés, foi obrigada a entender o sentido da palavra superação. Atualmente, ela vive em nome da arte. Ontem, no Teatro Plínio Marcos da Funarte, fez a última apresentação do espetáculo que conta sua história de vida.


Quinta-feira, 29 de maio de 1997. Eram 3h quando o ônibus que levava a equipe de ginástica artística do Flamengo colidiu com dois caminhões. No km 205 da Via Dutra, em São Paulo, Bia ; como Beatrice é conhecida pelos mais próximos ; , a técnica Georgette Vidor e as companheiras de equipe estavam a caminho de mais uma seletiva. Com o impacto da batida, seis pessoas morreram. Cinco delas estavam no ônibus em que Beatrice viajava. ;Eu me lembro de ter acordado na ambulância. Estava tudo muito confuso, mas recordo que alguém me perguntou o telefone da minha casa;, lembra.


Ali, de maneira muito precoce, uma história de vida começava a ser reescrita. Depois da colisão, Bia foi atendida em São Paulo até ser transferida para o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) e, logo depois, para a Rede Sarah ; nessa época, ela, natural de Campinas (SP), e a família já moravam na capital federal. Foram seis meses contínuos de internação e, durante esse período, teve que se acostumar com a nova rotina. Apesar da dor física e emocional, não se deixou abalar. Com o apoio dos pais, que não tiraram o pé do hospital até que tivesse alta, a ex-atleta resolveu enxergar no sofrimento uma possibilidade de agradecer. ;Eu poderia ter morrido, poderia ter amputado o pé. Por ter consciência disso, não carrego traumas daquele dia;, revela.


Uma coisa é incontestável: a ginástica sempre esteve na vida de Bia. Seu pai, professor de educação física, sempre a incentivou a seguir os caminhos do esporte. Por isso, seria difícil imaginar uma vida longe dos exercícios, dos treinos e dos desafios. Mesmo depois do acidente, não seria real imaginar uma vida longe dos movimentos leves, cuidadosos e elásticos. E foi aí que a arte entrou na vida de Beatrice. Três anos depois de receber alta do hospital, houve o primeiro contato com o teatro e o circo e se encantou. ;Quando fui buscar meu pai na escola em que ele trabalhava, vi um monte de tecidos e trapézios. Eram muitas cores;, conta. Ao se deparar com uma explosão de alegria, em um universo desprovido de regras pré-definidas, ela descobriu uma nova alternativa.

Trajetória no palco
O professor que a recebeu ficou impressionado com as habilidades de Bia. Recuperada, fez alguns daqueles movimentos complicados que as ginastas conseguem fazer com a leveza de uma pluma e deixou todos de queixo caído. Desde então, a mulher com feições e porte de menina se entregou ao universo artístico. ;Fiz muitas aulas, me apresentei em eventos e em festas de formatura;, diz. Continua a treinar ginástica, mas resolveu encarar um novo desafio: estrelar Por Um Triz, que combina circo, dança, música e dramaturgia. Tudo isso concentrado em intensos 45 minutos.


A montagem da apresentação ficou por conta do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC-DF) e do Instrumento de Ver, um coletivo de artistas independentes de formações e atuações diversas. Entre lágrimas e risadas, o público aplaudiu uma trajetória inspiradora. Para a diretora do espetáculo, Raquel Karro, 39 anos, o tom documental da apresentação diz muito sobre a nova fase da vida de Bia.

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