Cidades

Moradores do Entorno dificultam combate ao Aedes aegypti

Agentes de vigilância ambiental enfrentam dificuldades para combater o mosquito na região, uma vez que diversos imóveis estão fechados ou os moradores impedem a entrada. Governo goiano pode acionar a Justiça a fim de conseguir o acesso

Otávio Augusto
postado em 20/01/2016 06:00

A professora Rejane Ferreira, de Águas Lindas, teme ter contraído a dengue: suspeita na vizinhança

O Distrito Federal está cercado pelo Aedes aegypti. Goiás é a unidade da Federação com maior incidência do mosquito e de casos prováveis de dengue a cada 100 mil habitantes, com 1.979 notificações. No ano passado, 92.429 pessoas tiveram a infecção e cinco morreram. O cenário pessimista coloca em risco a capital federal. Para piorar, cerca de 19 mil imóveis no Entorno não receberam a inspeção dos agentes de vigilância ambiental por estarem fechados ou os moradores não permitirem a entrada ; desses, 12 mil têm focos. A região registrou 40% de recusa ao monitoramento, o dobro da média do Estado, que é de 20%.


Dos domicílios visitados em Valparaíso de Goiás, a 37km do Plano Piloto, 72,54% estavam fechados. Isso significa que, a cada 100 casas, os agentes fiscalizaram apenas 28 (veja Perigo). No total, 12 municípios próximos a Brasília enfrentam dificuldades em conter o avanço do mosquito. Na semana passada, o município de Santo Antônio do Descoberto, a 40km do Plano Piloto, pediu ajuda da Secretaria de Saúde do DF para combater o Aedes. Cerca de 9% da cidade está infestada e, somente na primeira semana de janeiro, 193 tiveram dengue. O grupo visitou 18.727 casas, mas 6.033 não puderam ser monitoradas.


As autoridades sanitárias estão em alerta. A intenção do Executivo goiano é unificar o combate ao Aedes na capital federal e Entorno. Na semana que vem, os governos devem estabelecer metas para o controle. ;Muitos municípios são cidades dormitório, por isso, estamos trabalhando nos fins de semana. O mais grave é que as pessoas investem em imóveis no Entorno e aguardam a valorização com a casa fechada. Vamos acionar a Justiça para entrar nos domicílios. A reincidência será multada;, explica a superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, Maria Cecília Martins Brito.

Cenário pessimista
Em Águas Lindas (GO), distante 50km de Brasília, a Secretaria Municipal de Saúde informou que, dos 158 casos de suspeita de dengue notificados entre a segunda quinzena de dezembro até agora, 35 estão confirmados. Segundo a pasta, não houve nenhuma morte no período. No ano passado, das 700 suspeitas registradas, nove tiveram diagnóstico da doença, sem registro de óbito. Apesar dos índices, o diretor de Vigilância em Saúde da cidade, Euder Vieira, minimiza os problemas. ;As ações estão sendo executadas de forma efetiva. Quando há imóveis fechados, isso ocorre porque o proprietário trabalha no Distrito Federal;, garante.


Com febre, dores nos olhos, na cabeça, no corpo e nas articulações, a professora Rejane Ferreira, 46 anos, é uma das centenas de pessoas que aguardavam atendimento na manhã de ontem, em uma unidade de saúde de Águas Lindas. Ela teme o diagnóstico de dengue. ;No início, não me preocupei tanto, pois pensei que poderia ser algo passageiro. Com o passar dos dias, piorou. Então, com tantos casos de dengue aqui, resolvi procurar logo o médico;, contou, ao lembrar que, na quadra onde mora, vizinhos também estavam sob a suspeita.


A Secretaria de Saúde de Goiás orienta os prefeitos para que aprovem, em âmbito municipal, decreto semelhante ao de situação de emergência estabelecido no Estado para entrarem nos imóveis e realizarem a ação sanitária. A Justiça local das cidades de Formosa e Valparaíso já determinaram a entrada dos vigilantes ambientais nos imóveis fechados de suas localidades. Ao todo, autoridades de saúde identificaram 8 mil focos do mosquito nas casas visitadas.

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