Cidades

Santo Antônio do Descoberto não tem estrutura para conter avanço da dengue

Só nos primeiros 12 dias do ano, houve 193 casos de dengue no município. No DF, são 31 em sete dias

Otávio Augusto
postado em 14/01/2016 06:05 / atualizado em 19/10/2020 17:38


Apenas nos primeiros 12 dias do ano, a Prefeitura de Santo Antônio do Descoberto notificou 193 casos de dengue. O município goiano, distante 40km de Brasília, entrou em estado de alerta e recorreu à Secretaria de Saúde do DF para combater o mosquito Aedes aegypti, pois a cidade não tem estrutura para conter o avanço do inseto — lá, há apenas 7kg de veneno para todo o ano. Na capital federal, os números do mais recente Boletim Epidemiológico revelam que 31 pessoas contraíram a infecção na primeira semana de 2016 (veja quadro). O índice é 47,46% menor em comparação com o mesmo período do ano passado, com 59. Apesar do indicativo, o temor de um surto obrigou o GDF a investir cerca de R$ 8 milhões.

Brazlândia tem a maior incidência de dengue, com 13 situações, segundo o levantamento. Na capital federal, há um caso confirmado de febre chykungunya, apesar de, no documento, não aparecer nenhum nos dados oficiais. A divergência, segundo a Secretaria de Saúde, acontece porque o resultado do exame deste paciente ficou pronto na segunda-feira. O doente teria “importado” a doença de Pernambuco. No relatório, contam dois casos de zika vírus, como o Correio adiantou na última sexta-feira. São duas grávidas, de 29 e 36 anos, moradoras da Asa Norte e de Águas Claras, respectivamente.

Os governos do DF e de Goiás apostam em troca de experiências e em capacitação técnica de agentes para conter o progresso da dengue, da febre chykungunya e do zika vírus, todas transmitidas pelo Aedes aegypti. “Essa é uma preocupação nacional. Não há um estado que não esteja trabalhando no controle do mosquito”, reforçou o secretário de Saúde do DF, Fábio Gondim, ao explicar a parceria entre as cidades. O Executivo local comprará 27 carros fumacê, além de bombas de veneno e larvicida. Técnicos da Vigilância à Saúde analisam novos métodos de controle da praga. Não está descartada a compra, por exemplo, de mosquitos modificados geneticamente, que não permitem o inseto chegar à vida adulta. Atualmente, cerca 500 servidores atuam na prevenção num cenário onde seriam necessários 1,3 mil. O deficit é de 61,5%.

Entorno

O panorama em Santo Antônio do Descoberto pode ser mais devastador. Nos hospitais e nos centros de saúde da cidade goiana, não há reagente para o exame. A cabeleireira Marilene Oliveira Severino, 38 anos, experimentou essa realidade. “Senti um mal-estar. O médico me garantiu que é dengue, mas não consegui fazer o diagnóstico laboratorial”, conta a mulher, que nunca havia contraído a doença. Desde os primeiros sintomas, no sábado, Marilene não vai ao salão onde trabalha. “O prejuízo fica para quem tem a doença”, reclama.

A secretária municipal de Saúde, Wisliane Maximiano do Nascimento, reconhece a epidemia na cidade. “Estamos pedindo ajuda, porque não temos como atuar sozinhos. Está sendo uma batalha perdida para o mosquito”, admite, ao ressaltar que, durante todo o ano passado, houve 314 casos de dengue no município. Desta forma, os 193 registros dos primeiros 12 dias deste ano representam 61% do total de 2015.

O município vizinho conta com três casos de zika vírus — duas gestantes e uma criança de 2 anos. O argumento da prefeitura para o aumento dos casos é a falta de estrutura para o combate ao mosquito. Há apenas 27 agentes de vigilância epidemiológica para toda a localidade de quase 70 mil habitantes e com 9% do território infestado pelo Aedes. “Vamos contratar mais 15 agentes, mas não podemos capacitar. É onde entra a participação de Brasília”, explica Wisliane, ao mostrar um ofício que pede ao GDF auxílio com carros fumacê, tratores, roçadeiras, além do apoio de 30 servidores para atuar na cidade. Contudo, o Executivo local enviou até o momento dois carros fumacê. “Vamos ajudar da maneira que conseguirmos”, pontua o subsecretário de Vigilância à Saúde do DF, Tiago Coelho.

Para o especialista em controle de doenças Pedro Luiz Tauil, o momento é de atenção. “Ainda é muito cedo para se comemorar. Com esse cenário, não conseguimos definir a tendência do ano. A vigilância não pode parar. Temos outras doenças que estão sendo transmitidas pelo mosquito”, explica. Ele analisou os números de Santo Antônio do Descoberto a pedido do Correio. “Se o número se manter nas próximas semanas, pode evidenciar um possível surto. O governo deve ter atenção redobrada com a evolução da doença”, alerta.


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