Cidades

Brasilienses mostram a realidade da periferia do DF em curtas-metragens

Trata-se do resultado de uma oficina de cinema para adolescentes do ensino médio de escolas públicas da região

Luiz Calcagno
postado em 01/03/2016 06:05

Diana Ricarte, Natália Steck, Graziliense Caetano ,Luidi Sena, Bruna Reis e  Paulo Igor (sentado) vão estrear no Festival Internacional de Filmes Curtíssimos no Brasil

A realidade da periferia brasiliense na visão dos jovens desses locais, as inseguranças e os medos provocados pela autodescoberta, as escolhas da vida por caminhos tortuosos e muito trabalho duro. Essa é a receita para os três curtas-metragens que abrirão o Festival Internacional de Filmes Curtíssimos no Brasil, no Cine Brasília, entre 8 e 11 de junho. Trata-se do resultado de uma oficina de cinema para adolescentes do ensino médio de escolas públicas da região. Eles assinam os curtas Peixe, Peter e Crespo.

O primeiro conta a história de um homem que deve dinheiro para um traficante; o segundo, leva o nome do urso de pelúcia do protagonista, um adolescente que não conseguiu se desapegar do brinquedo; e o último mostra uma jovem negra que, em busca da própria identidade, decide que não vai mais alisar o cabelo e enfrenta o preconceito dos amigos. O que cada um dos participantes viveu acabou brotando em forma de ideia e trabalho durante a oficina, que aconteceu entre maio e setembro do ano passado.

Estudante do Centro Educacional Gisno, Paulo Igor Freitas, 19 anos, dirigiu o filme Crespo. A oficina não foi sua primeira experiência com cinema, embora tenha sido, ;de longe, a mais importante;. Ele usou o celular para filmar alguns projetos pessoais. ;Eu sempre amei cinema, desde criança. Tentei fazer filme por conta própria, mas não deu muito certo. Crespo surgiu da ideia da roteirista, Grasiela Caetano. Ela passou pela mesma experiência da personagem. Acho que conseguimos passar uma mensagem. Estou pensando em fazer faculdade de comunicação para seguir nesse ramo;, conta.

Paulo perdeu a inscrição para a oficina de cinema, mas acabou entrando convidado por um amigo. A oportunidade de aprender cinema é descrita ele como ;um desafio grande;, com um resultado que vale a pena. A equipe levou três dias para gravar o curta de cerca de 4 minutos, depois de dois meses de reuniões e planejamento. Para ele, o recado do filme é o mais importante: a pessoa deve gostar de si como é, e os outros devem aceitá-la. Quero que muita gente assista e absorva a ideia. Isso vai ser o mais gratificante;, completa.

Se a história da personagem central saiu da vivência da roteirista, as roupas, os acessórios e as maquiagens nasceram da vivência de Natalia Steck, 18, que, durante as gravações, cursava os últimos meses do 3; ano no Centro Educacional Asa Norte. Ela pensou em episódios de bullying que presenciou ainda no ensino fundamental. ;A primeira imagem que veio à minha cabeça foi a de bolsas e mochilas. As meninas mais infantis praticavam bullying e tentavam parecer mais velhas e mais descoladas. Então, escolhi as bolsas e pensei em maquiagens mais fortes para as pessoas que criticam a protagonista;, explica.

Drogas e dívidas

Bruna Reis, 18 anos, também deixou o Gisno em dezembro último, pouco depois de concluir a gravação de Peixe. O título é referência a um tipo refinado de cocaína conhecida como escama de peixe. O curta se passa todo dentro de um carro e conta a história de um homem que deve dinheiro a um traficante. O roteiro foi inspirado nos filmes da estética pulp fiction do diretor americano Quentin Tarantino, e aborda as escolhas difíceis que as pessoas têm que fazer, além das consequências dos caminhos trilhados. ;Acho que é um filme bom para refletir sobre o uso de drogas. Tive a ideia do roteiro e levei para o grupo, e minha função foi dirigir. Eram muitas cabeças juntas e ideias diferentes, mas arendemos uns com os outros;, lembra.

Um dos poucos integrantes da oficina que não cursava o ensino médio durante a oficina, Luidi Sena Santos, 21 anos, foi responsável pela direção de Peter. Também com um protagonista negro, ;para fugir do estereótipo, o curta conta a história de um jovem que não conseguiu se desvencilhar de seu brinquedo de infância e, apesar disso, desperta o interesse de uma menina. ;Nossas referências são cenários de Ceilândia, onde eu e outros integrantes da oficina moramos. As pessoas usam roupas que são comuns na periferia. Quisemos colocar um pouco a nossa realidade no filme;, lembra.

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