Enquanto quatro dos 10 presos que fugiram da Penitenciária I do Distrito Federal (PDF I) continuam soltos, o sistema sofre com problemas estruturais, disputas políticas e brigas institucionais. O diretor do presídio, delegado Mauro Cézar Lima, acusou a Polícia Militar de não manter homens nas guaritas externas do Complexo Penitenciário da Papuda e atacou a própria corporação, a Polícia Civil, ao alegar que não recebeu apoio na captura dos homens. Nos bastidores, criou-se um fogo cruzado entre as forças de segurança e a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe), ligada à Secretaria de Justiça e Cidadania.
Diante da troca de farpas, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) tentou acalmar os ânimos: saiu em defesa da PM e disse que é preciso investigar o que realmente ocorreu antes de apontar os responsáveis. A Sesipe abriu processo apuratório para saber as circunstâncias da fuga e informou que ;estão sendo estudadas medidas para reforçar a segurança nas unidades prisionais, como melhoria do sistema de segurança com câmeras de vídeos, vigilância externa a colaboração dos órgãos de segurança pública;.
O diretor Mauro Cézar vê as polícias Militar e Civil contra ele. O delegado enfatizou a falta de homens nas guaritas externas do presídio, também apontada pelo secretário de Justiça e Cidadania, João Carlos Souto. Segundo Mauro, 90% das torres estão desabilitadas, informação desmentida pelo chefe do Centro de Comunicação Social da PM, coronel Antonio Carlos de Santana. Com a Polícia Civil, o delegado foi além. Em um áudio, reclamou que não recebeu apoio da corporação para o resgate dos fugitivos, declaração também contestada. O próprio subsecretário do Sistema Penitenciário, João Carlos Lóssio, disse que helicópteros do Departamento de Operações Especiais (DOE) e da Divisão de Operações Aéreas (DOA) auxiliaram nas buscas. Lóssio reforçou ter conversado com o delegado do Departamento de Atividades Especiais (Depate).
Desabafo
Na gravação que circulou pelas redes sociais, Mauro Cézar disse que ;não teve um policial civil ajudando;. Ele ainda declarou que ;tentou falar com o corregedor e com o diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba, para deslocar helicópteros e ;nenhum colega apoiou;. E concluiu: ;Deixo registrada a minha indignação com essa instituição, que precisa repensar suas atitudes e seu profissionalismo. Fico muito triste, indignado e respondo por todos e quaisquer atos que venha falar ou proferir.;
Seba reagiu. Ele lamentou a postura de Mauro Cézar, avaliou como ;oportunista; e garantiu que a Polícia Civil estava disponível. ;Em contato com o Marcelo Fernandes (delegado do Depate), fui informado de que DOE e DOA estiveram à disposição da Sesipe. Quanto aos demais integrantes da cúpula, todos se encontravam alcançáveis, inclusive o corregedor, como mencionado.;
Entre os integrantes da segurança, suspeita-se de que o objetivo da gravação de Mauro Cézar tenha sido atingir Seba por questões políticas. Homem forte dentro da corporação de origem, o diretor da PDF I foi chefe do Departamento de Polícia Especializada, exerceu função de confiança no governo Agnelo Queiroz (PT) e assumiu a presidência do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil. Na política, aliou-se a Joaquim Roriz e ao atual deputado federal Laerte Bessa. Chegou a se candidatar a distrital. Na penitenciária, colocou como chefes pessoas que o apoiaram na última campanha.
Em entrevista ao Correio, Mauro Cézar informou que não vai entrar em polêmica e reclamou que pessoas querem desviar o foco. ;A minha preocupação é recuperar os quatro presos que ainda não foram localizados. Queria o helicóptero da Polícia Civil no Lago Sul e mais agentes para recapturar os foragidos;, alegou.
Sobre ter montado uma equipe com perfil político para comandar a PDF I, o delegado garantiu ter escolhido os nomes por profissionalismo. ;Escolhi os melhores. Nosso presídio é o que mais recebe traficantes;, explicou. ;Qual crime cometi por ter me candidatado às eleições? Na polícia e no sistema penitenciário, eu escolhi os mais honrados e sérios. Obviamente, existem pessoas com que se faz um relacionamento mais estreito;, ressaltou.
Esforço conjunto
Em nota conjunta, a Secretaria de Justiça e Cidadania e a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) dizem estudar ;formas de trabalho conjunto com os demais órgãos de segurança para aumentar a segurança externa no Complexo Penitenciário da Papuda;. O subsecretário do sistema, João Carlos Lóssio, garantiu que investigações preliminares não demonstraram atuação de nenhum servidor em favor da fuga.
Segundo o chefe do Centro de Comunicação Social da PM, tenente-coronel Antonio Carlos de Santana, os militares ocupavam somente cinco das 10 guaritas externas do presídio por falta de manutenção. ;Mas fazemos policiamento com viaturas da corporação e percorremos todo o campo de visão;, garantiu. Ontem, por ordem do comandante-geral da PM, Coronel Marcos Nunes, o policiamento ao redor da PDF1 e nas torres será reforçado. Sobre a fuga na madrugada de domingo, Santana esclareceu que a corporação foi acionada quase cinco horas depois do fato. ;Assim que houve a convocação, os militares saíram imediatamente para as ruas.;
Apoio
A Divisão de Comunicação da Polícia Civil (Divicom) informou que a aeronave da DOA sobrevoou para dar apoio à captura dos presos, inclusive com um agente penitenciário a bordo, e prestou assistência à Sesipe até a 0h30 de ontem. Quatro equipes da DOE também apoiaram as diligências. Ainda segundo a corporação, a 30; DP (São Sebastião) solicitou perícia com prioridade.
A Polícia Civil ressaltou que equipes da 10; DP (Lago Sul) foram imediatamente encaminhadas para o local da ocorrência na região, onde agentes penitenciários tinham recapturados os foragidos. Além disso, a Divicom confirmou que a Divisão de Inteligência Policial (Dipo) ;adotou todas as medidas para subsidiar as ações operacionais;. Em nota, o Sindicato dos Agentes de Atividades Penitenciárias (Sindpen-DF) disse que ;há muito tempo, vem alertando o GDF sobre situação preocupante por que passa o sistema penitenciário da capital;. De acordo com a entidade, ;a fórmula superlotação, baixo efetivo e falta de condições de trabalho teve como resultado duas fugas no mês de fevereiro, situação que somente agora começa a preocupar autoridades e a população em geral;.
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