Luiz Calcagno
postado em 25/02/2016 07:30
A arquitetura, a história e a cultura de Brasília foram os destaques do carnaval na cidade ontem. Tanto na Asa Norte quanto na área externa do Museu Nacional, foliões dançaram ao som de ritmos diversos, alguns deles pouco ortodoxos para a data, como o jazz. Na Praça dos Prazeres, na 201 Norte, o bloco Rejunta Meu Bulcão usou as tradicionais imagens de azulejo do multiartista Athos Bulcão para celebrar os símbolos da cidade. A Polícia Militar contabilizou cerca de 2 mil pessoas, que curtiram a festa ao som de música nordestina. No Eixo Monumental, o Bloco Libre! contou com quase 500 participantes, com apresentações teatrais e circenses.
O Rejunta Meu Bulcão contou com apresentações da orquestra Alada Trovão da mata, de percussão, do Asé Dúdú, com axé, e do Ventoinha de Canudos, de pífaros. Os ritmos podem até ser tradicionais nordestinos, mas, nascidas em Brasília, as amigas Tauanna Oliveira, 28 anos, e Bruna Mateus, 27, destacam que eles não são menos candangos por isso. Amigas há 15 anos, já pularam diversos carnavais. ;Estamos construindo um carnaval cada vez mais brasiliense. Nos apropriando de uma cultura que era nossa, pela diversidade da cidade, mas com identidade própria;, explicou Tauanna.
[SAIBAMAIS]O bloco vai às ruas pelo terceiro ano seguido. Idealizadora do grupo, a poeta Marina Mara explica que não dá pra homenagear a cidade sem homenagear a diversidade. ;Esse bloco nasceu para dizer um ;eu te amo; para Brasília, essa cidade que a gente ama tanto;, declarou-se.
Ocupação
No centro da capital, o Museu Nacional serviu de palco para passar a mensagem do Bloco Libre, que aproveitou a festa de Momo para discutir a ocupação dos espaços públicos da cidade. Além do samba embalado por baterias e do samba raiz, o jazz deu charme à festa, bem como as apresentações circenses. Essa foi a quarta vez que o grupo desfilou por Brasília discutindo o direito da cidade, cultura e diversidade.
A estudante de ciências sociais Alice Vieira, 21, compareceu ao bloco por causa dos ideais propostos. ;O museu é um espaço icônico de Brasília. É justamente um espaço que deveria ser mais ocupado pela população. As pessoas deveriam aproveitar as áreas públicas da cidade o ano inteiro, e não apenas no carnaval;, disse. Ao lado dela, a amiga Carolina Capita, 21 anos, estudante de publicidade, concorda e destaca que, nesse período do ano, é possível observar melhor o uso da cidade. ;Vemos isso muito no carnaval, com os bloquinhos em vários lugares de Brasília. Sou a favor da ocupação com o uso da arte e da música também;, comentou.
Vindo de São Paulo, o advogado Pedro Castro, 28, aproveitou a passagem a trabalho pela capital para curtir o Bloco Libre! Ele viajará para a Chapada dos Veadeiros hoje, mas não quis perder o dia de folia em Brasília. ;Em uma cidade que foi planejada, mas infelizmente nem tanto para o pedestre, é importante repassar essa ideia de ocupação. Brasília tem muitas áreas livres e a população tem que usar mesmo;, argumentou. O artista plástico Chico Teixeira, 37, também foi curtir a folia na área externa do museu. ;Já participo de um projeto de ocupação no Conic. Considero importante o uso dos espaços públicos para trazer a arte e cultura para a população.;