Apenas nos primeiros 12 dias do ano, a Prefeitura de Santo Antônio do Descoberto notificou 193 casos de dengue. O município goiano, distante 40km de Brasília, entrou em estado de alerta e recorreu à Secretaria de Saúde do DF para combater o mosquito Aedes aegypti, pois a cidade não tem estrutura para conter o avanço do inseto — lá, há apenas 7kg de veneno para todo o ano. Na capital federal, os números do mais recente Boletim Epidemiológico revelam que 31 pessoas contraíram a infecção na primeira semana de 2016 (veja quadro). O índice é 47,46% menor em comparação com o mesmo período do ano passado, com 59. Apesar do indicativo, o temor de um surto obrigou o GDF a investir cerca de R$ 8 milhões.
Brazlândia tem a maior incidência de dengue, com 13 situações, segundo o levantamento. Na capital federal, há um caso confirmado de febre chykungunya, apesar de, no documento, não aparecer nenhum nos dados oficiais. A divergência, segundo a Secretaria de Saúde, acontece porque o resultado do exame deste paciente ficou pronto na segunda-feira. O doente teria “importado” a doença de Pernambuco. No relatório, contam dois casos de zika vírus, como o Correio adiantou na última sexta-feira. São duas grávidas, de 29 e 36 anos, moradoras da Asa Norte e de Águas Claras, respectivamente.
Os governos do DF e de Goiás apostam em troca de experiências e em capacitação técnica de agentes para conter o progresso da dengue, da febre chykungunya e do zika vírus, todas transmitidas pelo Aedes aegypti. “Essa é uma preocupação nacional. Não há um estado que não esteja trabalhando no controle do mosquito”, reforçou o secretário de Saúde do DF, Fábio Gondim, ao explicar a parceria entre as cidades. O Executivo local comprará 27 carros fumacê, além de bombas de veneno e larvicida. Técnicos da Vigilância à Saúde analisam novos métodos de controle da praga. Não está descartada a compra, por exemplo, de mosquitos modificados geneticamente, que não permitem o inseto chegar à vida adulta. Atualmente, cerca 500 servidores atuam na prevenção num cenário onde seriam necessários 1,3 mil. O deficit é de 61,5%.
Entorno
O panorama em Santo Antônio do Descoberto pode ser mais devastador. Nos hospitais e nos centros de saúde da cidade goiana, não há reagente para o exame. A cabeleireira Marilene Oliveira Severino, 38 anos, experimentou essa realidade. “Senti um mal-estar. O médico me garantiu que é dengue, mas não consegui fazer o diagnóstico laboratorial”, conta a mulher, que nunca havia contraído a doença. Desde os primeiros sintomas, no sábado, Marilene não vai ao salão onde trabalha. “O prejuízo fica para quem tem a doença”, reclama.
A secretária municipal de Saúde, Wisliane Maximiano do Nascimento, reconhece a epidemia na cidade. “Estamos pedindo ajuda, porque não temos como atuar sozinhos. Está sendo uma batalha perdida para o mosquito”, admite, ao ressaltar que, durante todo o ano passado, houve 314 casos de dengue no município. Desta forma, os 193 registros dos primeiros 12 dias deste ano representam 61% do total de 2015.
O município vizinho conta com três casos de zika vírus — duas gestantes e uma criança de 2 anos. O argumento da prefeitura para o aumento dos casos é a falta de estrutura para o combate ao mosquito. Há apenas 27 agentes de vigilância epidemiológica para toda a localidade de quase 70 mil habitantes e com 9% do território infestado pelo Aedes. “Vamos contratar mais 15 agentes, mas não podemos capacitar. É onde entra a participação de Brasília”, explica Wisliane, ao mostrar um ofício que pede ao GDF auxílio com carros fumacê, tratores, roçadeiras, além do apoio de 30 servidores para atuar na cidade. Contudo, o Executivo local enviou até o momento dois carros fumacê. “Vamos ajudar da maneira que conseguirmos”, pontua o subsecretário de Vigilância à Saúde do DF, Tiago Coelho.
Para o especialista em controle de doenças Pedro Luiz Tauil, o momento é de atenção. “Ainda é muito cedo para se comemorar. Com esse cenário, não conseguimos definir a tendência do ano. A vigilância não pode parar. Temos outras doenças que estão sendo transmitidas pelo mosquito”, explica. Ele analisou os números de Santo Antônio do Descoberto a pedido do Correio. “Se o número se manter nas próximas semanas, pode evidenciar um possível surto. O governo deve ter atenção redobrada com a evolução da doença”, alerta.
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