Otávio Augusto
postado em 30/01/2016 08:08
A falta de teste rápido para dengue também afetou a enfermeira Maria Cristina Natal Santana, 42 anos, vítima da forma hemorrágica da doença. A cunhada do vice-governador Renato Santana não conseguiu fazer o exame por falta de reagente no Hospital Regional de Brazlândia (HRB), segundo o prontuário da paciente. O Correio revelou, na edição de quarta-feira, o deficit nas reservas do insumo, mesmo dia em que a mulher faleceu. Além disso, o estoque da capital federal conta apenas com 600 litros de biolarvicida e 280 litros de inseticida usado nos carros fumacês utilizados no combate ao Aedes aegypti. O montante é o suficiente para apenas dois meses. O Executivo local confirmou a queda nos investimentos nas gerências que cuidam do setor.
A compra mais recente da unidade médica ocorreu com dinheiro do Programa de Descentralização Progressiva de Ações de Saúde (PDPAS), em 18 de dezembro, onde o HRB adquiriu 350 unidades dos testes. Desses, 75 chegaram em 8 de janeiro e os outros 225 restantes apenas na terça-feira, segundo informações da direção da unidade. Somente exames de sangue e urina ocorreram naquele hospital. A família garante que não sabia da falha no atendimento.
Interlocutores do Executivo local contaram à reportagem que houve confusão para a divulgação da causa da morte de Maria Cristina. Os casos de dengue hemorrágica são contabilizados como ;dengue grave; pela Secretaria de Saúde. Contudo, nem todas as notificações desse tipo são de dengue hemorrágica. ;Não vou me omitir nem ser irresponsável em não apontar a verdade e correr o risco de colaborar para outros casos como esse;, completou o vice-governador Renato Santana.
A Secretaria de Saúde rebateu, em nota. ;A paciente realizou, na rede pública de saúde, um teste rápido para dengue, no Centro de Saúde n; 1 de Brazlândia, cujo diagnóstico deu positivo. Toda a assistência necessária foi prestada.; Isso teria ocorrido na segunda-feira. A unidade citada fica a 5km do HRB. Entretanto, a pasta dizia justamente o contrário na quinta-feira. ;Todos os hospitais regionais contam com os testes rápidos para dengue. Eles são disponibilizados nos pronto-socorros, não nos centros de saúde;, informou a pasta, via e-mail, na quinta-feira. ;Um processo de aquisição está em fase de finalização e outro já foi iniciado para que não haja descontinuidade da oferta do insumo;, cravou na nova versão.
Por dia, o Executivo local identifica 19 novos casos de dengue na cidade. Até 25 de janeiro, houve 487 contaminações na capital federal, segundo o mais recente Boletim Epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde. O desempenho coincide com a queda nos investimentos nas gerências de controle ambiental, vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, que, entre outras tarefas, fazem o controle do Aedes aegypti. Entre 2014 e o ano passado, a aplicação no setor caiu 57,1%. Saiu de R$ 10.997.841,04 para R$ 4.718.028,95 (Veja quadro).
Combate enfraquecido
O diretor do Fundo da Saúde do DF, Ricardo Cardoso Santos, admite a baixa nas cifras. Contudo, explica que os programas de combate não ficaram parados, apenas tiveram desaceração. ;O foco em 2015 foi o abastecimento da rede. Os processos da vigilância (epidemiológica) não tiveram a mesma velocidade;, explica o contador. Os repasses para o setor vêm do Ministério da Saúde e só podem ser aplicados na destinação específica. ;O TCU (Tribunal de Contas da União) está apurando o remanejamento de R$ 89 milhões na saúde. Desses, R$ 1.004.076 são do controle epidemiológico;, detalhou Santos.
Este ano, o Executivo local aplicou no setor R$ 1.611.273. Há ainda R$ 12.723,452,04 em ações que estão em execução, como a compra de carros fumacês, armadilhas e venenos. Na tabela divulgada por Ricardo, não constam testes rápidos para dengue.
Segundo o gestor do dinheiro da saúde, o orçamento prevê R$ 4.880.00 para ;ações integradas; de vigilância em saúde. Questionado sobre há dinheiro para a compra de teste rápido para dengue, Ricardo garantiu a existência de receitas para isso. ;Temos dinheiro para comprar, não vão faltar recursos para ações de vigilância. Inicialmente, compramos os testes pelo PDPAS, enquanto o processo emergencial e regular tramitarem.;
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique