postado em 20/02/2016 08:00
O avanço do Aedes aegypti desafia a atuação do governo para debelar a epidemia. Ontem, a crise se tornou política. Após denúncia do borracheiro Elder Fernandes dias, 30 anos, que de ação realizada no último sábado, em Brazlândia, teria sido ;maquiada;, o Executivo local abriu investigação. O vice Renato Santana (PSD) e equipe compareceram ao evento, uma vez que o titular estava de férias. Essa é a segunda vez que o mosquito divide o governo (leia Memória). Enquanto isso, a Secretaria de Saúde montou novo hospital de campanha em São Sebastião.
A borracharia, no Setor Tradicional, funciona de maneira improvisada. Elder conta que, antes da visita do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e do vice-governador, agentes ambientais perguntaram se ele tinha pneus para jogar fora, pois uma equipe recolheria. O comerciante amontoou cerca de 20 itens no quintal, que estava limpo. Militares fizeram o combate no local e reclamaram do ;desleixo; ; sem saber que o cenário havia sido montado. ;Depois desse dia, não consegui trabalhar mais. Toda hora alguém vem aqui falar disso;, ressaltou por telefone, ao explicar que na comunidade os vizinhos passaram a criticar a ;irresponsabilidade;. A família contratou um advogado para cuidar da situação. ;Isso está virando uma bola de neve. A partir de agora, é ele (o advogado) quem vai cuidar desse problema. Não queremos mais falar sobre isso. Fomos envolvidos (na ação de combate à dengue) sem nem saber;, desabafou a esposa de Elder, que preferiu não se identificar.
Marli Moraes Santiago, 52, e Omaiza Bernardes, 38, acompanharam a iniciativa. As vizinhas de Elder também perceberam falhas. ;Não passaram em todas as casas. Distribuíram panfletos, mas não vistoriaram os domicílios;, conta Marli. ;Isso tem que ser rotineiro. Aqui (no Setor Tradicional) tem muitas casas fechadas e é comum vermos lixo e entulho pelos lotes;, criticou a dona de casa Omaiza. A dengue não dá trégua e em apenas uma semana aumentou 80,3% ; são 2.161 casos. Brazlândia, São Sebastião, Ceilândia e Planaltina são as cidades que apresentam maior número contaminações, respondendo por 1.049 casos ; 55% das ocorrências.
Desarranjo
Renato Santana garante que não houve alteração do governo no cenário e acredita que não tenha ocorrido contato prévio. ;Quando terminamos o evento, fizemos as visitas. Havia um entulho na esquina. Fomos até lá orientá-lo, ninguém deu ;esporro;. Quem falou com ele (borracheiro) fui eu. Disse que guardar pneu descartado é expor a família aos riscos da dengue. Eu e o ministro Tombini pegamos alguns e jogamos no caminhão. Não foi nada combinado;, rebateu o número dois do Buriti. ;Se eu passar lá e tiver pneu de novo, vou falar a mesma coisa. Isso não é maquiar;, assegura Santana.
O planejamento do Dia Nacional de Mobilização contra o Mosquito Aedes aegypti, iniciativa do governo federal, ficou sob a responsabilidade dos governos locais. A equipe do cerimonial ligada a Rollemberg organizou toda a pauta. No evento, a primeira casa escolhida para ser visitada era de um servidor aposentado do Banco Central. O fato teria desagradado Tombini, conhecido por ser austero. Outro domicílio passou pela inspeção. Segundo a vice-governadoria, a borracharia não estava no roteiro da programação inicial. ;A primeira cobrança foi realizar o evento na praça da administração, área que é o ;Lago Sul; de Brazlândia, e não em locais mais carentes. Os números de recolhimento de lixo, de casos de dengue e de focos coincidem com a situação que encontramos. Isso é maquiar?;, argumenta Renato. O Palácio do Planalto e o Banco Central não comentaram o caso.
Combate
Ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, e o governador, Rodrigo Rollemberg, estiveram em um colégio na Asa Sul para conversar com alunos sobre o combate ao Aedes aegypti. Além disso, Castro conheceu as pesquisas desenvolvidas na Universidade de Brasília (Leia mais na página 22). O ministro do Planejamento, Valdir Simão, também participou da ação em Samambaia. A Mobilização Nacional da Educação Zika Zero ocorreu em 115 cidades. Rollemberg cobrou mais ações de controle ao mosquito. ;Tivemos um aumento de 216% de dengue até a última semana. Isso exige de nós um compromisso maior. Brasília, no ano passado, foi uma das três unidades da Federação que conseguiram reduzir os casos;, ponderou Rollemberg. À tarde, o chefe do Buriti pediu para apurar se há o envolvimento de servidores no caso de Brazlândia.
A matéria completa está disponível aqui,para assinantes. Para assinar, clique