Clientes e funcionários estão revoltados com o fechamento inesperado de uma loja de móveis do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Somados, os prejuízos gerados a cerca de 50 clientes e 30 empregados da Lucittá Ambientes podem chegar a R$ 700 mil, de acordo com cálculos de quem tinha acesso aos contratos. Um único aviso foi deixado na quarta-feira, na porta do estabelecimento. ;É com imensa dor no coração e com um sentimento enorme de tristeza que viemos, através deste, informar que a fábrica Kajá Móveis Ltda. está suspendendo temporariamente suas atividades. Tal decisão é necessária frente à incerteza do mercado e também a problemas financeiros junto a clientes e fornecedores;, informava a nota.
Inconformados com o calote, pelo menos 10 clientes registraram ocorrência na Delegacia do Consumidor (Decon) até o fim da tarde de ontem. Um deles é o comerciante André Luiz Ferreira, 41 anos, que ficou com um prejuízo de R$ 35 mil, pagos integralmente ao longo de 2015 por produtos comprados em abril. A entrega estava prevista para outubro, mas acabou postergada três vezes. ;Na mesma noite, fiz a denúncia. Ainda estou em estado de choque, não sei o que fazer. Estou morando no meio de caixas, porque comprei para mobiliar o apartamento inteiro. Agora, não tenho como adquirir novos móveis e não sei se algum dia vou receber alguma coisa deles;, queixa-se. Um dos maiores prejudicados, que preferiu não se identificar, perdeu ainda mais dinheiro: R$ 40 mil, também repassados integralmente à empresa no ano passado.
No total, aproximadamente 30 pessoas ficaram sem mobiliário, enquanto 20 receberam as compras parcialmente ou com defeitos, segundo estimativa dos empregados. Pelo menos 15 vítimas do golpe estiveram na porta da loja na tarde de ontem. Alguns mais revoltados ameaçavam quebrar os vidros e levar os produtos como forma de minimizar os prejuízos.
Sem conseguir se comunicar com os responsáveis pela Lucittá Ambientes, o bancário Eberte Viard Neto, 35, recorreu à Kajá Móveis, no Rio Grande do Sul, para conseguir informações sobre a compra de R$ 26,5 mil, feita no ano passado. Ao ligar para a fábrica, ele soube que o nome dele não constava no banco de dados, apesar de ter pago R$ 14 mil à vista e encomendado móveis para dois quartos, banheiro, sala e cozinha.
Segundo os empregados, Eberte não foi o único lesado. A fabricante nem sequer havia sido informada sobre alguns contratos de móveis feitos nos últimos meses pela loja do SIA. Os produtos teriam sido vendidos como se fossem itens de decoração ; cortinas e tapetes ; em vez de mobília, para que a loja não precisasse fazer os repasses de 40% do valor por móvel à fabricante, condição necessária para iniciar a produção.
Justiça
Felipe Azevedo, um dos ex-gerentes da Lucittá, afirma que a empresa estava com problemas financeiros desde a metade do ano passado. Demitido em setembro, por causa de um corte de gastos, Felipe levou prejuízo de R$ 13 mil em verbas rescisórias. ;O meu foi pouco. Teve muita gente que trabalhou por anos lá e não recebeu absolutamente nada;, denuncia.
O funcionário William Souza, 31, estava revoltado com a falta de pagamento quando foi trabalhar, na quarta-feira, e se deparou com o aviso na porta. ;O dono já tinha dito que não pagaria o 13; nem nada, só o nosso seguro e o FGTS. Depositaram só R$ 500, sendo que o meu salário é de R$ 1.160.; O último pagamento, segundo ele, foi feito em dezembro.
Apesar dos problemas financeiros, a loja continuou a fechar contratos e a fazer orçamentos até terça-feira. Desde então, os proprietários não atendem aos telefonemas e não se explicaram para clientes ou funcionários. ;Sem dúvida, também vamos entrar na Justiça;, explicou William, em nome dos empregados.
Procurados pelo Correio, os responsáveis pela Lucittá Ambientes e pela Kajá Móveis não foram encontrados. Ao longo da tarde de ontem, foram feitas dezenas de ligações para todos os telefones disponíveis para contato nos sites das empresas, além dos celulares pessoais dos responsáveis pela Lucittá Ambientes, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
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