Amanda Carvalho - Especial para o Correio
postado em 27/02/2016 08:00
Eles moravam em Águas Claras, andavam em carros de luxo, bem-vestidos e acompanhados dos filhos e das mulheres. Ofereciam produtos de grife na porta de escolas, tribunais, órgãos públicos, grandes shoppings, todos localizados em áreas nobres de Brasília. Apresentavam-se como imigrantes portugueses e tentavam vender roupas, acessórios e objetos de casa com a suposta vantagem de preços abaixo do mercado. No entanto, tudo não passava de uma farsa. A única informação verdadeira era a nacionalidade. Pelo menos 11 estrangeiros foram presos ontem durante a Operação Ilusionista, da Polícia Civil.
São mais de 30 vítimas no DF. A polícia ainda não tem ideia do valor total do golpe, mas o lucro da quadrilha era de cerca de 90% em cima de cada venda, pois todos os produtos falsificados vinham da Rua 25 de Março, em São Paulo, e eram revendidos como se fossem importados. Um dos motivos de a ação ter sido batizada de Ilusionista está no jeito articulado do grupo. ;Eles são praticamente atores. Para convencer as vítimas a comprarem os produtos, passavam um produto químico nas jaquetas que as protegia do fogo. Na hora da venda, acendiam o isqueiro e mostravam que o material não queimava, deixando acreditar que era couro legítimo;, explicou o titular da Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, à Ordem Tributária e a Fraudes (Corf), delegado Jefferson Lisboa.
[SAIBAMAIS]
No depoimento, os presos alegaram desconhecer que a atividade era considerada crime. No entanto, para o delegado, o discurso também é mentiroso. ;Eles são grandes artistas, fazem que não sabem de nada, não admitem o erro e dizem que em momento algum disseram que os produtos eram verdadeiros. Temos mais de 30 denúncias desse golpe só no DF e a certeza de que esse número aumentará;, explicou Jefferson.
As mulheres também são suspeitas de estelionatárias, apesar de negarem participação nas fraudes. As máquinas de cartão de crédito e os aluguéis de vários carros estavam no nome delas. Segundo a investigação, os acusados se mostravam como casal e levavam os filhos pequenos para aparentar uma família normal. Todos os criminosos foram levados para o Departamento de Polícia Especializada (DPE).
Repercussão
O golpe aplicado em Brasília já era relatado nas redes sociais. Há semanas, pais e mães alertavam sobre um homem que rondava a cidade na tentativa de se aproximar das pessoas. Segundo a polícia, os crimes eram cometidos desde o ano passado, mas há depoimentos de pessoas abordadas há mais tempo. É o caso da servidora pública Michelle Lobo, 33 anos. Ela estava com o marido e a filha mais velha em um posto de gasolina do Sudoeste. ;Era um homem loiro, português mesmo, não estava fingindo, e estava com uma criança, filho dele, de uns 9 anos. Tinha caneta da Montblanc, terno Hugo Boss, faqueiro de ouro. Ele ficou uns 40 minutos tentando nos convencer a ir à nossa casa, mas percebemos que era um golpe;, contou.
Segundo Michele, se ela e o marido não estivessem atentos, poderiam facilmente ter caído na farsa. ;Os produtos eram muito parecidos com os originais, e os preços, altos. O faqueiro, por exemplo, ele ofereceu por R$ 5 mil; o terno por uns R$ 2 mil, ou seja, preços de produtos originais, claro, abaixo do mercado no Brasil, mas quase o mesmo valor de quem traz de fora mesmo. E não tinha muito para desconfiar dele. Ainda mais com uma criança;, disse.
A fraude não é novidade em outras unidades da Federação. Dezenas de pessoas foram detidas por aplicar o chamado golpe do português, em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Segundo Jefferson Lisboa, sempre que a polícia prendia algum integrante em um estado, eles se reuniam e se mudavam para outro local. ;Aqui no DF, conseguimos prender todo o grupo;, afirmou o investigador.
O delegado ressaltou, ainda, a importância do registro das ocorrências. ;Muitas vezes, a pessoa compra o produto e fica com vergonha ao descobrir que é falsificado, pois foi enganada. Entretanto, com a denúncia, garantimos que eles fiquem mais tempo detidos por causa do crime;, explicou.
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