Cidades

Brasilienses fazem ajustes em roupas para economizar

Em tempos de dificuldade financeira, reparar os produtos com defeito em vez de encarar a inflação para comprar novos tem sido uma boa opção. Ferro de passar e chuveiro estão na lista

Especial para o Correio
postado em 17/02/2016 06:00
Bastou um pico de energia elétrica na casa da pedagoga Laura Albuquerque, 57 anos, durante o período de chuva, para que o computador amanhecesse sem funcionar. Liga, desliga, reseta. Nada de resposta;. Nos cinco anos de existência, não foi a primeira vez que a máquina jogou a toalha. Em outra época, o problema poderia ser uma deixa para trocar o PC com defeito por um modelo mais moderno. Nas atuais circunstâncias, no entanto, a opção sequer foi cogitada. A solução foi chamar um técnico e trocar a peça danificada. ;Ficou como novo e saiu mais barato;, diz a pedagoga.



Esse tipo de dilema não surge só na casa de Laura. Consertar produtos se tornou hábito corriqueiro nos lares brasilienses. Especialista em consumo das famílias, o economista Roberto Piscitelli, da Universidade de Brasília (UnB), explica que esse movimento está relacionado à crise econômica. ;Com a queda da renda média do trabalhador, as pessoas estão com menos certeza sobre o futuro; por isso, procuram gastar menos e preservar;, explica.

Em tempos de contenção de despesas, a ordem é reciclar, reaproveitar e valorizar os pertences. Funcionária de uma loja especializada em eletrônicos na Asa Norte, Elaine Xavier se surpreendeu com o aumento de 80% na procura por consertos desde a metade do ano passado. ;Não tem um dia em que não venha um cliente pedir para olharmos algum produto;, comenta. A televisão, segundo ela, é o item que mais aparece no balcão.

Embora o preço do reparo dependa do valor das peças e do custo da mão de obra, Elaine garante que, em 70% dos casos, sai mais em conta arrumar do que comprar um eletrônico novo. Até produtos que estavam esquecidos ou usados como decoração voltaram à rotina. ;Esses dias, tivemos clientes que trouxeram o toca-discos e outros itens antigos que eles tinham em casa, para tentarem reutilizar;, revela a vendedora.

No mesmo sentido, a aposta na sobrevida de ferros de passar e chuveiros cresce a cada mês. Em uma loja especializada em hidráulica, na Asa Sul, a alta foi de 30%, entre junho e janeiro ; porcentagem semelhante observada na queda das vendas. Nos últimos seis meses, até 15 clientes são atendidos por dia na área de reparos, número que não chegava a oito no primeiro semestre de 2015. ;Sempre chega gente falando que conseguiu um preço mais em conta em outro estabelecimento, pedindo para a gente cobrir;, observa a vendedora Daiane Alves.

Muitas vezes, o estabelecimento acaba optando por superar as ofertas dos concorrentes. Quem se arrisca a pechinchar consegue até 7% de alívio no preço, a depender do valor da compra. ;As pessoas estão pedindo desconto até em parafuso;, conta Jamile Santos, outra vendedora do local que percebeu uma mudança nos hábitos. A demanda pelo conserto de ferros de passar, tratados como descartáveis pelas últimas gerações, também está em alta. Enquanto um modelo básico e novo sai por R$ 95, o reparo de um similar fica na faixa de R$ 35, caso o problema seja no fio, o mais recorrente. Para arrumar um chuveiro de preço inicial cotado em R$ 189, a loja cobra R$ 70. ;Antes, essa diferença era considerada irrisória por muita gente, mas, hoje em dia, tem valido a pena;, afirma a vendedora Daiane.

Roupas e sapatos

Vestir-se também ficou mais caro com a recessão, o que não é uma notícia ruim para todos. Foi graças a ela que uma sapataria da Asa Sul, especializada no conserto de tênis, conquistou pelo menos 20 novos clientes apenas em janeiro. ;Desfazer-se do tênis quando ele rasgava era prática muito comum. Agora, as pessoas estão acordando para o custo-benefício de mantê-lo;, ressalta a gerente, Jeane Barbosa.

Quando optam por reparar calçados, malas e mochilas em vez de adquirir um produto novo, os clientes não pagam mais do que 10% do valor. Os preços das reformas variam de R$ 15 a R$ 90, para trocar certos tipos de solados. ;De qualquer forma, é bem mais barato do que um sapato novo, de boa qualidade;, garante Jeane.

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