A BR-070 ostenta o primeiro lugar entre as rodovias federais com mais assaltos a ônibus no Distrito Federal. Segundo levantamento da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), bandidos roubaram o caixa e os passageiros de pelo menos 38 coletivos, alguns deles interestaduais, durante o ano passado. Das ocorrências, 16 foram no trecho dentro do Distrito Federal e as outras 22 no trajeto goiano, que começa nos limites da capital, passa por Águas Lindas e vai até Cocalzinho de Goiás, município a 110km de Brasília. Criminosos embarcam nos veículos e os interceptam em zonas rurais entre os municípios, principalmente. O Correio percorreu 10 paradas às margens da BR-070, entre o DF e cidades do Entorno e encontrou diversas histórias de insegurança.
Em cada um dos pontos, passageiros e rodoviários abordados pela reportagem falaram sobre os frequentes assaltos. O motorista Marcelo de Moraes, 36 anos, ao ouvir relatos de colegas que também dirigem no trecho, chega à conclusão de que ;todos os dias tem ao menos um assalto na região;. ;Eu mesmo já fui assaltado três vezes. Difícil é encontrar algum ônibus que ainda não tenha sido;, revela. Segundo ele, os criminosos costumam agir à noite, na altura do Setor Morada da Serra, próximo à comunidade Girassol, distrito de Cocalzinho. ;É uma das últimas paradas, quando os ônibus estão mais vazios, com poucos passageiros e dinheiro no caixa. Eles (os assaltantes) entram e anunciam o roubo. Algumas vezes, eles já vêm no ônibus, como se fossem passageiros;, detalha.
Quem depende de percorrer o trecho para ganhar a vida aprendeu a conviver com o risco de assalto. Isso é o que garante o aposentado Gustavo Fraga, 59, que passa cerca de três horas em um coletivo, diariamente, para vir para o DF e, no fim do dia, voltar para casa. Na ausência da polícia, ele conta com a fé para se proteger. ;Vou sempre para Ceilândia e a única coisa que posso fazer é chamar por Deus. Não há o mínimo de segurança nesta estrada. Estamos abandonados;, denuncia. Passageiros e rodoviários são unânimes ao dizer que um dos principais motivos para a frequência dos assaltos na BR-070 é falta de policiamento ostensivo ; no caso, responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal.
Alguns passageiros chegam ao ponto de reservar dinheiro para reduzir os prejuízos que sofrem com os assaltos. É o caso da vendedora Crisley Dias, 22 anos. Ela conta que já perdeu celular e quantias grandes em assaltos e, depois disso, passou a deixar separado o dinheiro dos assaltantes e um aparelho de celular fora de uso para despistá-los. ;Eu deixo sempre uma nota de R$ 10 ou R$ 20 na bolsa, além de um celular velho. Se me abordarem novamente, eu darei o celular danificado e o dinheiro pouco para os bandidos;, explica.
Operações esporádicas
Responsável pela comunicação da PRF, Diego Brandão garante que os policiais trafegam pela rodovia. A corporação tem um posto ainda não inaugurado, mas já em funcionamento próximo a Águas Lindas. Questionado sobre a frequência dos assaltos, no entanto, ele não quis comentar o levantamento da ANTT. Disse apenas que a PRF tem um levantamento próprio com base nas ocorrências feitas no posto. ;Não temos como discorrer sobre os números da agência, mas trabalhamos com equipes de plantão em Águas Lindas diariamente. Fazemos operações esporádicas, com base nos dados criminalísticos que nós temos, além do patrulhamento ostensivo ordinário;, garante.
Segundo Brandão, enquanto a corporação enfrenta a questão do policiamento nacional, o criminoso usa as facilidades de conhecer bem a situação regional. ;O bandido aborda veículos nas vicinais, anuncia assalto e desce em matagais e áreas descobertas. Precisamos de nos integrar com outras polícias para mapear os pontos específicos e fazer o policiamento com maior efetividade;, concluiu.
O prefeito de Cocalzinho, Alair Gonçalves Ribeiro, no entanto, reforça o coro da população sobre a falta de policiamento na rodovia. Ele conta que já pediu apoio do governo de Goiás para mudar a situação, mas ainda não obteve resposta. ;Nossa cidade é a mais prejudicada. Pedimos segurança ao estado e ao comandante de Águas Lindas, mas não houve muito efeito. O que falta é efetivo policial. Dependemos do DF e do Goiás para nos vigiar. Estamos em uma região distante, e os ônibus percorrem grandes áreas desabitadas antes de chegarem até aqui. É quando eles (os criminosos) limpam os passageiros e cobradores;, explica.
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