A reforma ortográfica entrou plenamente em vigor. Desde 1; de janeiro de 2009, as novas regras conviviam com as velhas. Agora o cadáver foi pra cova. Dicionários, gramáticas, livros didáticos etc. e tal do velho time foram pro lixo. Abriram alas pra edições atualizadas. É caminho sem volta. Trabalhadores, estudantes, concurseiros não têm alternativa. É aderir ou aderir. As mudanças são poucas, muito poucas.
1. A reforma é ortográfica. Refere-se só à grafia das palavras. Pronúncia, concordância, regência, crase continuam do mesmo jeitinho, sem alteração.
2. A mudança nos acentos atingiu apenas as paroxítonas. Proparoxítonas, oxítonas e monossílabos tônicos mantêm-se como sempre foram.
3. O alfabeto ganhou três letras ; k, w e y. O emprego do trio continua como antes. Abreviaturas e nomes que se escreviam com as ex-intrusas conservam a grafia. É o caso de km, Wilson, Yara. Atenção, não se precipite. Grafar wísque e kilo? Nem pensar. Fique com uísque e quilo.
4. O trema se foi, mas a pronúncia ficou. Frequente, tranquilo, lingueta, linguiça & cia. agora se grafam assim. Olho vivo! Trema não é acento. Por isso não discrimina oxítonas, paroxítonas ou proparoxítonas. Nenhuma palavra portuguesa tem trema.
Perderam o acento
1. O hiato oo: voos, abençoo, amaldiçoo, perdoo, coroo.
2. O hiato eem: eles veem, creem, deem, leem.
Não vacile. Caiu o acento da duplinha eem. O solitário êm se mantém na 3; pessoa do plural de vir, ter e derivados: eles vêm, têm, convêm, detêm, contêm.
3. O u tônico dos verbos apaziguar, averiguar, arguir & cia.: apazigue, averigue e argue.
4. O i e o u antecedidos de ditongo: feiura, baiuca, Sauipe.
Atenção: a norma que acentua o i e o u antecedidos de vogal continua firme. É o caso de saída, saúde, caí, baú.
5. Os ditongos abertos ei e oi: ideia, assembleia, panaceia, joia, jiboia, heroico, paranoico.
Lembra-se? A reforma só atingiu as paroxítonas. O grampinho permanece inalterável nas oxítonas e monossílabos tônicos: papéis, herói, dói.
6. Os acentos diferenciais. Pêlo, pélo, pára, pólo, pêra ficaram assim: pelo, para, polo, pera. Exceção? Só duas: pôde (passado do verbo poder) e o verbo pôr. (Monossílabo, escapou da facada, que só atingiu as paroxítonas.)
Hífen
Vamos combinar? Hífen é castigo de Deus. Nem o Senhor dá conta de memorizar as regras. A reforma simplificou a tarefa. Cortou algumas normas e modificou outras. Pra facilitar o estudo, sigamos o conselho do esquartejador ; vamos por partes. Primeiro, o que não mudou. Depois, o que mudou.
Não mudaram
1. Palavras compostas de dois vocábulos soltos: arco-íris, beija-flor, decreto-lei, boa-fé, má-fé, amor-perfeito, médico-cirurgião, segunda-feira, guarda-noturno, guarda-chuva, mato-grossense, norte-americano, sul-americano, finca-pé, conta-gotas, alto-falante, marrom-glacê, pão-duro, amarelo-limão, azul-turquesa, euro-americano, porta-retrato, para-brisa, para-choque.
Exceções: paraquedas, paraquedista, paraquedismo, à toa, tão só, tão somente
2. Prefixos elitistas. Aquém, ex, pré, recém, vice, soto, vizo não se misturam nunca: além-mar, aquém-muros, pós-graduação, pré-primário, pró-reitor, recém-chegado, vice-presidente, soto-mestre, vizo-rei.
Olho vivo
Pré e pró são traiçoeiros. Deixe a preguiça pra lá. Consulte o dicionário.
Mudaram
1. Composição com três palavras ou mais ligadas por preposição, conjunção, pronome perderam o hífen: pé de moleque, tomara que caia, dia a dia, faz de conta, joão sem braço, mão de obra, mula sem cabeça, maria vai com as outras, dor de cotovelo, bicho de sete cabeças.
Exceções: água-de-colônia, pé-de-meia, arco-da-velha, cor-de-rosa.
Atenção
Mantêm o hífen compostos do reino animal ou vegetal ; nome de bicho ou planta: joão-de-barro, bicho-de-pé, canário-da-índia, castanha-do-pará, bem-te-vi, bem-me-quer, ipê-do-cerrado, porco-da-índia, canário-da-terra, cana-de-açúcar, pimenta-do-reino.
2. Onomatopeias. Palavras formadas de repetição de sons ora se grafavam com hífen, ora sem. Agora todas pedem o tracinho: bangue-bangue, blá-blá-blá, co-có, chuá-chuá, tique-taque, pisca-pisca, tique-taque, toque-toque, glu-glu, quem-quem, tim-tim.
Sem bobeira: os derivados dispensam o hífen: gluglujear, cocorocó.
3. Não. Antes, algumas palavras tinham hífen. Outras não. Agora, é tudo solto: não ingerência, não interferência, não fumante.
4. Sem. Como o não, alguns vocábulos tinham hífen. Outros não. Agora é tudo presinho: sem-terra, sem-teto, sem-emprego, sem-banco, sem-carro, sem-celular.
5. Geral. Sempre com tracinho: secretário-geral, diretor-geral, coordenador-geral, orientador-geral, procurador-geral.
Atenção: se, na Certidão de Nascimento, o cargo for grafado sem hífen, vale o que está escrito.
6. Expressões latinas. Latim não tem hífen nem acentos. Assim, expressão latina pura não tem uma coisa nem outra. Se tiver, a mocinha é aportuguesada. É o caso de via crucis ou via-crúcis.
7. Prefixos. A língua tem prefixos elitistas, que não se misturam. Eles estão lá, no item 1. E prefixos populares, que se mesclam sem cerimônia. Apesar da liberdade, obedecem a certo padrão. São as três regras de ouro.
7.1. O h, majestoso, não se mistura: anti-higiênico, super-homem, pré-homérico, micro-história.
7.2.Os iguais se rejeitam. Duas letras iguais dão curto-circuito. Melhor separá-las: contra-ataque, micro-ondas, super-região, anti-imperialismo, sub-bloco.
7.3.Os diferentes se atraem. Letras diferentes se colam: autoescola, supermercado, minissaia, contrarregra, antieconômico, infraestrutura.
Sem bobeira
1. Co- e re- têm alergia ao hífen. Com eles, é tudo colado: cooperação, coautor, corresponsável, corréu, reeleição, reedição, readmissão.
2.Pra manter a pronúncia, às vezes temos de dobrar o r ou o s: contrarregra, corréu, corresponsável, minirrevista, microssistema.
3. Sub, quando seguido de r, forma encontro consonantal (abraço, obra, ébrio). Se a pronúncia exigir a separação, o hífen pede passagem: sub-reitor, sub-raça, sub-região, sub-remuneração.