Cidades

Farmácias do DF lucram alto com o Aedes aegypti

Setor, que amargou prejuízo no ano passado, registra aumento de 200% nas vendas de repelente em apenas um mês. Em algumas cidades, o item está em falta

postado em 19/02/2016 06:05


A venda de repelentes tem ajudado as farmácias de Brasília a equilibrar o caixa. O setor, que amargava prejuízo desde o ano passado, registrou crescimento nas vendas devido à procura do cosmético ; uma alternativa para evitar a picada do mosquito Aedes aegypti, transmissor de dengue, zika vírus e chicungunha. A alta demanda também resultou em aumento nos preços. A reportagem visitou diversas regiões administrativas, onde encontrou sachês com a solução custando até R$ 128. Ainda assim, falta o produto no Sudoeste, em Taguatinga e em Brazlândia, local com o maior número de contaminações no DF. De acordo com Sindicato dos Farmacêuticos de Brasília (Sindifar-DF), o consumo de repelentes aumentou 200% em um mês.

Em uma pequena loja de Taguatinga cujo foco é a venda de frascos que custam entre R$ 13 e R$ 40, o faturamento subiu aproximadamente 15% de janeiro para fevereiro. Segundo o proprietário, Hugo Gonçalves, 55 anos, o segredo é ganhar na quantidade. ;A mãe de família vem aqui e compra a unidade mais popular. O remédio tem efeito curto, o que cria a necessidade de outro investimento em um curto espaço de tempo;, justificou. O estabelecimento, localizado em frente a um bar, sempre teve produtos para o fígado e para ressaca entre os mais vendidos. O protetor contra picada de mosquito passou a ser quase três vezes mais lucrativo.

Frequentemente, a dona de casa Marilene Aparecida Malheiros, 47, separa parte do orçamento e vai ao comércio de Hugo em busca do produto. ;Moramos eu, mamãe e as minhas duas irmãs. Somos mulheres de meia-idade e cuidamos de uma idosa. Não podemos sequer correr o risco de adoecer. Temos casos recentes de dengue na família. É muito sofrimento;, contou. Ainda não há remédio que previna as doenças, que em casos mais graves podem levar à morte. A alternativa é tentar evitar, portanto, a picada do Aedes.

Na farmácia de Hélvia Brandão, 43, no Sudoeste, a procura pelo repelente também disparou. Ela nunca vendeu tanto em tão pouco tempo. ;Procurei a representante de uma marca cuja promessa é estender a proteção do corpo por 10 horas. Encomendei vários frascos, e acabou rapidinho. Então, fiz outro pedido. Está saindo muito;, contou. A loja oferece, pelo menos, seis diferentes marcas de produtos ; uma novidade instituída em dezembro, quando as doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti começaram a proliferar em Brasília. ;Tem pra todo mundo. Mas, nessa região, as pessoas querem o top de linha.; A dificuldade em encontrar essas remessas, segundo ela, causou aumento de custo e, por isso, impediu que a margem de lucro ficasse maior.

Em falta

O aumento nos pedidos surpreendeu até o Sindifar. A estimativa é de que as vendas de repelente tenham quadruplicado em um mês. ;Comerciantes aumentaram a aquisição, o preço subiu e, mesmo assim, o estoque dura pouco. Muita gente liga aqui procurando ajuda para comprar o produto, mas nós não temos controle;, contou o porta-voz do sindicato, Rafael Fernandes. De acordo com ele, o aumento no lucro se deve à ;oportunidade bem aproveitada pelo setor;. ;Nós não costumávamos vender isso. Normalmente, se encontrava repelente em loja de pesca ou de esporte;, explicou.

Clientes amedrontados pelas doenças e dispostos a evitar complicações de saúde são os maiores consumidores de repelente em Brazlândia. Na filial de uma grande rede, não sobrou nenhum rótulo. ;Nosso estoque está 20% maior e, mesmo assim, não damos conta. O produto acabou ontem e outro pedido já havia sido feito, mas o fabricante atrasou porque não está dando conta da demanda;, disse o gerente Denisson Barbosa, 31 anos. Um remédio que saía por R$ 64 chegou a custar R$ 128 ; e acabou. ;Mesmo assim o povo quer;, acrescentou.

Enquanto a reportagem estava no local, o artesão Cristiano Vieira, 35, tentava encontrar escovas de dente e sachês de repelente ; mas sem sucesso. ;A minha mulher comprou alguns, porque temos dois filhos pequenos, mas eu aproveitei que viria aqui para pegar outros. A situação em Brazlândia está difícil.;

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